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COMPLICAÇÃO

Mulheres que têm direito ao aborto
enfrentam dificuldades no Brasil

Mulheres que têm direito ao aborto
enfrentam dificuldades no Brasil

Profissão Repórter, G1

25/08/2017 - 15h06
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Em casos de estupro, basta a decisão da mulher para que se tenha acesso ao aborto no Brasil. Segundo uma norma técnica do Ministério da Saúde, o hospital não pode exigir nenhuma autorização judicial, boletim de ocorrência ou exame de corpo de delito para realizar o aborto. Além dos casos de estupro, a lei autoriza o aborto quando a mãe corre risco de vida na gestação ou quando está grávida de anencéfalo. Mas a realidade das mulheres que passam por isso é bem diferente.

A jornalista Marcelle Souza, que trabalha com a revista Galileu, fez um estudo sobre o tema: “Fiz um levantamento de dados de estupro e de aborto no Brasil e percebi que o Acre é o estado com maior proporção de estupros do país e quase não fez aborto nos últimos anos”.

Em 2016, foram feitos dois abortos legais entre 443 estupros registrados. No Acre, segundo o Ministério da Saúde, a incidência de estupros é quase cinco vezes maior que a média nacional. Na capital Rio Branco, há três hospitais que fazem atendimento à mulher. Além deles, existem dois lugares que elas podem procurar: o Centro de Referência em Assistência Social e a Delegacia da Mulher.

Na prática, a mulher que precisa desse tipo de assistência não consegue ajuda tão fácil. O Profissão Repórter esteve nesses lugares e, com a ajuda de Marcelle, que usou um microfone escondido, tentou descobrir como é o atendimento. Em todos os lugares houve recusa. No Centro de Referência, por exemplo, foi informado que era necessária uma determinação judicial.

Na Delegacia da Mulher a informação é que é preciso registrar ocorrência, ser ouvida pela delegada e ter uma autorização judicial. A lei garante que não é necessário nem boletim de ocorrência, nem de autorização do juiz. “Eu acho que é necessário para amparar o que ela vai fazer depois. É desconfortável vir na delegacia fazer isso, mas a maioria que eu atendi não se recusou”, defende a delegada Kelcinaia de Mesquita.

No Acre só existe um hospital que faz o aborto em mulheres que têm esse direito: a maternidade Bárbara Heliodora. Em 2016, o hospital atendeu 248 vítimas de violência sexual, 122 estavam grávidas. Apenas duas fizeram aborto. O aborto no Brasil é permitido até 22 semanas de gravidez ou o feto com até 500g. “Talvez o nosso serviço seja muito acanhado, talvez não seja de conhecimento de todas essas mulheres. Tem milhares de mulheres que estão escondidas, que estão sendo vítimas e não estão nem em delegacia, nem em unidades de saúde. O estupro é um problema invisível”, afirma a ginecologista Julia Santos Gargnin.

Segundo a médica, muitas mulheres que querem abortar usam pílulas em casa. No Brasil, isso é difícil, mas muitas atravessam a fronteira com a Bolívia e conseguem facilmente.

Histórias reais
Em Teresina, uma jovem de 20 anos fez um aborto na Maternidade Evangelina Rosa. Ela tem problemas mentais e foi vítima de estupro. A família descobriu a gravidez aos quatro meses. Agora, para protegê-la, a avó tirou a jovem da casa da mãe. “Ela não fala sobre o que aconteceu, porque ela ficou com trauma. O psiquiatra falou que ela tem um trauma psicológico”, relata a mãe.     

Há 13 anos, a Maternidade Evangelina Rosa criou um serviço específico para atender mulheres vítimas de violência sexual. As grávidas que optarem pelo aborto conseguem fazer o procedimento no local. Só em 2017, foram atendidas 274 mulheres vítimas de estupro, 11 estavam grávidas. Desde 2004, foram 4.336 casos. Na lista dos agressores aparecem: namorado, tio, irmão, padrasto, cunhado, vizinho.

Em São Paulo, outra jovem conta sua história: “Tenho 18 anos e uma filha de dois. Eu já estava separada do pai da minha filha e estava saindo pra festas. Eu estava ficando com um carinha e a gente ficou duas vezes e eu engravidei. Eu abortei porque naquele momento eu estava sozinha, só com a minha filha, sem apoio de ninguém, sem um conselho de ninguém. Eu liguei pra duas clínicas e eles falaram que era R$ 8 mil e eu falei: se eu não tenho nem R$ 200, como é que eu vou conseguir R$ 8 mil? O pai da criança não queria, disse que se eu não tirasse, ia tirar eu e ela do mundo. Eu consegui um remédio e fiz o aborto quando eu já estava com cinco meses”.

Ela não se encaixava em nenhuma das condições legais para interromper a gravidez. Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, 500 mil mulheres fizeram aborto ilegal. “Eu levantei e vi que tava escorrendo muito sangue. A gente jogou o feto no lixo. É o que mais dói, como se fosse um nada”, conta emocionada. Depois de passar mal, ela procurou ajuda: “A médica falou que eu estava com um resto de placenta dentro de mim e com uma infecção muito grave no sangue. Mais um pouquinho, eu teria morrido”.

Quatro mulheres morrem por dia no Brasil em consequência de abortos. Tilde Gonçalves é uma assistente social aposentada que trabalhou por 30 anos com saúde da mulher e viu graves complicações provocadas por abortos clandestinos: “As mulheres de classe média alta têm como resolver essa questão sem ficar com sequelas. Elas podem pagar uma clínica muito boa, com médicos em lugares adequados e a mulher pobre não tem essa condição. Então, elas vão procurar pessoas não qualificadas, vão usar métodos cruéis e muitas vezes ficando com sequelas ou morrendo”.

Em Xapuri, a quase 200 km de Rio Branco, Leisa conta sua história. Ela tem 16 anos e é casada há dois: “No meio da minha gravidez, eu descobri que minha filha tinha anencefalia. O doutor falou que tinha que pedir autorização do juiz pra poder tirar. Foi um choque”.

A anencefalia é um dos casos em que a lei brasileira prevê o aborto legal. Os hospitais estão autorizados a fazer o procedimento, mas Leisa só conseguiu a autorização quando estava com oito meses e ela e o marido desistiram do aborto. “Se tivesse abortado antes, teria sido mais fácil”, lamenta.

Em Campinas, no interior de São Paulo, uma associação tenta convencer gestantes a continuar com a gravidez. “De cada 10 mulheres que nos procuram querendo abortar, oito desistem e seguem a gravidez. Dessas oito, uma encaminha para adoção e as outras sete ficam com o filho”, conta Ana Ariel, coordenadora da ONG.

Uma jovem de 22 anos foi acolhida por uma família voluntária, ligada à ONG. Ela foi abusada sexualmente por uma pessoa muito próxima e preferiu se afastar da cidade onde mora. Ela vai dar à luz a criança, mas entregará o bebê para adoção ainda no hospital. “Eu quis denunciar, mas pensei na repercussão que ia acontecer na cidade. Como eu iria sobreviver com uma criança assim? Acabei vindo aqui por desespero mesmo. O primeiro pensamento foi abortar, mas como eu estava com uma gravidez elevada, tive medo e acabei vindo pra cá”, relata.

CAMPO GRANDE

Unidades para crianças como Sophia saem do chão em 2025

Focado em proteger pessoas vulneráveis, vítimas de abusos, Centro de Proteção à Criança e ao Adolescente e Fórum da Mulher estão previstos para o ano que vem

26/12/2024 09h00

No centro da imagem, Sérgio Martins, presidente do TJMS, e Eduardo Riedel, governador de MS

No centro da imagem, Sérgio Martins, presidente do TJMS, e Eduardo Riedel, governador de MS Foto: Bruno Rezende / Divulgação

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O Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente e o Fórum da Mulher, Infância, Adolescência e do Idoso em Campo Grande, projetos criados para atender crianças como Sophia Ocampos, que sofrem violência, devem sair do papel no primeiro semestre de 2025.

Ambos os órgãos receberam da União os terrenos para construção das unidades. O Centro Integrado e o Fórum serão construídos nas áreas desocupadas que ficam atrás e na frente da Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande.

Para o Correio do Estado, o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, explicou como está o andamento dos trâmites das unidades, que vão reforçar a rede de proteção à criança e ao adolescente.

“O Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente terá mil metros quadrados. Essa obra está orçada em mais de R$ 10 milhões e se encontra em fase de atualização de planilha de construção e de detalhes nas alterações de aparelhos”, declarou o secretário.

No local, haverá atendimentos por triagem, apoio psicossocial, registro de ocorrência, exames de corpo de delito, com um aparato interno de um núcleo do Instituto Médico Legal (IML), e encaminhamentos imediatos das vítimas de violência para os órgãos de proteção, quando necessário.

O Centro Integrado tem como objetivo melhorar o atendimento a crianças e adolescentes que sofrem violência em Mato Grosso do Sul, com a implementação de programas e serviços voltados para o público condizentes ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A criação do centro foi um pedido da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems), após uma audiência pública que propunha a construção de uma unidade que pudesse atender casos de violência ou de testemunhas de violência contra crianças. Essa audiência foi realizada semanas após a morte da Sophia Ocampos, de dois anos.

Em processo de ajustes na planilha de construção, não há uma data para início das obras do Centro Integrado, já que a obra que será conduzida pela Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) ainda passará por processo licitatório. Porém, existe uma previsão que as máquinas possam trabalhar no terreno doado no primeiro semestre de 2025, segundo o secretário.

FÓRUM DA INFÂNCIA

A mesma etapa de processo licitatório ainda será realizada no caso do Fórum da Mulher, Infância, Adolescência e do Idoso, que foi destinado para o Poder Judiciário.

Porém, antes de se abrir a licitação, o governo do Estado, por meio da Sejusp, passará via convênio R$ 10 milhões para o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) realizar a construção do local, que terá os mesmos moldes do edifício do Fórum de Maracaju, que está em construção.

O termo de cooperação foi assinado na segunda-feira em cerimônia que contou com a presença de Videira, do presidente do TJMS, desembargador Sérgio Martins, e do governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB). 

Em maio, o desembargador Sérgio Fernandes Martins, presidente do TJMS, assinou junto do superintendente do Patrimônio da União em Mato Grosso do Sul, Tiago Resende Botelho, e do titular da Sejusp, Antônio Carlos Videira, a documentação relativa à doação da área que era da União e será destinada à construção do Fórum da Mulher, da Infância, Adolescência e do Idoso. 

O local será construído em um espaço total de 5.440 metros quadrados e deverá abrigar as varas da violência doméstica e familiar contra a mulher de Campo Grande e serviços judiciais da infância e adolescência.

MELHORIAS NA PROTEÇÃO

A reportagem do Correio do Estado entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande para elencar o que foi feito de melhorias na proteção da criança e do adolescente após a repercussão do caso Sophia, que demonstrou a falta de políticas públicas que garantissem o devido atendimento em casos de violência contra a criança na Capital.

Em resposta, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) informou que “no âmbito da Assistência Social, os investimentos, serviços e atividades são continuados, para o trabalho com a proteção social e a garantia de direitos das crianças e adolescentes dentro da integração de um sistema protetivo e de cuidados, onde todos os atores precisam atender a especificidades da infância”. 

Conforme o informado pela prefeitura, neste ano, a rede de assistência social do município reforçou o atendimento às crianças que sofrem violações de direitos, com a criação do 6º Conselho Tutelar (Anhanduizinho), do 7º Conselho Tutelar (Prosa) e do 8º Conselho Tutelar (Imbirussu).

As unidades contemplam uma média de 360 mil pessoas residentes em um total de 23 bairros, além do Distrito de Anhanduí. Para dar suporte aos Conselhos Tutelares, a SAS implantou o Núcleo de Apoio aos Conselhos Tutelares, que trabalha para agilizar as demandas e realizar a interlocução com os conselheiros tutelares, buscando otimizar as respostas.

Outra ação informada pela prefeitura foi a mudança de prédio da Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Uaica 3 – Feminino) para um imóvel mais amplo no Bairro Amambaí, oferecendo maior privacidade às adolescentes acolhidas.

O prédio também recebeu o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, que utilizava uma sala na sede da SAS e necessitava ampliar o espaço.

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rio negro (MS)

Menino de 10 anos morre atropelado por motorista bêbado na noite de Natal

Menino foi socorrido em estado grave e encaminhado para o posto de saúde, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu

26/12/2024 08h50

Rio Negro, em MS

Rio Negro, em MS DIVULGAÇÃO/Governo de MS

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Criança, de 10 anos, morreu atropelada por um motorista bêbado, na noite desta quarta-feira (25) de Natal, em Rio Negro, município localizado a 151 quilômetros de Campo Grande.

O carro estava cheio de caixas de cerveja e latas vazias. O condutor foi preso em flagrante por embriaguez ao volante e homicídio culposo na direção de veículo automotor.

Conforme apurado pela reportagem, o rapaz estava em uma confraternização de Natal com família e amigos, bebeu várias latas de cerveja e foi embora de carro, dirigindo.

No caminho de volta para a casa, dirigia a uma velocidade aproximada de 60 km/h, quando o menino surgiu na pista, após atravessar um carro estacionado. Ele não teria olhado para os lados antes de atravessar a via.

O motorista relatou que não conseguiu frear a tempo e acabou atropelando o garoto. O menino foi socorrido em estado grave e encaminhado para o posto de saúde, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Populares e curiosos se aglomeraram em volta do acidente. Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Científica e Corpo de Bombeiros Militar compareceram no local para realizar os procedimentos de praxe.

Militares perceberam forte odor etílico exalado do homem. Ele também precisou de atendimento médico, foi levado para o hospital e posteriormente para a delegacia.

O acidente chocou o pequeno município, que tem cinco mil pessoas.

Em 15 de março de 2024, outra criança, de 10 anos, morreu atropelada enquanto conduzia uma bicicleta, no bairro Jardim Veraneio, em Campo Grande. O menino passeava de bicicleta com seu amigo quando foi atingido num cruzamento fechado. 

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