Dados de uma pesquisa inédita feita pela Central Única das Favelas de Campo Grande (Cufa/CG), em parceria com o Instituto Sou da Paz, mostra que na Capital as mulheres que mais sofrem violência doméstica moram em bairros periféricos e com alto nível de famílias em situação de vulnerabilidade social.
No mapeamento feito pelas duas instituições é possível observar que os três feminicídios que registrados no período analisado aconteceram no Jardim Los Angeles, Parque do Lageado e no Coophatrabalho, sendo que nos dois primeiros a maior parte dos moradores vivem em situação de vulnerabilidade social e são atendidos pela Cufa.
Ainda conforme o levantamento, os 26 casos de tentativa de femicídio registrados na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) também aconteceram em bairros periféricos.
Liderando o ranking neste tipo de crime aparece o bairro Nova Lima, onde quatro vítimas registraram boletim de ocorrência no último ano.
Em seguida aparecem os bairros Parque do Lageado, Tijuca e São Conrado, locais em que existem pelo menos dois registros de boletim de ocorrência de tentativa de homicídio de mulheres.
Outros bairros periféricos e com alta taxa de pobreza que aparecem no levantamento por esse mesmo tipo de crime são: Jardim Talismã, Noroeste, Moreninhas III, Canguru, Centro Oeste, Los Angeles, Parque Industrial, Jardim Imá e Dom Antônio Barbosa.
Também figuram no levantamento os bairros Recanto dos Rouxinóis, Vivendas do Parque, Lagoa Dourada, São Conrado, Jardim Petrópolis e Coophatrabalho.
De acordo com a psicóloga da Cufa, Tatiana Samper, é importante lembrar que, de forma geral, o problema da violência doméstica afeta famílias de todas as classes sociais, mas, o mapeamento feito pela organização mostrou que, em Campo Grande, os casos são mais comuns na periferia.
Samper ainda enfatiza que o estudo é importante por mostrar qual o perfil das mulheres que sofrem algum tipo de violência dentro de casa.
“Essa pesquisa nos permite visualizar as mulheres escondidas por trás das estatísticas, dos números, dos fatos narrados nos boletins de ocorrência e de todo um sistema que perpetua a desigualdade, a exclusão e a violência de gênero. Nos possibilita confirmar que em Campo Grande os feminicídios – tentados e consumados – têm perfil e endereço”, destaca.
O estudo destaca, ainda, que dos 26 casos de feminicídio na forma tentada, 15 ocorreram na residência das vítimas; sete em via urbana, dois em motel. Em salão de beleza e na zona rural da Capital foi um caso.
Por sua vez, todos os feminicídios consumados registrados ocorreram nas casas das vítimas.
O estudo foi realizado com base nas informações disponibilizadas pela Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp), com boletins de ocorrência registrados entre janeiro de 2021 e abril de 2022.