Mesmo após a operação que apreendeu 68 trouxinhas de cocaína e 13 porções de maconha, que prendeu sete pessoas em flagrante e que culminou na morte de um traficante, os moradores da Vila Nhanhá estão descrentes de que as forças policiais vão estancar os problemas vivenciados diariamente por quem vive na região, sobretudo daqueles que moram no quadrilátero entre as ruas do Aquário e Bom Sucesso e as avenidas Ernesto Geisel e das Bandeiras.
Área comum de usuários de drogas, o espaço é considerado a cracolândia de Campo Grande, sendo o principal alvo da Operação Dual, realizada na quinta-feira pela Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar).
Quem vive por lá declarou à reportagem do Correio do Estado que, por maior que seja a boa vontade dos policiais, todas as ações realizadas pelas forças de segurança se tornam paliativas, diante do grande número de usuários de drogas que transitam e usam ilícitos à luz do dia, a poucos metros de crianças e vizinhos.
Morador do bairro há pelo menos 20 anos e atento ao movimento das ruas, um comerciante que preferiu não se identificar disse que tudo que já vem ocorrendo “se repetirá o mais breve possível”, inclusive na noite de sexta-feira.
Questionado sobre a operação, ele afirmou ter ouvido “apenas barulhos”, aproveitando a ocasião para fazer
um convite aos policiais da Capital.
“Não vai mudar nada. Moro aqui há tanto tempo e nunca tive problema com ninguém, apesar de todos os usuários que vivem por aqui. Querem saber se resolveu? Venham aqui à noite”, declarou o comerciante. Além dele, outros moradores declararam que a ação policial ainda não teve resultados práticos.
A Operação Dual contou com o apoio de policiais do Delegacia de Repressão de Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) e das unidades subordinadas ao Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), ao Comando de Policiamento Especializado (CPE) e à Coordenadoria-Geral de Policiamento Aéreo (CGPA), as quais fiscalizam locais considerados críticos.
Em coletiva na manhã desta sexta-feira, o delegado Hoffman D’Ávila Cândido e Sousa, titular da Denar, explicou que esse tipo de operação seguirá por diversos bairros da Capital.
“É uma preocupação do governo do Estado, do secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública e do delegado-geral [da Polícia Civil]. Não deixaremos de focar no tráfico formiguinha”, declarou.
“Às vezes, a gente desarticula uma organização criminosa com uma grande quantidade de entorpecente, mas também temos que nos preocupar com a população e as famílias que têm, às vezes, um celular furtado. Continuaremos realizando operações como essa, inclusive para o cumprimento de mandados de busca e de prisão”, complementou Sousa.
Ao todo, a ação contou com cinco viaturas da Polícia Civil e 25 policiais. A Polícia Militar também participou da operação com 14 viaturas, 18 motos, 61 agentes e um helicóptero.
NÚMEROS
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que as apreensões de drogas em Mato Grosso do Sul registraram um aumento de 30% em 2024.
Entre janeiro e novembro daquele ano, o volume total de entorpecentes interceptados chegou a 525.163,6 kg, ante os 403.540,8 kg recolhidos no mesmo período de 2023.
A Superintendência de Inteligência de Segurança Pública e a Coordenadoria de Fiscalização e Controle, setores vinculados à Sejusp, apontam que o maior volume foi registrado no interior do Estado, com 471.060,6 kg. Já a Capital somou 54.103,0 kg.
Ao todo, foram apreendidos 499.755,4 kg de maconha e 11.623,1 kg de cocaína. A pesquisa revela uma variação de 6% em ocorrências relacionadas ao tráfico, levando em consideração o mesmo comparativo. Em 2024, foram registradas 3.759 ocorrências, contra as 3.558 de 2023.
Morto na operação de sexta, Leonardo Diego Fagundes Lourenço foi baleado – segundo relatos – após tentar atacar os policiais militares com uma faca. Conforme apurado, o fato ocorreu em um ponto
de venda de drogas na Av. Ernesto Geisel.
Saiba
Dados divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) apontam que, em Mato Grosso do Sul, 10 pessoas morreram em confronto com agentes policiais entre os dias 1º e 31 de janeiro. As mortes registradas em confronto policial são classificadas como homicídio decorrente de oposição à intervenção policial.