Um homem, de 29 anos, atacou e ameaçou policiais e socorristas após precisar de atendimento médico por “surto psicótico”, na Aldeia Jaguapiru, em Dourados, na tarde desta segunda-feira (23).
Segundo informações, uma equipe da Polícia Militar foi acionada para ajudar uma outra equipe, desta vez do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que havia sido chamada pelos familiares do rapaz.
Assim que chegaram ao local, os policiais e socorristas foram repreendidos de forma “hostil” pelo paciente. Mesmo com auxílio das equipes, o homem não se acuou e chegou a se apoderar de um machado, sendo necessário uma intervenção policial no momento.
Ao ser imobilizado, ele foi encaminhado ao Hospital da Vida, onde recebeu atendimentos médicos de urgência. Horas depois, a Polícia recebeu a informação que o paciente veio a óbito, ainda sem causa divulgado.
Fila enorme em CG...
Em novembro deste ano, o Promotor de Justiça Marcos Roberto Dietz ordenou redução da lista de espera, que conta com 3.560 pessoas, por parte da Prefeitura de Campo Grande e do Estado, para o primeiro atendimento psiquiátrico, sob multa diária de R$ 10 mil caso haja descumprimento da solicitação.
Segundo dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) ao Ministério Público Estadual (MPE) em agosto deste ano, dos 3.560 que aguardam atendimento, 2.576 são adultos e 727 pacientes infantis. Além disso, 74 foram classificados como risco amarelo (urgente) - sendo 43 na ala pediátrica; 2.576 com risco verde (pouco urgente) e 880 com risco azul (não urgente).
De acordo com a Ação Pública Civil (ACP), a solicitação mais antiga para atendimento é de 24 de setembro do ano passado, ou seja, há quase 14 meses, o que demonstra que alguns pacientes estão esperando há mais de um ano para poderem ter a primeira consulta psiquiátrica.
Ainda, comparando com anos anteriores, a fila permanece grande na especialidade médica, do qual já chegou a ter 5.746 pessoas (5.280 adultos e 466 infantis) em espera em janeiro deste ano. Confira a lista de espera de 2019 até novembro deste ano:
- 2019 - 5.604 adultos e 735 infantil;
- 2020 - 2.869 e 316;
- 2021 - 2.697 e 286;
- 2023 - 3.317;
- 2024 (13/01) - 5.280 e 466;
- 2024 (17/04) - 2.638 e 50;
- 2024 (24/08) - 2.833 e 727;
Para solucionar o problema, o Promotor pediu ao Estado e à Prefeitura da Capital a apresentação de um plano de ação, com metas e cronograma definidos, para redução das filas. Esse plano tem até 30 dias para ser realizado e apresentado oficialmente ao MPE, além de não poder ultrapassar o prazo máximo de 100 dias de espera para o atendimento, conforme recomendado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Leitos insuficientes
Segundo o Ministério da Saúde, as cidades brasileiras deveriam ter um leito psiquiátrico a cada 23 mil habitantes. Dessa forma, Campo Grande deveria ter 390 leitos psiquiátricos, já que o município, conforme o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 897.936 habitantes.
Porém, apenas 78 leitos são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) da Capital, sendo 12 no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) e 66 no Nosso Lar, índice que cumpre com apenas 20% do necessário.
Entretanto, o número de leitos na Capital já foi maior. Em 2014, o SUS de Campo Grande disponibilizava 172 vagas psiquiátricas, sendo 10 leitos na Santa Casa de Campo Grande, dois no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap) e 160 no Hospital Psiquiátrico Nosso Lar.
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) tem 80 leitos de observação disponibilizados entre as sete unidades de Centros de Atenção Psicossocial em Campo Grande. Porém, esses leitos são utilizados mais para estabilizar o paciente, não estando relacionados na lista de leitos de internação do DataSUS.
Como identificar um surto psicótico
Segundo especialistas, um surto psicótico é caracterizado por alucinações, delírios, ansiedade, agressividade, pensamento ou comportamento desorganizado, além de apresentar um discurso confuso, incoerente e narrando uma história que não existe, alterando pensamento e comportamento.
Ainda, afirmam que qualquer indivíduo pode ter um surto psicótico, seja por diferentes traumas, experiências de vida, questões orgânicas e psíquicas, geralmente causado por doenças psiquiátricas, em especial os transtornos psicóticos, como a esquizofrenia.
Internação
Segundo o Hospital Santa Mônica, durante o surto psicótico, pela alteração mental da pessoa, a família é responsável pelo paciente. Com isso, há três tipos de internação para aqueles que apresentarem o quadro, sendo elas:
- Internação voluntária: o próprio paciente concorda em se internar e se tratar durante o período. Isso acontece em muitos casos de pacientes sem um transtorno psicótico ou uma dependência química, visto que o surto traz uma grande preocupação com a própria saúde, e a pessoa ainda tem um bom insight sobre sua situação;
- Internação involuntária: não demanda uma autorização judicial, mas precisa ser indicada por um médico. Isso pode ser feito a pedido dos familiares ou ser uma decisão da equipe que atendeu o paciente;
- Internação compulsória: ela é feita por um juiz competente para o ato após uma perícia médica ou laudo psiquiátrico que indique a impossibilidade de a pessoa cuidar de si adequadamente ou de tratar as condições que apresenta, como a dependência química.
Além do tipo, a internação precisa ser em um local adequado, onde é preciso ter uma infraestrutura adequada e acolhedora; equipe multiprofissional capacitada e experiente; ambiente calmo, propício para a recuperação emocional; compromisso em aplicar tratamentos baseados em evidências científicas.
*Colaborou Ketlen Gomes