Conhecido como “Pablo Escobar brasileiro”, Sérgio Roberto de Carvalho, ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, passou esta semana no banco dos réus da Bélgica. Major Carvalho, como também é chamado, é julgado ao lado de outros 30 homens acusados de tráfico de drogas. A audiência foi paralisada na quinta-feira e ainda não tem previsão para ser retomada.
Segundo a imprensa belga, o julgamento começou na segunda-feira, mas mal teve sessão. Isso porque no primeiro dia de audiência o advogado que representa Flor Bressers, um dos chefões do grupo, teria conseguido suspender a Corte por não concordar com uma das provas apresentadas contra seu cliente.
O julgamento foi retomado na quinta-feira, porém, horas depois uma discussão entre um advogado que representa um dos réus e o juiz suspendeu novamente a audiência.
Conforme a imprensa da Bélgica, o juiz Frederik Gheeraert ordenou que o advogado de defesa criminal Louis De Groote fosse retirado do tribunal à força. O jurista teria sido retirado da Corte arrastado, “com força considerável”.
A situação gerou revolta nos outros advogados, que, ainda conforme as publicações belgas, teriam proferido ofensas verbais ao magistrado. “A audiência terminou em completa confusão, com o Juiz Gheeraert adiando o caso ‘para permitir que as coisas se acalmassem’”, diz o Nieuwsblad (que em português seria Diário).
A situação repercutiu até na Ordem dos Advogados da Flandres e na Ordem dos Advogados de Bruxelas, que reagiram com indignação a confusão.
Nesta sexta-feira, segundo a publicação, o advogado de Carvalho, Frédéric Thiebaut, teria entrado com um pedido de impedimento contra o juiz Frederik Gheeraert, por causa da situação de quinta-feira.
O advogado também representa outros réus, mas teria partido do Major Carvalho o pedido para retirar o magistrado deste caso.
Para a imprensa belga, esse é considerado um dos maiores julgamentos por tráfico de drogas da história, tanto pelo fato de envolver 31 réus como também por se tratar de dois dos maiores chefões do tráfico entre Brasil e Europa, segundo a investigação. Chamada por eles de “Dossiê Samba”, a investigação tem tido acompanhamento quase que em tempo real.
TRÁFICO
Segundo a investigação, o grupo tinha dois grandes chefes, o núcleo europeu era comandado por Flor Bressers, já o sul-americano tinha como comandante o Major Carvalho.
Era do ex-PM a função de fazer a droga cruzar a fronteira do Brasil com o Paraguai para ser destinada até a Europa, onde Bressers cuidava da distribuição.
A investigação apurou que Bressers teria ganhado € 230 milhões (R$ 1,437 bilhão na cotação atual) com 10 carregamentos de cocaína, enquanto Sérgio Roberto de Carvalho teria arrecadado cerca de € 200 milhões (R$ 1,250 bilhão na atual cotação).
A investigação teve início em 2020, após a polícia apreender 3,2 toneladas de cocaína no porto holandês de Roterdã, escondidas em um carregamento de minério de manganês proveniente do Brasil.
O carregamento tinha como destino uma empresa de tratamento de água no porto belga de Antuérpia, suspeita de estar sendo usada como fachada pelos traficantes.
Após uma série de prisões na Bélgica, Espanha e Dubai, Flor Bressers foi detido em Zurique, em fevereiro de 2022, e extraditado no outono seguinte para a Bélgica. Já Major Carvalho foi preso na Hungria em 2023, ele estava com um passaporte mexicano falso e era procurado pelas polícias do Brasil e da Europa.
Segundo o The Guardian, os promotores do caso apontam que a apreensão ocorrida em 2020, em Roterdã, teria sido apenas a ponta do iceberg. A rede operada por Carvalho e Bressers é suspeita de ter importado toneladas de cocaína entre 2019 e 2020 para a Europa.
O julgamento ocorre em Bruxelas porque, apesar de o processo ter começado em Bruges, a transferência foi pedida porque as forças de segurança belga temem que os réus pudessem tentar fugir durante a audiência. A sessão ocorre em um tribunal na antiga sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
MAJOR CARVALHO
Conhecido como “Pablo Escobar brasileiro” no Brasil, a Polícia Federal (PF) estima que Major Carvalho tenha movimentado R$ 2,25 bilhões entre os anos de 2018 e 2020, com exportações de 45 toneladas de cocaína à Europa, conforme a PF.
O ex-major ingressou na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul no fim da década de 1980 como comandante do Batalhão Militar de Amambai, área de fronteira do Estado com o Paraguai.
Na década de 1990, Carvalho já estava envolvido com atos ilícitos, como o contrabando de pneus. Anos depois, o ex-major foi pego contrabandeando uísque.
Em 1997, Carvalho já transportava cocaína da Colômbia e da Bolívia até o interior de São Paulo. No mesmo ano, o ex-major foi transferido para a reserva remunerada da Polícia Militar de MS.
No ano seguinte, foi condenado a 15 anos de prisão pelo tráfico de 237 quilos de cocaína.
Após um longo processo e perda de seu posto e patente, sua aposentadoria foi suspensa em 2010. No entanto, em 2016, conseguiu reaver na Justiça o benefício de R$ 9,5 mil mensais.
Após desaparecer de Campo Grande em 2016 e iniciar o processo de logística internacional para o tráfico de drogas, Carvalho foi inserido na lista da Interpol, em 2018.
O megatraficante foi expulso da Polícia Militar de MS em março de 2018.
Em 2019, o narcotraficante foi novamente condenado, desta vez a 15 anos e três meses de prisão, por usar laranjas em empresas de fachada para movimentar R$ 60 milhões.
No Brasil, o Porto de Paranaguá (PR) era o preferido da quadrilha de Carvalho para as remessas de drogas ao Velho Continente.
*SAIBA
Segundo a imprensa belga, há possibilidade de outros advogados que representam os réus também entrarem com pedido de impedimento do juiz, o que pode paralisar por um bom tempo o andamento do julgamento. A decisão sobre o pedido de impedimento pode sair na próxima segunda-feira, mas só depois disso será definido a sua retomada.




