Infecções vaginais, como a candidíase e a vaginose, se tornam mais frequentes nesta época do ano, que traz o calor característico do verão aliado à altos índices de umidade, que sobem com o período chuvoso, e por isso é preciso estar atento.
A chamada candidíase vulvovaginal é citada entre os principais agentes causadores de corrimentos vaginais e cervicites e, ainda que a maioria das CVV's não sejam complicadas, cerca de 5% das mulheres não conseguem controlar o processo agudo, que leva à uma recorrência da infecção, cita o Ministério da Saúde.
Por sua vez, essa CVV recorrente, é classificada dessa forma após a paciente reportar - no período de um ano - pelo menos quatro vezes o quadro sintomático da doença.
Anualmente o Ministério da Saúde divulga o chamado "Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas", que é voltado para atenção integral às pessoas diagnosticadas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
É ele que lista, além dos tratamentos, os fatores que predispõem à candidíase vulvovaginal - segundo dados do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) -, da Secretaria de Vigilância em Saúde, sendo:
- Gravidez
- Obesidade
- Diabetes mellitus (descompensado)
- Uso de corticoides
- Uso de antibióticos
- Uso de contraceptivos orais
- Uso de imunossupressores ou quimio/radioterapia
- Alterações na resposta imunológica (imunodeficiência)
- Hábitos de higiene e vestuário que aumentem a umidade e o calor local
- Contato com substâncias alergênicas e/ou irritantes (ex.: talcos, perfumes, sabonetes ou desodorantes íntimos)
- Infecção pelo HIV
Importante frisar que a candidíase vulvovaginal é definida como "complicada" quando: há sintomas intensos; frequência recorrente ou presença de alguma comorbidade, como diabetes, HIV ou até mesmo gestação, entre outros.
Riscos à saúde íntima da mulher
Como bem destaca a Dra. Klissia Pires Souza, ginecologista e obstetra da Unimed Campo Grande, não há nada de mal em se refrescar nas praias e piscinas nessa época do ano, mas cita os riscos que correm aquelas mulheres que não se atentam à saúde e higine íntimas.
"O uso de contínuo de maiôs e biquínis molhados aumentam o risco dessas infecções ginecológicas. Também, o uso de roupas sintéticas e escuras que aquecem a região genital, aumentam o suor na virilha e favorecem a proliferação de microorganismos patogênicos", comenta ela, em entrevista ao Correio do Estado.
Ela lembra que até mesmo o uso recente de antibióticos e corticoides também podem favorecer essas infecções e, entre os fatores que a chamada disbiose (desequilíbrio da flora de proteção vaginal), a dra. lista: o estresse, tabagismo, pós-menopausa, gravidez, sexo sem proteção e dieta desbalanceada.
Sendo que o Natal e a virada para o próximo ano são tradicionalmente marcados pela comilança desenfreada, a ginecologista lembra que o cuidado deve vir desde a hora de montar o prato.
"Os exageros comuns no fim de ano podem favorecer as infecções ginecológicas, especialmente as dietas ricas em carboidratos, como doces, pães e massas, e também o abuso das bebidas alcoólicas e o consumo de frutas cítricas", afirma.
Vale lembrar que a região vaginal possui a própria proteção, feita por uma série de bactérias que equilibram o pH, lactobacílos esses que podem ser destruídos até mesmo pelas temperaturas mais elevadas do verão (que dura de 21 de dezembro até 20 de março de 2023).
Atenção aos sinais e sintomas
Importante frisar que, uma vez instalada a infecção, é ideal buscar tratamento específico, feito através de medicamentos orais ou até mesmo cremes vaginais.
No geral, as mulheres precisam estar atentas, sendo o corrimento um dos primeiros sinais, que pode apresentar as seguintes características.
- Consistência pastosa ou grumosa,
- Coloração amarelo-esverdeada,
- Odor desagradável,
- Ardência e irritação local,
- Coceira,
- Desconforto nas relações sexuais e
- Dor vulvar ao urinar.
Ginecologista e obstetra, Francisco Mota cita a candidíase como a principal patologia do verão, responsável por vários desses sintomas, como coceira intensa, vermelhidão e corrimento.
Professor e coordenador adjunto do curso de Medicina da Unex, em Feira de Santana, Francisco comenta que até mesmo a escolha do sabonete íntimo é importante.
"O pH ácido deve ser abaixo de 7, respeitando as propriedades naturais de defesa da região. A ducha também não deve ser usada pois ela destrói as bactérias protetoras do local. O sabonete íntimo deve ser utilizado para lavar a vulva, na região externa da vagina. Optar também por um sabonete neutro”, esclarece.
Medidas e o que fazer
Diante desse cenário, a Dra. Klissia Pires lista uma série de medidas que podem ser tomadas para se proteger dessas infecções, que vão desde a opção por roupas leves e arejadas, preferencialmente à base de algodão, evitando tecidos sintéticos que abafem a região genital".
"Dormir sem calcinha, evitar o uso de protetores diários, cuidar da higiene íntima com mais frequência nessa época, utilizando sabonetes específicos para região íntima (preferencialmente hipoalergênicos e suaves na cor e odor) e não realizar duchas no canal vaginal, pois como dizemos com frequência, a vagina é “auto-limpante”, comenta a Dra.
Por fim, ela recorda medidas dietéticas que ajudam a proteger as mulheres, dessas indesejáveis infecções vulvovaginais, sendo que cuidar da alimentação e da higiene íntima são os principais pontos.
"Cuidar da hidratação, tomando em média 2 litros de água por dia. Está liberado e é desejável o consumo de cereais integrais, alho, legumes, vegetais frescos, cranberry e iogurtes naturais (kefir). Consumir pequenas quantidades de nozes, avelãs ou amêndoas", finaliza.