Organizado por mulheres, o evento "Cicletada de las niñas" acontecerá neste sábado (8), no Dia Internacional da Mulher no Centro de Campo Grande.
Iniciado no Chile em 2018, o evento tem o objetivo de conscientizar sobre a importância do respeito no trânsito, principalmente com veículos menores, e manifestar pelo fim da violência viária e contra a mulher.
Em Campo Grande, a cicletada acontece desde 2022, organizada pelo coletivo Bici nos Planos junto com o Movimento Massa Crítica.
Em entrevista ao Correio do Estado, a mecânica de bicicletas de 32 anos, Laura Machado, faz um convite a todas as mulheres e meninas a pedalar.
"Temos que mostrar que é preciso tornar o espaço público seguro e acolhedor para nós [mulheres]. Este é um movimento que acontece no Brasil inteiro, e este ano a gente está junto com a Marcha Mundial das Mulheres", conta.
Laura destaca ainda que a escolha pelo dia 8 de março foi proposital para reforçar a luta contra o machismo, assédio e a violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul.
"Nosso estado vem aumentando cada vez mais os números de feminicídio. Nossa taxa de violência contra a mulher aqui é muito alta e cada vez mais nos sentimos inseguras, até para pedalar. Muitas de nós já sofremos assédio, importunação sexual e violência de trânsito, então a gente sente a necessidade de fazer a cicletada para poder unir as mulheres", destaca.
Percurso acessível
Vale destacar que o trajeto completo não passará de dois quilômetros de percurso. Nesse sentido, mesmo quem não está acostumada com trajetos extensos no pedal, é bem-vinda. Conforme a organização, o evento é direcionado para todas as mulheres, cis e trans.
"Queremos unir as mulheres, para tentar criar uma rede de apoio, para nos ajudarmos nem que seja sobre mecânica de bicicleta, contato, ou apoiar para traçar uma rota, ajudar a voltar para casa ou alguma companhia. A gente faz a cicletada nessa demanda também, para dizer que o espaço público precisa ser seguro para nós", complementa a mecânica.
A concentração será às 15h na Esplanada Ferroviária e seguirá até a Praça do Rádio Clube. A partida está marcada para às 16h, após um alongamento realizado por uma professora de yoga no local. Após a chegada, será realizada uma roda de conversa.
"As ruas exatas que vamos pegar, no entanto, nós vamos decidir apenas na hora conforme a necessidade de cada participante", pontuou Laura.

Crianças também podem participar
A psicóloga Heblisa Pinheiro de Mello, de 36 anos, outra organizadora do ato, ressaltou que o evento também é acessível às crianças.
"Nosso foco é no empoderamento de crianças, mães e crianças por meio da bicicleta nas cidades, para fortalecer a visão de futuro com cidades inclusivas, cheias de respeito às infâncias e à vida das mulheres e meninas. Nos pautamos sempre por um trânsito respeitoso com uma sociedade que também combata o machismo, a misoginia e o patriarcado", ressalta.
"A violência no trânsito também afasta milhares de nós das ruas e rouba a liberdade das infâncias de inúmeras crianças que não podem sequer aprender a pedalar para não correrem riscos nas cidades em que a carrocracia já dominou as mentalidades", disse a psicóloga.

Vale destacar que, apesar do evento ser liberado para as crianças, é necessário que ela esteja acostumada a pedalar a distância média de dois quilômetros de percurso.
"É importante que a criança esteja acostumada a pedalar na própria bicicleta, porque é melhor para introduzi-la no 'rolê' e a criança vai aproveitar mais. Se a participanete nunca foi, é melhor ainda, porque para iniciantes que querem pedalar sozinhas na cidade, pedalar em grupo é a melhor opção para começar", destacou Laura Machado.
"Então assim, a gente vai no ritmo da mais lenta, se tiver criança, a gente vai no ritmo da criança. Não será uma competição e nem uma corrida, será um passeio onde daremos os toques de segurança e cuidaremos a rua. Cada uma vai cuidando uma da outra", finalizou Laura.
Instituição vê acolhimento de mulheres vítimas de violência 'explodir' em 2025
Casos como o de Vanessa Ricarte, morta em 12 de fevereiro, mostram que a violência contra a mulher é recorrente apesar dos esforços, com entidades que lidam diretamente com a quebra do ciclo violento, como a Instituição de Apoio, Capacitação, Instrução e Economia Solidária do Povo (Aciesp) sentindo na pele a "explosão" dessas ocorrências.
Conforme balanço divulgado pela presidente da Aciesp, Ceureci Ramos, os atendimentos às vítimas de violência tiveram aumento expressivo neste 2025, na ordem de 60% se comparado com o mesmo período do ano anterior.
A Instituição cita que, atendeu pelo menos 370 mulheres somente em 2024, das quais 40 se mantinha sob os cuidados da Aciesp desde então, com outros 250 acolhimentos registrados até o dia 06 de janeiro de 2025.
Além disso, Ceureci destaca que, após a divulgação dos" problemas de estrutura e atendimento na Casa da Mulher Brasileira", houve um aumento na busca pelos serviços da Aciesp.
"Estamos construindo uma casa que poderá abrigar até 20 famílias, mas contamos com poucos recursos e dependemos de doações para oferecer o suporte que essas mulheres merecem", cita.