Após a morte precoce da menina de dois anos, vítima de maus-tratos por parte da mãe e do padrasto, a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau) informou que abriu uma sindicância para apurar eventual responsabilidade por parte dos profissionais de saúde que atenderam a menina.
O processo interno se dá pelo motivo da menina ter passado por ao menos 30 consultas médicas em unidades de saúde públicas, especialmente no setor de urgência e emergência, sendo um número muito acima da média para uma criança saudável.
Dessa forma, a investigação servirá para apontar se houve negligência dos profissionais, que não notaram a frequência anormal da criança no médico, o que poderia ser um forte indício de maus-tratos.
Além disso, o procedimento também servirá para verificar se os profissionais que a atendiam notaram sinais de maus-tratos e se omitiram diante da suspeita de violência praticada contra a criança.
A pasta ainda informou que neste procedimento interno, que antecipa o processo administrativo disciplinar, serão ouvidas todas as partes envolvidas no caso e será levantado o histórico de atendimento médico da menina.
Caso haja a necessidade de responsabilização de algum profissional que atendeu a criança e foi negligente ao não denunciar os maus-tratos, ele pode ter como consequências ter de responder
A secretaria ainda afirmou que não poderá fornecer mais detalhes das passagens da menina pelo médico, já que apenas o paciente ou o seu responsável podem ter acesso aos documentos.
"O processo é justamente para verificar se houve ou não alguma negligência no atendimento. Assim, além do processo administrativo em si, pode haver encaminhamento ao conselho de classe e afastamento preventivo", pontuou a pasta, lembrando quais são as consequências caso seja comprovada a omissão.
No dia em que a menina veio a óbito, o Correio do Estado conversou com o médico pediatra Alberto Costa, que explicou que não é normal uma criança sem qualquer doença grave ir ao médico tantas vezes em apenas 24 meses.
O médico ainda reforçou que a quantidade de vezes em que a menina passou por consultas médicas já era um sinal de que ela poderia estar passando por algum tipo de violência dentro de casa.
ENTENDA O CASO
Na noite da quinta-feira passada (26) a criança foi levada a Unidade de Pronto Atendimento do Coronel Antonino. Sua mãe, de 25 anos, deu entrada na unidade quando a menina já estava sem vida.
Quando foi levada à Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) para prestar os primeiros esclarecimentos, a mãe da criança confirmou que a agredia "para corrigir seu comportamento". Ela ainda acrescentou que seu namorado, padrasto da criança, também já havia batido nela.
Ainda em seu depoimento, a mulher afirmou que desconfiava de que o marido abusava sexualmente da menina, fato que também está sendo investigado.
O casal teve a prisão preventiva decretada ainda na sexta-feira (27), sendo que a mulher foi transferida para um presídio do interior, mas a cidade não foi divulgada por motivos de segurança.
Ao notar que a menina estava com hematomas e outros sinais de maus-tratos quando a visitava, o pai, que é separado da mãe da menina, registrou boletim de ocorrência por suspeita de que sua filha estava sendo violentada, mas nada foi feito ou investigado.




