Segundo testemunhas, o animal ficava sem alimento e amarrado por um fio; casal nega autoria do crime
Réus Christian Campocano Leitheim e Stephanie de Jesus da Silva acusados de matar a menina Sophia em 2022, foram condenados em ação por maus-tratos pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), após morte de um cachorrinho que pertencia à família, oito meses antes da criança morrer.
Batizado como Maylon, à época o corpo do cachorro foi encontrado pela equipe da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (Decat), “defecando sangue, e, os denunciados não buscaram o socorro médico veterinário, além de o deixaram, sem alimento, e, amarrado com fio curto na área de serviço da casa repleta de repleto de fezes”, informa os autos.
O casal que está preso desde janeiro de 2023, negou a autoria do crime, Stephanie utilizou a justificativa de que naquele momento, estava grávida da filha caçula e por isso, não conseguiu socorrer o cãozinho. Já seu esposo, disse que não tinha condições financeiras para levá-lo ao veterinário.
No entanto, além da defesa não apresentar provas suficientes para comprovar a ausência de crime, três testemunhas confirmaram em juízo, ter presenciado as situações citadas acima.
“Deste modo, analisando as provas periciais e testemunhais produzidas evidencia-se que a autoria e a materialidade delitiva restaram sobejamente demonstradas, assim como a natureza dos fatos causados pelos autores. Por fim, verifica-se nos autos a inexistência de causas que excluem a antijuridicidade ou a culpabilidade dos acusados, ou seja, não agiram acobertados por nenhuma causa de justificação, são pessoas maiores de 18 anos e eram, ao tempo da ação, inteiramente capazes de entender o caráter ilícito do fato e de determinarem-se de acordo com esse entendimento”.
Diante dos fatos, os réus foram condenados a 02 (dois) anos de reclusão, multa de 10 dias-multa no valor de R$466, e, proibição de ter guarda de animais. A pena de reclusão será revertida ao valor de R$2,8 mil - equivalente a dois salários mínimos.
Relembre o caso
No dia 26 de janeiro de 2023, Stephanie de Jesus da Silva, de 25 anos, levou a pequena Sophia de Jesus Ocampo para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, em Campo Grande. As enfermeiras que realizaram o primeiro atendimento constataram que a menina já apresentava rigidez cadavérica quando chegou à unidade.
Posteriormente, a perícia constatou que a criança havia morrido 7 horas antes de chegar à UPA. O laudo necroscópico do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) indicou que Sophia morreu por um traumatismo na coluna causado por agressão física. Além das diversas lesões no corpo, a criança apresentava, ainda, sinais de estupro.
Conforme noticiado anteriormente pelo Correio do Estado, mensagens trocadas entre a mãe de Sophia e o padrasto indicam que a dupla já sabia que a menina estava morta.
No diálogo que aconteceu naquele dia, por meio de um aplicativo de mensagens, Christian e Stephanie discutiam o que diriam para justificar o falecimento da criança.
“Eu não tenho condições de cuidar de filhos. [...] Eu te avisei que sua vida ia ficar pior comigo, mas você não acreditou”, disse Christian Leitheim à mãe de Sophia.
Na mesma conversa, o homem ainda ameaça tirar a própria vida após Stephanie o informar que Sophia está morta. As mensagens foram trocadas quando a mãe da menina estava na Unidade de Pronto Atendimento.
“Tô saindo. Não vou levar o celular e nem identidade para, quando me acharem, demorar para reconhecer ainda. Desculpa, Stephanie, vou sair da sua vida”, disse o padrasto em uma das mensagens.
Ainda de acordo com o documento a que o Correio do Estado teve acesso, logo após dar a notícia da morte da criança, Stephanie conta que exames constataram que Sophia tinha sido estuprada. Esse fato foi relatado pela mãe à polícia quando prestou os primeiros esclarecimentos e confirmado por meio de laudo necroscópico.
“Disseram que ela foi estuprada”, disse Stephanie, ao que Christian respondeu: “Nunca. Isso é porque não sabem o que aconteceu com ela e querem culpar alguém. Sei que você não vai acreditar em mim”.
O padrasto completou: “Se você achar que é verdade, pode me mandar preso, pode fazer o que quiser”.
Durante o diálogo, ele ainda deixa a entender que não teria sido a primeira vez que Sophia havia sofrido algum tipo de agressão, já que ele disse para a mãe “inventar qualquer coisa” que justificasse os hematomas.
“Fala que se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez”, sugeriu.
Em dois anos e sete meses de vida, Sophia já havia passado por pelo menos 30 atendimentos nas unidades de saúde.
Julgamento
O juiz Aluízio Pereira dos Santos mudou pela terceira vez a data do julgamento de Stephanie de Jesus da Silva, de 24 anos, e Christian Campoçano Leitheim, de 26 anos, mãe e padrasto de Sophia de Jesus Ocampo, apontados como responsáveis pela morte da menina, em janeiro de 2023.
Agora, os réus do "Caso Sophia" serão julgados nos dias 4 e 5 de dezembro.
Inicialmente, o julgamento estava marcado para os dias 6, 7 e 8 de novembro. Depois, a pedido da promotoria, foi adiado para 21 e 22 de novembro. A defesa de um dos réus pediu que a data fosse alterada novamente, porque não poderia estar presente devido a uma viagem. Por isso, o júri foi remarcado para os dias 27 e 28 de novembro. No início de outubro, após negar o pedido de Stephanie de que o júri fosse feito separadamente, o juiz adiantou a data novamente para os dias 21 e 22 de novembro.
Novamente, a defesa de um dos réus disse que estaria em viagem, e por isso foi feita uma nova alteração na data. Alteração essa que, segundo o juiz, será a última.
Stephanie de Jesus da Silva responde por homicídio doloso e omissão por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e está sendo assistida pela Defensoria Pública.
Christian Campoçano Leitheim foi denunciado pela promotoria de justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel e contra menor de 14 anos, e estupro de vulnerável.
***Colaborou Alanis Netto***
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