A Operação Fruto Envenenado, desencadeada no dia 21 de agosto pela Polícia Federal em Campo Grande, foi um duro revés para a empresária Jaqueline Maria Afonso Amaral, casada com o cantor sertanejo Diego Barros da Silva, da dupla Henrique & Diego.
É que Jaqueline já havia ganho, em primeira instância, ação judicial contra o Google e vários veículos de imprensa, para que retirassem do ar as reportagens que a associavam a seu ex-marido: Júlio César Guedes Moraes, o “Julinho Carambola”, um dos chefões do primeiro escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC), que na hierarquia da organização criminosa está abaixo apenas de nomes como Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola.
Mais recentemente, os advogados de Jaqueline ingressaram com ação de execução contra o Google e mais empresas de comunicação, pedindo que o nome dela fosse “desindexado” do de Julinho Carambola, para evitar qualquer associação entre os dois.
O principal argumento da empresária é que ela não foi condenada em nenhum processo envolvendo o ex-marido e que tal associação, além de prejudicar seu cotidiano, também afetava o relacionamento com o cantor sertanejo, nacionalmente famoso em função da dupla.
Estava tudo indo bem, com a Justiça de Mato Grosso do Sul atendendo aos pedidos de Jaqueline, até que a Polícia Federal, por meio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), desencadeou a Operação Fruto Envenenado.
O envolvimento entre Jaqueline e seu ex-marido, Julinho Carambola (atualmente preso no sistema penitenciário federal), foi o pivô desta operação. A Justiça bloqueou mais de R$ 2,7 milhões de suas contas e apreendeu dois carros de luxo ligados a ela: um na casa onde vive com o sertanejo, em um condomínio na saída para Três Lagoas, em Campo Grande, e outro na residência da mãe da empresária, na Vila Nhanhá, também na capital.
“As investigações apontam que a principal suspeita, ex-companheira de um dos líderes do grupo, teria recebido quase R$ 3 milhões entre 2018 e 2022 para sustentar uma vida de luxo. Para ocultar a origem ilícita dos bens, foram utilizadas contas bancárias e nomes de parentes e amigos próximos”, informou a Polícia Federal na ocasião. “Durante as buscas, foram apreendidos aparelhos celulares, munições e veículos”, acrescentou a PF.
Jaqueline não foi presa, mas agora sabe que é alvo de uma investigação.
Na semana passada, logo após ter sido alvo da operação da PF, a defesa de Jaqueline afirmou que ela “recebeu com surpresa diligência de busca e apreensão na sua residência, sob pretexto de investigação de supostas relações com integrantes de organização criminosa, visto que se separou e se afastou de seu ex-companheiro há vários anos, tendo constituído outro núcleo familiar”.
Segundo a nota, Jaqueline “mantém atividade empresarial lícita e regular, não tendo nada a esconder de autoridades”, e “entregou seu telefone celular, fornecendo senha de acesso, considerando que nada há de ilícito no seu conteúdo”.
Seus defensores concluem: “A defesa técnica, assim que tiver acesso ao processo, poderá esclarecer com mais propriedade as circunstâncias que levaram ao equívoco” de tornar Jaqueline alvo da operação.
Desvinculação
Em março último, o juiz Deni Luiz da la Riva atendeu ao pedido feito por Jaqueline para obrigar o Google a cumprir decisão judicial do ano passado, que determinava a desvinculação, nos serviços de busca, entre Jaqueline e Julinho Carambola. O processo principal tramitou em segredo de Justiça.
O juiz também reconheceu que o Google não havia obedecido por completo à decisão. A defesa da big tech apontou limitações técnicas nesse sentido e afirmou que ela não é provedora de conteúdo, e sim os veículos de comunicação.
Ainda assim, o juiz estabeleceu uma multa de R$ 10 mil ao Google. Ainda não há ação de reparação de danos por parte de Jaqueline.
Passado
As reportagens que continuam no ar lembram o período em que Jaqueline esteve presa, ainda que por pouco tempo, em março de 2003. Na ocasião, o nome dela foi vinculado à execução do juiz-corregedor de Presidente Prudente (SP), Antônio José Machado Dias.
O caso, na época, gerou comoção nacional e foi o primeiro crime da facção, uma das maiores da América do Sul, contra uma autoridade constituída.
Com Jaqueline, havia material de membros do PCC, uma vez que na época ela mantinha um relacionamento com Julinho Carambola.


