Administração de Trump deve concentrar esforços para combater as drogas não só no México, mas também na América do Sul
A posse de Donald Trump como o 47º presidente da história dos Estados Unidos da América deve também dar uma guinada na política norte-americana de combate ao tráfico de drogas na América Latina.
O reforço no monitoramento de cartéis e organizações criminosas está diretamente ligado à política de combate à imigração e à epidemia de uso de drogas nos EUA.
A medida de Trump certamente deve ter efeitos práticos na América do Sul, sobretudo nas regiões de fronteira do Brasil com países produtores de droga e que também são rotas do tráfico, como Bolívia, Paraguai, Peru e Colômbia.
Mais especificamente em Mato Grosso do Sul, há a expectativa de que a Agência de Combate ao Narcotráfico dos EUA (DEA) volte a ter laços mais fortes com os países que fazem fronteira com o Estado e também com a Polícia Federal.
Ontem, em seu discurso de posse, Donald Trump foi enfático ao dizer que os cartéis de drogas serão designados como organizações terroristas estrangeiras e que também decretará “emergência nacional” para conter o fluxo de imigrantes que vêm do México.
Entre os cartéis que, em um primeiro momento, são alvo das autoridades norte-americanas estão os que abastecem aquele mercado ou os que usam o território dos EUA para lavagem de dinheiro.
Organizações mexicanas como Sinaloa, Jalisco Nueva Generación, Tijuana, Juárez e Los Zetas estão entre as que poderão ser classificadas como terroristas.
Um cartel venezuelano chamado Tren de Aragua também está na mira do novo presidente dos EUA.
CARTEL BRASILEIRO
Do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que domina o tráfico de drogas no País e também no Paraguai e tem uma atuação fortíssima não apenas no consumo interno, mas também no tráfico de drogas para a Europa, poderá vir a ser um alvo secundário da política internacional de Trump.
Investigações do Ministério Público de São Paulo, por exemplo, já detectaram membros do PCC praticando imigração ilegal para os Estados Unidos para lavar dinheiro para a organização e atuar no tráfico de armas de lá para o Brasil.
Em maio de 2024, a Polícia Federal identificou um esquema de envio de cocaína dos países andinos para a América Central a partir do Brasil. Os chefões moravam em um condomínio de luxo em Dourados. Era a Operação Sordidum.
TRÁFICO NO MUNDO
A América do Norte é a maior região consumidora de cocaína do planeta. Conforme relatório do Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC), publicado no fim de 2024, com dados de 2022, havia 6,4 milhões de consumidores de cocaína no subcontinente.
Na Europa Ocidental, há 5,08 milhões de consumidores. Depois vem o subcontinente sul-americano, com 4,85 milhões de consumidores de cocaína.
Após a legalização da maconha na maioria dos estados norte-americanos, os cartéis mexicanos, que antes traficavam principalmente maconha, passaram a ter a cocaína e o fentanil (medicamento que causa alta dependência) como seus principais meios de lucro.
Como o México não produz cocaína, a maioria do entorpecente que chega aos EUA vem dos três países produtores da droga: Colômbia, Peru e Bolívia, que, nesta ordem, são os maiores fabricantes do planeta.
O Brasil, assim como o México, é um país com alto nível de consumo, mas também uma rota para o tráfico.
Há pelo menos dois anos que a UNODC e também a imprensa mundial vêm alertando para a consolidação da hidrovia Paraná-Paraguai como um dos maiores corredores do tráfico do planeta.
Entre os países não produtores de cocaína, o Brasil é o segundo que mais apreende a droga no planeta, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Em 2022, foram 95 toneladas retidas só em território nacional. Também em 2022, segundo a UNODC, os Estados Unidos apreenderam 251 toneladas de cocaína.
A Colômbia, com mais de 700 toneladas apreendidas, lidera a lista. O Brasil, contudo, apreende mais cocaína que o Peru (51 toneladas), a Bolívia (20 toneladas) e o Paraguai (3 toneladas), conforme os dados do relatório.
A América do Sul é responsável por 59% das apreensões do planeta: 1,19 mil toneladas de cocaína.
Assine o Correio do Estado