Cidades

ENTREVISTA

"Temos 30 focos identificados, que geraram manchas de grande proporção em MS e MT"

Superintendente falou sobre a atuação da Polícia Federal nas investigações sobre os incêndios florestais que começaram mais cedo no Pantanal este ano

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O combate aos incêndios florestais no Pantanal de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso começou mais cedo neste ano, porque a temporada do fogo teve início em junho, com grandes áreas atingidos. 

Por causa dos recordes para o período, o combate aos incêndios envolveu recursos do governo do Estado e da União. A atuação tem sido feita tanto no cessar do fogo, como na investigação para responsabilizar quem iniciou as chamas.

Neste ponto, a Polícia Federal tem comandado um gabinete de crise, que opera da sede da Marinha do Brasil, em Ladário, e investiga, com a ajuda de satélites, a origem dos incêndios florestais no bioma.
O entrevistado desta semana, o superintentende da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul, Carlos Henrique Cotta D´Ângelo, falou sobre a atuação da corporação na região e sobre seu tempo à frente da reginal de MS desde abril deste ano.Confira: 

 
O senhor assumiu a Superintendência da PF este ano, como tem sido o desafio?

Muitos perguntaram quais seriam as nossas prioridades, e nós dissemos que não nos é dado escolher serviço, nós temos que atuar em todas essas áreas das atribuições da Polícia Federal, mas que cada região mantém a sua peculiaridade. E aqui, por óbvio, o que salta aos olhos é a questão da fronteira. Aí nós vamos falar do tráfico de drogas, contrabando e descaminho, que também é muito forte. O trato com a população estrangeira, que é uma obrigação nossa também.

Então, na parte administrativa, não na parte investigativa, nós temos essa questão com a população estrangeira. Temos que cuidar deles.

A questão do Pantanal já saltava aos olhos, a questão do meio ambiente, em que pese termos aqui também fragmentos de Mata Atlântica, tendo a grande importância do Cerrado, um dos biomas mais devastados do Brasil.

Então não vai atuar na corrupção? Não vai atuar nas fraudes bancárias? Não se trata disso, se trata de reconhecer o pendão de cada região. Se você estiver no Nordeste, por exemplo, você não vai ter a questão fronteiriça como uma prioridade. O contrabando e descaminho é de menos importância lá. Merece atenção? Merece, mas tu chega lá é varejo, aqui é o atacado.

E no tráfico de drogas aqui também é a mesma coisa. Então, nós temos que atender a tudo.
Mas não temos como negar que o pendão do Estado está para essa questão da fronteira, a fronteira em si está longe de significar um problema, ela pode significar muita oportunidade, e aqui a questão da [rota] bioceânica é uma dessas oportunidades que se vê com o grande desenvolvimento do Estado, então não é que a fronteira seja um problema, a fronteira é um ponto de atenção, ela pode ser um problema ou uma oportunidade a depender do gestor, como é que ele leva isso, então nós não temos esse foco em alguma coisa específica, nós temos atenção pela demanda.

A demanda aqui de crimes ambientais, tráfico de drogas, contrabando, descaminho, tráfico de armas e facções criminosas é o mais forte, mas temos que ficar com um olho no peixe e outro no gato. 
 
O senhor que solicitou o apoio dos satélites nas operações do Pantanal, quando identificou que seria necessário mais equipamentos?

Quando começou a crise eu estava em Brasília e eu não participei de uma reunião ocorrida com a cúpula do Ministério do Ambiente aqui, eu não estava presente, mas me foi informado que a preocupação da ministra e do Ministério era uma visão em tripé, que era a prevenção, o combate ao fogo, mas também a responsabilização por quem dá causa a esse fogo. Esse último eixo é aquele que nos atinge diretamente e é onde foi dito que é uma das maiores fragilidades do Estado, porque historicamente não se pune ninguém que faz isso.

Então, muita energia para o combate ao fogo, muita energia para prevenir, para que não se iniciem novos focos, mas se não romper esse ciclo vicioso de não responsabilização, a coisa tende a voltar sempre a mesma coisa. Então, nós nos vimos obrigados a agir e percebemos que nos faltava um pouco de integração entre as forças do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, faltava interação com as agências federais responsáveis, Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], Forças Armadas, e aí nós nos propusemos a fazer isso.

Criamos o gabinete de crise para atender Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, porque nós não temos recursos para atender todos. Por exemplo, nós conseguimos trazer uma aeronave, não dá para ficar com a aeronave aqui sabendo que lá estava sem. Então, nós tínhamos que atuar nos dois. E essa aeronave nossa, nós temos três para atender o Brasil inteiro. Então, era um operativo muito caro para estar aqui e não ser utilizado ao máximo.

Então, a gente fez essa proposta e chamou os outros órgãos e vieram, nos atenderam, mostraram interesse e hoje nós estamos, principalmente com o Ibama lá na área do Pantanal, aí já entrando na questão, na estratégia que foi montada para esse tipo de atuação.

Como tem sido a atuação na região?

Identificando a região, os problemas que estavam anunciando ali, a gente juntou os nossos peritos, os nossos especialistas e qual foi a mensagem? ‘Olha, em que pese serem centenas ou até milhares os focos de incêndio no Pantanal, não é isso que é o problema, nós temos que ter atenção naquilo que eles chamam de maiores cicatrizes, que é uma área grande queimada’.

Porque com a tecnologia que tem hoje, de imageamento satelital, se você quiser calibrar as imagens para isso, um cara que acende uma churrasqueira lá, você vai ver. Então, vamos pegar uma área grande que tenha tido queima.

Então o satélite passa e vê uma área grande queimada, temos aí um forte indício de crime, você não pode queimar, está proibido, então aconteceu o quê? Um incêndio florestal de grandes proporções. Como que nós vamos descobrir quem é que fez isso e em quais circunstâncias fez isso? Aí a gente começa o imageamento pretérito, vai pegar aquela cicatriz e vai regredindo no tempo, até você chega na origem.

Chegou a conclusão de que aquela grande cicatriz teve origem na coordenada tal. Então nós tínhamos a aeronave disponível, pegamos equipes de peritos, equipes de agentes e jogamos nesse ponto, para que eles identificassem as circunstâncias de início de fogo, de ignição com os peritos, e os agentes começassem a trabalhar, entrevistando as pessoas, ribeirinhos, capatazes, fazendeiros, até a área urbana mesmo, para gente tentar entender por que esse fogo iniciou, a circunstância que ele iniciou e quem deu causa.

O que nós temos são aproximadamente 30 focos identificados, e isso que eu estou falando de hoje para trás, porque o fogo deu uma cessada. Tanto em Mato Grosso quanto em Mato Grosso no Sul fez-se esse mapeamento regresso e chegou em 30 pontos de origem de fogo. Esses 30 é que geraram manchas de grande proporção, e estão espalhados no território pantaneiro, nos 65% nosso e nos 35% do Mato Grosso.

Equipes foram a todos esses pontos para coletar os primeiros dados. A partir dali vai se identificar a propriedade, se é privada, se é pública, quem que é o dono, se tem indício de quem possa ter iniciado esse fogo. Já se tem a confirmação de que esse fogo não é espontâneo, então todos eles são focos de incêndio provocado por ação humana. Aí você vai identificar autor, descobrir quem é que botou esse fogo, aí você vai ver a condição que esse sujeito, a ideia dele foi sem querer, ele estava cozinhando um feijão e pegou fogo, ele responde? Responde, por culpa, ele culposamente botou fogo no Pantanal.

Ele quis botar fogo, é um fazendeiro, é um ribeirinho, é um indígena, vai responder por dolo, ele quis cometer aquilo. Ele não queria isso, ele queria só um pedaço pequeno, aí é o que a gente chama de dolo eventual. Ele queria só um pedaço pequeno, mas qualquer criança sabe que se botar fogo você vai perder o controle, o negócio vai espalhar, ele não queria o incêndio florestal, mas assumiu o risco de ter esse incêndio florestal. 

Esse é o primeiro passo. A gente identifica os focos, vai nesses focos tentar achar a teoria e circunstâncias do fogo. Aí a gente descobre se essa área é privada. Aqui em Mato Grosso do Sul, 95% do território é privado. Então, se o fogo foi naquela área privada e não atingiu nenhuma área de interesse da União, esse caso vai pro Poder Judiciário Estadual, a Justiça do Mato Grosso do Sul ou a Justiça do Mato Grosso que vai cuidar.

Mas aí você imagina, nós já fomos lá, já temos essa informação, já cruzamos dados de satélite, já temos o início de uma investigação, o Ibama já foi conosco, eu vou jogar isso tudo fora só porque não é meu? Aí a gente combinou com o Ministério Público Estadual que, se no final a gente concluir que aquilo foi iniciado e terminou numa área privada, não é interesse da União, nós vamos entregar o pacote para eles e eles vão dar os desdobramentos, para não ter retrabalho e para não perder o material.

Se porventura a área for área federal,  como: terreno de Marinha - por exemplo o rio Paraguai é nacional, então uma área próxima a ele, de um lado e do outro, é terreno de Marinha, esse terreno é da União, você não pode construir lá por exemplo - temos também terreno da Marinha, que aí é do Ministério da Defesa, ou do Exército; áreas devolutas, que é a área que não é de ninguém, então pertence à União; e parques federais, que nós não temos aqui, mas nós temos em Mato Grosso.

Para além disso, tem uma discussão também do bioma pantaneiro como patrimônio da humanidade, não interessa onde que está o fogo. Fauna, em tese, também não interessa se é particular, então, fica a mensagem de que a nossa ação é autorizada por lei em todo o Pantanal.
Só que por questão de competência da justiça a gente vai mandar para uma ou para outra. Então, se a gente identificou que a área é nossa, nós vamos instaurar um inquérito policial e vamos mandar para o Poder Judiciário Federal. Se for área particular lá no Mato Grosso ou aqui, nós já fechamos com o Ministério Público Estadual, que nós vamos mandar para eles e não vai perder esse material.
Meio ambiente é uma matéria constitucional que chama todo Estado, município e União e o Pantanal possui um patrimônio da humanidade tombado e os espécimes animais que tem lá mais ainda.

Dessas investigações, já tem alguma mais adiantada?

Não, mais ou menos está tudo no mesmo pé. Porque a gente tem que entender se fogo começou em área privada e ir para a área pública, ou o contrário. Nós não estamos preocupados hoje com quem que é o proprietário. Nós vamos no foco do incêndio. Aí depois é que vai fazer o cruzamento para saber que propriedade que é, que local que é, a quem pertence. Então isso já vai ir para a frente do trabalho.

O perito nosso hoje é muito mais importante inclusive pela tecnologia que se tem, num gabinete desse do que provavelmente no mato.

No mato, antigamente, o cara afirmar que um fogo era provocado por condição humana, ele tinha que encontrar lá uma lata de querosene, negócio assim, hoje não existe mais isso.
A comunidade sabe hoje que, por exemplo, raio, qualquer raio, ele é imediatamente detectado. Então, nós temos informações que nesse período todo não teve nenhum raio lá. Então, não me vem dizer que foi raio. Então, o fogo é humano.

Todo qualquer cometimento de crime, o cara quer o benefício e não quer a responsabilidade. Então o cara pensa nisso, hoje ele sabendo que tem esses recursos estão na região.

Eu achei muito, muito interessante essa investida. E segundo, consta, historicamente não se fazia isso. Hoje nós temos recursos lá para fazer esse levantamento por parte do Estado e por parte do governo federal. O que me disseram é que antes não se fazia isso. Nós temos lá hoje três peritos da Polícia Civil. O pessoal da Polícia Militar falou conosco.

No primeiro momento, quando eu vi a crise, falei, nós vamos ter que ir pra lá.
Foi anunciado que ninguém poderia nos ajudar. Inclusive, o próprio Ministério Estadual chegou a pedir um helicóptero da PRF. Agora, hoje, lá tá coalhado de helicóptero. Que bom que agora é assim.

Nunca se teve um aparato à disposição como está agora, então qualquer fumacinha pessoal está correndo e apagando, se tivesse feito isso antes não teria chegado no estado que chegou, então pela primeira vez, aí já não sou eu que estou falando, são as pessoas que estavam lá, que eu tive lá, existe um aparato tal, que a tecnologia hoje, começou uma fumacinha, já vão jogar helicóptero, avião e brigadista lá e vai apagar, não vai acontecer mais o que aconteceu, mas se por ventura iniciar uma chama dessa, tão logo seja debelado o fogo, nós vamos lá de novo. Agora parece que retornaram os focos, e pode ir até setembro. Qualquer coisa que acontecer aqui, mesmo mecanismo que nós fizemos no começo, nós vamos fazer de novo. Só que hoje dificilmente essas grandes cicatrizes ocorrerão. Porque o cara detectou um fogo, já tem 50 brigadistas lá. Só se todo mundo sair botando fogo ao mesmo tempo, aí não tem jeito.

Perfil

Carlos Henrique Cotta D´Ângelo 

Natural de Minas Gerais, Carlos Henrique Cotta D´Ângelo é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e em Administração Pública pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), além de ser Mestre em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Entrou para a PF em 2002 e passou por vários estados antes de chegar a MS.

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MATO GROSSO DO SUL

Primavera terá recorde histórico de calor e chuva abaixo da média

Estação será extremamente quente, abafada e calorenta, com temperaturas altíssimas e retorno das chuvas

19/09/2024 10h15

Primavera começa neste domingo (22) em Mato Grosso do Sul

Primavera começa neste domingo (22) em Mato Grosso do Sul ARQUIVO/CORREIO DO ESTADO

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Primavera começará às 8h44min de 22 de setembro e terminará às 5h20min de 21 de dezembro de 2024 em Mato Grosso do Sul.

A estação é caraterizada pela

  • Floração de plantas
  • Aumento da umidade
  • Retorno das chuvas
  • Dias mais longos/noites mais curtas
  • Transição entre inverno (seca) e verão (chuvoso)

De acordo com prognóstico divulgado pelo meteorologista Natálio Abrahão, a estação será extremamente quente, abafada e calorenta, com temperaturas altíssimas.

Segundo o meteorologista, outubro será o mês mais quente do ano. Além disso, as chuvas retornam, com possibilidade de tempestades e enchentes.

Há 66% de probabilidade de ocorrência de La Niña de novembro/dezembro de 2024 a março de 2025.

Mas, também há 55% de chance de um evento climático neutro se manter até o final do ano e seguir até o começo do outono de 2025.

CHUVA

As chuvas retornarão, nesta estação de primavera, em Mato Grosso do Sul. Mas, ficarão com volumes abaixo da média.

A precipitação aliviará a seca e estiagem que predominam no estado há meses e resultaram em incêndios no Pantanal Sul-matogrossense.

Com a chuva prevista, queimadas podem reduzir em intensidade e frequência nas regiões centro, sul, sudoeste e sudeste de Mato Grosso do Sul. Mas, chances de ocorrer queimadas não estão descartadas.

O período de chuvas começará com pancadas rápidas, trovoadas e descargas elétricas.

As pancadas ocorrem nas primeiras horas da tarde, prosseguem para o fim da tarde e vão até o começo da noite.

Pode haver tempestades com chuva forte, grandes volumes em curto espaço de tempo, ventos de 60-70 km/h, raios, relâmpagos, trovoadas e granizo. Pode ocorrer enchentes e inundações.

Umidade relativa do ar melhora com a ocorrência de chuvas, mas, pode atingir valores de emergência em alternância, devido à formação de áreas de instabilidade com pancadas de chuvas isoladas e ventos fortes. Valores mínimos abaixo dos 20% são possíveis entre setembro e o mês de outubro.

“Em outubro, o período de chuvas será mais dentro das médias, regular com o prognostico de chuva mais ao Sul e Central e mais irregular em todas as outras regiões. A região Norte e parte do Nordeste deve em atraso no início das chuvas ficar próximo ou ligeiramente abaixo das médias para o estado. Em novembro, há chance de enchentes e as chuvas podem ficar localmente acima das médias em algumas nas regiões do Sul e Sudoeste e dentro das médias nas regiões Norte, abaixo no Nordeste e Oeste do Estado. Pancadas de chuva, trovoadas e rajadas de ventos, até fortes surgem nos fins de tarde e à noite”, explicou o meteorologista.

CALOR

O calor será intenso, nesta estação de primavera, em Mato Grosso do Sul.

Dias serão quentes, abafados e calorentos, com temperaturas altíssimas. Segundo Abrahão, outubro será o mês mais quente do ano.

Temperaturas máximas poderão variar entre 37ºC e 44ºC, em função

da forte radiação solar e da incidência vertical dos raios solares, atingindo os maiores termômetros da história de MS.

Haverá dias muito quentes, mas com menor frequência na região centro, nordeste, oeste e leste do Estado. Ou seja, haverá dias muito quentes, mas não dias seguidos de calor intenso. A radiação ultravioleta atingirá níveis máximos durante a primavera.

VENTO

De acordo com Abrahão, ventos mais fortes e intensos podem ser identificados no Sul, Sudoeste, Sudeste e Centro do Estado, principalmente no mês de outubro e parte de novembro.

Há 90% de probabilidade em ocorrer danos consideráveis no Centro-Sul, 70% nas regiões Sudeste e Leste e de 50% nas regiões Oeste e Norte do estado causados por ventos de rajadas e pancadas muito fortes de chuvas.

A chegada de frentes associadas aos ventos fortes pode trazer também, descargas elétricas, trovoadas e pancadas de chuva associados ao granizo nesses dois primeiros meses da estação.

MATO GROSSO DO SUL

Corpo de indígena segue em perícia 24h após assassinato em MS

Peritos federais realizam o procedimento pericial no corpo de Nery no município de Ponta Porã

19/09/2024 09h59

Kaiowá morto deixa bebê de 11 meses e se junta à triste lista que já vitimou outros 3 na mesma Terra Indígena

Kaiowá morto deixa bebê de 11 meses e se junta à triste lista que já vitimou outros 3 na mesma Terra Indígena Reprodução

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Passado mais de 24 horas da morte registrada na Terra Indígena Ñanderu Marangatu na madrugada de quarta-feira (18), o corpo de Nery Ramos da Silva Guarani Kaiowá ainda segue sem liberação para ser velado por seus patrícios residentes na TI de Antônio João. 

Informações obtidas com o advogado do Conselho Missionário Indigenista apontam que até por volta de 10h da manhã de hoje (19), o corpo de Nery seguia em posse da perícia, sem previsão de quando será liberado para velório. 

Distante cerca de 280,9 km da Capital de Mato Grosso do Sul, importante destacar que a TI foi alvo de homologação ainda em 2005, anulada posteriormente no mesmo ano pelo até então Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. 

Cabe lembrar que, a mais recente escalada de violência contra os povos originários de Mato Grosso do Sul começou no último dia 12, quando os indígenas fizeram ação para retomada da propriedade onde hoje existe a chamada Fazenda Barra, ocasião em que três acabaram feridos, como bem acompanhou o Correio do Estado

Peritos federais realizam o procedimento pericial no corpo de Nery no município de Ponta Porã.

Conflito 

Nery foi morto durante ação acompanhada por forças policiais sul-mato-grossenses, sendo que desde o primeiro momento já era apontado para uma possível execução, já que o tiro fatal teria atingido a região da nuca do Guarani Kaiowá. 

Diante da violência, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) inclusive emitiu nota, com pedido de afastamento imediato do Policial Militar responsável pelo disparo, acionando inclusive Polícia e Ministério Público Federal, bem como Defensoria Pública da União. 

Importante ressaltar, também, que os agentes da Força Nacional não estavam na Terra Indígena, uma vez que foram destacados apenas para acompanhar membros da Coordenação Regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), de Ponta Porã. 

Ou seja, baseados no município de Douradina, no Mato Grosso do Sul, estavam distantes cerca de 182 km de onde aconteceu o conflito que vitimou Nery Ramos da Silva Guarani Kaiowá.  

Assassinado aos 23 anos, Neri Ramos da Silva Kaiowá deixa um bebê de 11 meses, somando-se a outros três nomes mortos desde a década de 80 nessa mesma Terra Indígena de Antônio João, sendo: 

  • 1983 | Marçal de Souza: morto em casa com 5 tiros, na Aldeia Campestre 
  • 2005 | Dorvalino Rocha: morto com 2 tiros por segurança privado de fazendas da região. 
  • 2015 | Simião Vilhalva: morto com tiro na cabeça durante conflito por terras

Briga pela terra

À espera de uma resposta há praticamente 20 anos, a derrubada da homologação em 2005 da Terra Indígena contou com apoio da atual dona da fazenda em que Nery foi morto, segundo informações da Mobilização Nacional dos Povos Indígenas. 

Roseli Ruiz é dona da fazenda que, atualmente, conta com proteção da Polícia Militar por meio de rondas, além de um pelotão designado para proteção dos proprietários e funcionários da propriedade. 

A decisão sob a qual a polícia age foi inclusive estendida, para que as forças policiais garantam o "ir e vir" dos funcionários e "proprietários" da fazenda, desde a rodovia até a sede, num percurso de mais de 10 quilômetros. 

A família Ruiz, como ressalta a Mobilização Nacional Indígena, esteve envolvida na ação de fazendeiros que, em 2015, vitimou o indígena Simeão Vilhalva, que foi baleado na cabeça em dezembro de 2015. 

Com diploma em antrologia, Roseli foi indicada pelos partidos Liberal (PL) e Republicanos, como uma "especialista" para - participar da audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal, marcada para o próximo dia 23, sobre a constitucionalidade do marco temporal. 

Inclusive, a advogada ruralista Luana Ruiz - filha de Roseli Ruiz e Pio Queiroz Silva, proprietários da Fazenda Barra -, como destaca o Conselho Indigenista, atua na assessoria especial da Casa Civil de Mato Grosso do Sul. 

Segundo apuração do Cimi, a advogada atuou na ação deferida pela Justiça Federal de Ponta Porã, em busca da proteção da Fazenda Barra, através da decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) 

Agora, os indígenas pedem revogação dessa decisão que, segundo os indígenas, "ampara, ilegitimamente, a presença violenta da Polícia Militar no território homologado".

**(Colaboraram Alanis Netto e Daiany Albuquerque) 

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