Em busca de 26 alvos, a Operação Bellatrix - exclusiva da Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM) -, teve sucesso em cumprir 14 mandados de prisão de autores de violência doméstica, sendo a maioria pelo descumprimento da chamada medida protetiva.
Números da delegacia especializada apontam que, desde o dia 1º de janeiro deste ano, até este dia 8 de março, 1.036 dessas medidas protetivas foram solicitadas por mulheres no local.
Na manhã de hoje (08), as delegadas Maíra Pacheco Machado e Elaine Cristina Ishiki Benicasa concederam entrevista coletiva, na sede da Deam, para apresentação dos criminosos, além de uma mulher, presa em flagrante na casa de um dos alvos com droga e um simulacro que pertenciam ao convivente.
Titular da Deam, a Delegada Elaine Cristina Ishiki Benicasa exaltou a satisfação em falar desta vez não sobre casos de feminicídio, e sim sobre o êxito na operação exclusiva da delegacia.
Com mais de 20 policiais, as diligências correram por todas as regiões de Campo Grande, sendo que a droga apreendida será encaminhada para a Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), para ser feito o flagrante.
"Foi encontrado balinhas imitando jujuba, mas, na verdade, são entorpecentes sintéticos. Não temos a informação do que é, pois, passará pela perícia, mas que a própria convivente de um dos agressores que fugiu do local, menciona que são propositalmente nessa forma para serem oferecidas às crianças, como também essas balinhas".
Elaine complementa que a própria acusada, que é maior de idade, informou essa situação no local, num primeiro momento, de acordo com policiais que fizeram a apreensão, porém, já na delegacia, frisou que desconhece qualquer informação nesse sentido.
Ainda, no mesmo local foi apreendido um simulacro que, segundo a Dra. Maíra Pacheco Machado, pertencia ao convivente da mulher presa que era o alvo a princípio, mas conseguiu fugir antes da chegada da polícia.
Informações repassadas à polícia pela convivente do alvo afirmam que, esse simulacro era usado para ameaçar a ex que teria pedido a medida protetiva contra esse autor de violência doméstica.
Vale ressaltar que a mulher não era alvo da operação, porém, estava no local quando o autor tinha acabado de sair, sendo deixada pelo namorado como encarregada da droga no momento da chegada dos policiais.
Balanço Bellatrix
Nas palavras da delegada titular, a operação tem por objetivo dar uma resposta para sociedade que sofre com os crimes de violência doméstica e descumprimento de prisão preventiva.
Terceira estrela mais brilhante da constelação de Orion e a 27ª mais brilhante do céu noturno, Elaine destaca a origem da palavra, que vem do latim e significa guerreira, sendo uma homenagem a todas as mulheres, em especial as que tiveram a força para se desvencilhar do ciclo de violência doméstica.
Ela detalha que para essa operação chegar nesse resultado positivo, essas vítimas precisaram primeiro ir até a delegacia, registrar ocorrência e pedir a medida protetiva.
"Nós fizemos nossa parte, que é trazer esses autores para dentro da cela. Eles serão encaminhados diretamente aos presídios. Muito possuem procedimentos em aberto, então serão ouvidos e, em seguida, encaminhados para as prisões preventivas", complementa a delegada titular.
Importante ressaltar que, como os mandados de prisão já constavam em aberto, as prisões começaram ainda na terça-feira (07), com dois alvos capturados inicialmente; outros 11 pegos no início da manhã e um 12º por volta de 10h30, além da mulher presa no lugar do namorado fugitivo.
A própria lei, de certa forma, exige a solicitação de prisão preventiva para todo aquele agressor que descumpre medida protetiva, explica também a Dra. Elaine.
"Estava ali na cela com os autores e disse para eles que é uma medida, e que seja a última, para demonstrar que o sistema funciona. Ela cautela a vítima, traz o temor ao autor, que na maioria das vezes impede que ele reincida novamente", pontua.
Com o total de 15 prisões, a Operação Bellatrix, que iniciou às 05h, segue com diligências em andamento até o cumprimento de todos os mandados e, segundo a titular da Deam, os números contabilizados na ação somarão aos da Operação Átria, deflagrada pelo Governo Federal em todo território nacional.
Acompanhamento de caso
Como revelam as delegadas, há na Casa da Mulher Brasileira os chamados "grupos reflexivos", que convocam os autores para repensarem suas ações criminosas.
"Um dos vieses para fazer o enfrentamento a violência doméstica, com certeza, é a reeducação do autor. Senão, nós não teremos efetividade nos trabalhos. Porque esses autores, se não forem reeducados, correm-se um grande risco de eles voltarem em sociedade, terem novas conviventes e fazerem os mesmos atos", confirma Elaine.
Também Maira afirma que, não somente os grupos, mas as palestras voltadas exclusivamente para o público masculino, tem seu efeito positivo e fazem parte das ações das delegacias especializadas.
"Na próxima semana a doutora Elaine vai ter uma palestra, com outra delegada, que vai ser numa empresa que o público os trabalhadores são maioria do sexo masculino. Essa conscientização e sensibilização para o público ajuda bastante", uma vez que Mato Grosso do Sul possui a maior taxa de feminicídio do país, expõe.
Ainda, vale destacar que, não justamente pelo Dia da Mulher houve uma operação desse tipo, segundo a delegada Maira, que os mandados de prisão e de tornozeleira são cumpridos regularmente na delegacia, as que a Bellatrix se fazia necessária neste mês, assim como foi desencadeada pelo governo a operação nacional que segue até o fim do mês.
Também a delegacia e unidades especializadas das mulheres do interior, como também todas do Brasil, fazem parte - desde 27 de fevereiro - da Operação Átria, vinculada à secretaria nacional. Hoje, especialmente, foram deflagradas várias ações pelo país.
"Nós que trabalhamos na ponta sabemos o medo, a insegurança, mas também cabe a nós dizer que a rede de proteção ela está bastante estruturada, trazendo políticas públicas que, de fato, acautelem a mulher para que ela se encoraje e diga não".
Por fim, ela aponta que a maior e melhor proteção é da própria vítima, que ela consiga, antes de entrar no ciclo de violência doméstica, uma autoanálise se aquela pessoa com quem está se relacionando é alguém válido.
"Que vai respeitá-la, é alguém que já desde o início não está xingando, controlando, se todas nós tivermos esse amor-próprio, teremos a maior prevenção de todas, a 'auto prevenção'", diz
Reforçando o título de "guerreiras", ela conclui que é nítida a dificuldade das mulheres em se desvencilhar de situações de violência doméstica, por dependências, seja econômica ou emocional.
"Elas colocaram o pé delas aqui, ou em qualquer outro órgão, denunciaram a sua situação, muitas vezes vexatória, e foram guerreiras por isso. E agora é o resultado que nós temos aí dos atos delas que compareceram e procuraram ajuda", finaliza.