Contrato para pavimetação de 15 km em rodovia em Bonito sofreu reajuste de 72%, superando em três vezes os acréscimos normais, que chegam a 25%
“No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho”. Guardadas as devidas interpretações, o famoso poema de Carlos Drummond de Andrade está sendo utilizado pela Agesul para justificar o reajuste da ordem de 72% no contrato para a pavimentação de um trecho de 15 quilômetros da MS-382, no município de Bonito, nas proximidades da famosa Gruta do Lago Azul.
Em abril de 2022, a empreiteira Via Magna foi contratada por R$ 32.099.413,00 para asfaltar um trecho da rodovia. Agora, conforme publicação do diário oficial do Governo do Estado desta sexta-feira, (17), o valor do contrato recebeu mais um acréscimo, de R$ 18.292.302,46, e passou para R$ 55.161.146,79, o que representa alta de 71,8% em relação ao valor inicial. E, como a obra ainda estão longe de acabar, existe a possibilidade de sofrer novos aumentos.
Normalmente, os valores das licitações podem ser reajustados em até 25%, conforme a legislação relativa às licitações públicas. Porem, para justificar o aumento três vezes maior que esse percentual, a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) informou que “durante a execução foram identificadas condições geológicas não previstas no projeto original, elaborado em 2014, como a presença de rochas que exigiram ajustes técnicos”.
E, além destas pedras, ou rochas, a Agesul informou ainda que “a nova realidade do tráfego na região exigiu atualizações estruturais para garantir a durabilidade e segurança do pavimento”.
Para concluir, a nota da administração estadual faz questão de dizer que “reafirmamos o compromisso com a transparência e a entrega de uma obra de qualidade, indispensável para o desenvolvimento regional. As adequações garantem o pleno atendimento das necessidades atuais e futuras da rodovia”.
O trecho da MS-382 que sofreu o reajuste leva o asfalto, que chegava até a gruta, à região conhecida como Baia das Garças, no entroncamento com a MS-339, a qual não é pavimentada.
Antes disso, em 2020, já haviam sido pavimentados em torno de sete quilômetros desta rodovia, ligando a área urbana de Bonito até o acesso à famosa gruta, um dos importantes pontos turísticos do município.
Com o acréscimo no valor final anunciado nesta sexta-feira, o custo médio do quilômetro asfaltado saltou de R$ 2,1 milhões para a casa dos R$ 3,6 milhões.
E, além de aumentar o valor, a Agesul também ampliou mais uma vez o prazo para conclusão dos trabalhos, desta vez por mais quatro meses. Agora, a empreiteira Via Magna tem até meados de junho de deste ano para concluir os trabalhos.
Em 2022, quando da assinatura do contrato, a prazo então definido era de 300 dias a partir da assinatura da ordem de serviço.
Na época do lançamento da obra, o Governo do Estado explicou que, além beneficiar o escoamento da produção agrícola local, a pavimentação desse trecho da MS-382 facilitará o acesso à região pantaneira, já que a própria rodovia, em seu prolongamento, e a MS-339 levam ao Pantanal, em direção a Porto Murtinho.
O POEMA
Publicado pela primeira vez há quase cem anos, em 1928, o poema "No Meio do Caminho", é um dos mais famosos da literatura brasileira. As pedras, segundo os intérpretes, são uma referência aos obstáculos que Drummond (1902-1987) encontrou na vida. E, até hoje, na maioria dos casos, as pedras no meio do caminho são mencionadas com este mesmo sentido, revelando o alcance de sua obra.
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra