O suspeito de matar a facadas a própria esposa, Dayane Xavier da Silva, de 29 anos, na noite da última sexta-feira (22) foi preso em flagrante e encaminhado à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande.
Segundo a delegada que investiga o caso, Rafaela Lobato, o homem optou por ficar em silêncio durante o depoimento, mas os relatos de testemunhas que presenciaram a discussão que antecedeu o crime não deixam dúvidas de que ele tenha sido o autor.
"O autor optou por ficar em silêncio, que é um direito que ele tem, mas acredito também que a materialidade está bem comprovada, não só pela morte em si, mas também porque tem uma testemunha presencial, e alguns outros vizinhos que estavam no local ouviram e relataram que se trata de um casal que discute há muitos anos", afirmou Lobato.
O homem foi preso em um local próximo à residência do casal, com apoio do Grupo de Operações e Investigações (GOI) da Polícia Civil e da Polícia Militar.
Rafaela Lobato acrescentou ainda que existia histórico de agressão entre um casal, denunciado à polícia em um boletim de ocorrência há três anos, que, segundo a delegada, não constava lesão corporal.
"Não existia medida protetiva entre as partes", concluiu.
O caso
Na noite de sexta-feira, o casal havia saído para beber em uma conveniência, e há relatos de que o suspeito teria feito o uso de entorpecentes. Chegando na residência, onde moravam com uma amiga, tiveram uma discussão.
Testemunhas relataram à polícia que o homem teria tocado o órgão genital da vítima sem o consentimento dela, que não gostou e reagiu, o atingindo com um tapa no rosto.
Na sequência, o homem teria dito "mulher que bate em mim morre", ao que a vítima respondeu "você não tem coragem de fazer isso".
Após a resposta, ele teria ido à cozinha, pegado uma faca e esfaqueado a vítima na região interna da coxa, próximo ao órgão genital.
O Corpo de Bombeiros foi acionado, realizou os atendimentos iniciais e encaminhou a vítima para a Santa Casa de Campo Grande, onde ela recebeu atendimento médico por cerca de duas horas. Apesar das tentativas de reanimação, Dayane Xavier da Silva veio a óbito.
Ela deixa três filhos, de um, cinco e oito anos. Agora, as crianças estão sob os cuidados da irmã da vítima.
Terceiro feminicídio em uma semana em MS
Dayane foi a terceira vítima de feminicídio em um período de dois dias em Mato Grosso do Sul.
Na quinta-feira (21), Givanilda de Paula, de 41 anos, foi morta a tiros pelo ex-marido ao chegar em um velório, realizado no bairro Santa Luzia, em Três Lagoas.
No fim da tarde de sexta-feira (22), Renata Andrades de Campos Widal, de 39 anos, foi morta a pedradas e teve o pescoço "cortado" por um serrote. O crime foi cometido pelo próprio irmão da vítima, um homem de 36 anos. Ele foi preso em flagrante e, em depoimento, confessou o crime.
HISTÓRICO
Em 2023, 30 mulheres foram vítimas de femincídio no Estado. O ano anterior, 2022, havia sido o recorde no número de casos desde que a lei foi instituída, em 2015. Foram 44 vítimas registradas no sistema da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp).
Em 2021, o Estado registrou 37 feminicídios. No ano de 2020, 41 mulheres foram mortas por serem mulheres. Em 2019, foram 30 vítimas; e em 2018, 36.
Fonte: Sejusp
Em 2017, o número de vítimas foi de 33 mulheres. No ano de 2016, o Estado computou 36 feminicídios, e em 2015, 18.
DENUNCIE
Sem sair de casa:
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher faz uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento.
O serviço também fornece informações sobre os direitos da mulher, como os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso: Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.
A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher.
O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países.
Registre a denúncia no site da Polícia Civil
Se não puder sair de casa ou usar o telefone, acesse o site www.pc.ms.gov.br, clique no link “B.O. ONLINE – DELEGACIA VIRTUAL” e, no Serviço ao Cidadão, clique em “REGISTRAR DENÚNCIA – Violência contra a mulher”, preencha os campos com as informações solicitadas (você não precisa se identificar). Nesse canal, também é possível fazer denúncia de violência contra criança e de violência contra pessoa idosa.
É possível também fazer a denúncia online na Polícia Civil, por meio de aparelho celular, no aplicativo MS DIGITAL, no ícone Segurança. O aplicativo está disponível nas nas lojas virtuais para versões IOS e Android, o MS Digital foi desenvolvido para reunir o máximo de serviços públicos, ocupando pouco espaço nos aparelhos celulares.
SE PUDER COMPARECER À UMA DELEGACIA, você fará o registro do boletim de ocorrência, narrando os fatos para a autoridade policial e dando início à investigação criminal.
Em Campo Grande, em caso de violência contra meninas (menores de idade) ocorrida no período noturno ou finais de semana, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), localizada na Casa da Mulher Brasileira, faz o atendimento e posterior encaminhamento para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente (DEPCA) .
CASA DA MULHER BRASILEIRA
Casa da Mulher Brasileira instalada em Campo Grande completou 8 anos em 3 de fevereiro de 2023. Inauguarada em 2015, o local é a primeira Casa da Mulher Brasileira criada no país.
Em 8 anos de funcionamento, a instituição acolheu 108.248 mulheres e realizou 917.585 atendimentos, entre encaminhamentos e retornos.
O local oferece acolhimento de mulheres e filhos, triagem, serviço de saúde, hospedagem temporária, apoio psicossocial, delegacia, juizado, Ministério Público, Defensoria Pública, promoção de autonomia econômica, atenção com os filhos da mulher como brinquedoteca, alojamento de passagem e central de transportes.
Órgãos do governo do Estado e prefeitura estão vinculados a Casa da Mulher Brasileira, como Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), Secretaria de Assistência Social (SAS), Centro de Referência da Saúde da Mulher (CEAM), Casa Abrigo, Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), Polícia Militar (PMMS), Polícia Civil (PCMS), entre outros.
De acordo com a subsecretária de políticas para as mulheres de Campo Grande, Carla Stephanini, para baixar índices de feminicídio, é preciso uma consciência social coletiva, de que não podemos conviver em sociedade com a violência doméstica.
"É importante dizer que, ainda assim, nós sabemos que há uma subnotificação da violência doméstica e familiar e da violência contra as mulheres. Os nossos números são expressivos, são superlativos, sim, mas assim como o nosso compromisso de manter o bom funcionamento da Casa da Mulher Brasileira. Dessa forma promovemos a dignidade das nossas mulheres", disse a subsecretária em 3 de fevereiro de 2023.
A Casa da Mulher Brasileira está localizada na rua Brasília, Jardim Imá, em Campo Grande, próxima ao Aeroporto Internacional da Capital.
O local funciona 24 horas, inclusive em finais de semana e feriados. O telefone para contato é o (67) 2020-1300.


