Carlo Acutis será canonizado pelo papa Leão XIV neste domingo, tornando-se o primeiro santo que nasceu na era dos millennials (entre 1981 e 1996), e tudo começou em Campo Grande, antes mesmo do primeiro milagre a ele atribuído. A adoração ao santo da internet começou em 2011, com o padre Marcelo Tenório.
Naquele ano, o sacerdote descobriu a história de Carlo, que na época não era muito conhecido nem mesmo na Itália, e se encontrou com a mãe do “padroeiro da internet”, Antônia Salzano.
Na reunião, Antônia entrega a Tenório um fio de uma camiseta de Carlo, objeto que viria a ser exposto em 2013 pelo padre na Paróquia São Sebastião e tocado pelo menino Matheus Vianna antes mesmo de ser beatificado pelo papa Francisco. Neste momento, começa a história entre o padre e Carlo Acutis até a canonização.
“Ele não era conhecido na Europa, ele não era conhecido em canto nenhum. Começa em Campo Grande, no Brasil. E é interessante que começa no Brasil, no sentido de que os possíveis milagres vão chegando. Então, a gente vai mandando para Roma esses possíveis milagres. Tanto que 99% dos possíveis milagres eram daqui. Por isso o Brasil é tão relevante nessa canonização”, disse o sacerdote ao Correio do Estado.
Sobre as relíquias, Tenório afirma que era fácil conseguir objetos ligados ao jovem, já que Carlo era pouco conhecido. Depois da história do italiano vir à tona, a Igreja Católica começou a impor regras para que relíquias relacionadas a ele fossem expostas e veneradas.
“Então, quando eu conheci a dona Antônia, não havia ninguém que divulgasse o Carlo. Quando a história se tornou mundialmente conhecida, complicou, né? A Igreja coloca normas, porque todo mundo quer uma relíquia, todo mundo quer isso, como é que tem que se colocar, certas normas. Mas, para nós, no início, isso foi tudo muito tranquilo, porque tudo foi feito via família”, contou o padre.
Tenório explica que para se obter uma relíquia de primeiro grau, como o pulôver que foi exposto nesta semana na paróquia, é preciso solicitar e contar com a assinatura do bispo de Assis, na Itália, e ir buscar o objeto em Roma, uma distância de quase 10,3 mil quilômetros e 11 horas e 30 minutos de viagem de avião.
Em conversas com Antônia, o padre revelou que ela já demonstrou vontade de vir ao Brasil, principalmente para visitar Campo Grande e Aparecida. Porém, essa visita especial ainda deve demorar mais alguns anos, principalmente por causa da idade dos irmãos de Carlo.
“Hoje está mais complicado porque ela está sendo assediada pela imprensa, não tem tempo para nada. Mas, se ela vai vir ao Brasil? Pode ser. Anos atrás, ela me disse que ia esperar os meninos [irmãos de Carlo] crescerem. Vamos ver”, destacou.
Neste domingo, o padre diz esperar mais de 3 mil pessoas na Paróquia São Sebastião, para acompanhar a transmissão ao vivo da canonização do jovem. A programação começa às 4h, com transmissão ao vivo da cerimônia direto do Vaticano. As atividades seguem até as 11h30min, encerrando-se com um almoço de confraternização no Clube Estoril, aberto ao público mediante aquisição de convites. O padre diz que toda a história, desde 2011, valeu a pena.
“Valeu tudo a pena, porque eu posso dizer, e sem modéstia nenhuma, que o Brasil foi fundamental nessa canonização. Se não divulgar, as pessoas não sabem que existe, não conhecem a história. E nunca aceitamos receber nada financeiramente. Estamos vendo os frutos. Foi uma beatificação muito rápida e está sendo uma canonização muito rápida”.
“Puxando a sardinha para o nosso Brasil, pode até ser um exagero meu, mas nós somos muito rápidos, nós somos muito afetivos. Os italianos são muito quietos, seguem as normas. Mas, por exemplo, por norma, não poderia ter dado a bênção com a relíquia naquele dia [do milagre do menino Matheus] porque ele ainda não era venerável”, complementou.
MILAGRE
O jovem italiano foi responsável por curar Matheus Lins Vianna, que na época tinha apenas 3 anos de idade e havia sido diagnosticado com uma doença rara no pâncreas.
Em 2013, já muito afetado por ter pâncreas anular – uma condição congênita rara em que uma faixa de tecido pancreático circunda a primeira parte do intestino delgado –, com claros sinais de desnutrição e sem conseguir se alimentar, Matheus foi à Paróquia São Sebastião junto com seu avô Elias Verão Luiz Vianna.
“Vomitava muito, tratava-se como suposta intolerância a lactose, era desnutrido e, após ultrassom, foi diagnosticado o pâncreas anular, que dificultava sua digestão, provocando vômitos diários”, disse Solange Lins Vianna, avó do menino.
Por ser dia 12 de outubro, foi realizada uma missa especial, referente ao Dia de Nossa Senhora Aparecida. Na ocasião, uma relíquia de Carlo Acutis foi exposta pelo padre Marcelo Tenório no espaço religioso. Acatando o pedido do avô, Matheus se aproximou do objeto, tocou-o e fez um pedido: parar de vomitar.
A partir daquele momento, um milagre aconteceu. Matheus chegou em casa e pediu para a mãe fazer uma comida. A mãe cozinhou um prato com arroz e caldo de feijão, com uma banana de sobremesa. E, para a alegria de todos, ele comeu tudo sem vomitar.
Diante deste novo fato, foi realizado um novo ultrassom em Matheus, em que foi constatada a cura da doença. Desde então, a criança nunca mais voltou a apresentar pâncreas anular, seguindo a vida normalmente.
“Se não há mais anomalias no pâncreas nem Matheus apresentou mais os vômitos constantes, não tenho motivos para me preocupar. A vida segue normal. Se adoece, procuro atendimento médico, de acordo com os sintomas que se apresentam. Não temos nenhum temor dessa patologia voltar, mesmo porque já era uma anomalia antes do milagre ocorrer”, explicou Solange.
Hoje com 15 anos, Matheus cursa a oitava série e foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA). Por conta disso, a família realiza acompanhamento terapêutico com o menino. Sua mãe, Luciana Lins Vianna, e o avô morreram no ano passado. Hoje ele é criado pela avó e pelo irmão, Angelo Vianna.
Sobre a canonização de Carlo Acutis, a avó comemora e reafirma ser extremamente grata ao jovem santo.
“Para nós é uma grande satisfação vê-lo canonizado. É gratificante e justo que seja reconhecida a sua santidade. Torna-se exemplo a ser seguido por todos e também nos traz confiança de podermos contar com sua intercessão. Nossa família permanece eternamente grata”, reforçou.
HISTÓRIA
Carlo Acutis nasceu em Londres, na Inglaterra, em 3 de maio de 1991, mas foi criado em Milão, na Itália. Ainda criança, tornou-se católico, com intensa devoção à Virgem Maria. Durante sua vida, demonstrou ser um amante de computadores e, por isso, obteve alto conhecimento em ciência da computação.
Querendo juntar seu amor por tecnologia e pela igreja, Carlo desenvolveu um site em que catalogava milagres e evangelizava, o que lhe rendeu o título de “padroeiro da internet”.
Em 8 de outubro de 2006, o jovem italiano foi diagnosticado com leucemia promielocítica aguda. Carlo morreu quatro dias depois, com apenas 15 anos de idade, no dia em que é comemorado o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
Em 10 de outubro de 2020, o jovem foi beatificado pelo papa Francisco, que o descreveu como alguém que “não se acomodou numa imobilidade confortável, mas colheu as necessidades do seu tempo, porque viu o rosto de Cristo nos mais frágeis”.
SAIBA
Além do milagre em Campo Grande, Carlo Acutis também foi responsável pela cura de uma costarriquenha, em 2022. Segundo o Vatican News, a jovem sofreu um grave acidente de bicicleta e foi curada após sua mãe rezar na tumba de Acutis, na Itália.




