"Podemos ter línguas, dialetos e costumes diversos, mas podemos ter também uma vibração
única por meio de nossa força cultural"; esse é o lema da apresentação, com regência do
maestro Eduardo Martinelli, que marca a abertura de festival em Corumbá
Durante o Festival América do Sul Pantanal 2025 (FAS), a cidade de Corumbá será palco de um encontro musical sem fronteiras. Reunindo músicos de todos os países da América do Sul, com o reforço de um time especial de músicos brasileiros, a Orquestra América do Sul cumpre seu papel como elo sonoro do continente, celebrando sua diversidade cultural.
No concerto de amanhã, na abertura do festival, a orquestra inicia o programa musical com obras de dois artistas homenageados nesta edição, o acordeonista e compositor italiano Mário Zan (1920-2006), autor do clássico “Chalana”, e o compositor sul-mato-grossense Altair Teodoro da Silva, o Tim, cuja obra, enraizada em tradições populares, sintetiza o espírito da cultura regional pantaneira.
Com arranjos musicais e participações especiais cuidadosamente pensadas para a ocasião, bem como repertório abrangente, o concerto apresenta um mosaico musical que conecta vozes, memórias e identidades dos povos sul-americanos.
“A Orquestra América do Sul é um movimento de reconexão e reconhecimento entre os povos do continente. Combinando ritmos, estilos e histórias, este encontro representa a construção de uma identidade musical compartilhada, onde cada nação contribui com seu patrimônio artístico e humano”, afirma Eduardo Martinelli. “Mais do que um concerto, é uma celebração da diversidade e um convite para que a música continue sendo o elo que une gerações, culturas e fronteiras”, diz o maestro.
A ORQUESTRA
Com o propósito de celebrar a diversidade e a riqueza sonora da América do Sul, a Orquestra América do Sul reunirá um artista de cada país sul-americano, trazendo suas expressões musicais únicas para um espetáculo histórico. Do chamamé argentino ao steel drum caribenho da Guiana, passando pelo quatro venezuelano, o bandoneón uruguaio e a harpa paraguaia, cada instrumento e cada artista contribui para a criação de uma sonoridade singular, que une tradição e inovação.
A orquestra não apenas representa a fusão de identidades musicais, mas também fortalece o intercâmbio artístico entre os países, promovendo o diálogo entre músicos de diferentes realidades e estilos. Confira, a seguir, os representantes de alguns países.
GUIANA
Montgomery Washington. Natural da Guiana Inglesa, Montgomery é um virtuose do steel drum, instrumento percussivo originário de Trinidad & Tobago. Com mais de três décadas de trajetória internacional, já dividiu palco com nomes como Milton Nascimento, Seal, George Benson e Laura Pausini, sendo reconhecido como um dos grandes embaixadores da música caribenha no mundo.
Atração de destaque no Principado de Mônaco, seu talento singular conquistou a elite cultural europeia e lhe rendeu uma amizade pessoal com o príncipe Albert, de Mônaco, que passou a acompanhar de perto sua carreira.
Em temporada no Brasil, Monty, como é conhecido, vem levando o som hipnótico do steel drum aos mais diversos palcos, da música de concerto às fusões contemporâneas. Suas performances com orquestras e formações de câmara revelam a força expressiva de um instrumento ainda raro no universo erudito, mas de enorme riqueza tímbrica e poética.
SURINAME
Liesbeth Simone Peroni. Nascida em Paramaribo, a soprano, pianista e educadora, também conhecida como Lisibeti, é uma das principais referências da música clássica e da educação musical no Suriname. Formada em Piano e Pedagogia Musical pelo Conservatório de Roterdã, na Holanda, ela retornou ao Suriname nos anos 1990, onde passou a atuar como professora no Instituto de Formação de Professores (IOL) e fundou o centro artístico Lisibeti Music Performing Arts.
Com uma carreira que integra performance, regência, produção, teatro e ensino, ela se dedica à valorização da cultura afro-surinamesa e caribenha por meio da música. Sua atuação contempla tanto o repertório erudito europeu quanto criações locais em línguas indígenas, crioulas e neerlandesas.
PARAGUAI
Papi Galán, do ParaguaiPapi Galán. É um músico conhecido por sua carreira na música sertaneja e por sua influência na cultura musical do Paraguai e do Brasil. Nascido em Puerto Guarani, no Chaco paraguaio, em 1939, começou a sua carreira musical aos 12 anos, fazendo mate tereré. Atualmente, é professor do Conservatório Nacional de Assunção e da Associação dos Autores Paraguaios (APA), contribuindo para a educação musical no seu país. Papi Galán também fez parte de sua carreira no Velho Mundo, gravando com artistas nacionais e internacionais de renome.
URUGUAI
Raul Quiroga, do UruguaiRaul Quiroga. Cantor natural de Montevidéu, radicado no Rio Grande do Sul, pela identificação da cultura gaúcha com a cultura uruguaia, que caminham irmanadas. Raul hoje é reconhecido nacionalmente e tem em sua carreira a produção de 13 álbuns com grande sucesso de vendas, sendo o último comemorativo de seus 30 anos de carreira artística, intitulado “Um Canto sem Fronteira”, com 15 músicas nativistas gaúchas de composições próprias em português e mais 15 faixas com obras de compositores argentinos, uruguaios e rio-grandenses em espanhol.
CHILE
Héctor e Iván Letelier, do ChileSikuris – Irmãos Letelier. A flauta andina, o charango, símbolo dos povos originários do Chile, ressurge no festival com esses representantes que trazem à tona os timbres ancestrais dos Andes. Suas melodias evocam paisagens sonoras que conectam passado e presente.
COLÔMBIA
Enrique Moncada, da ColômbiaEnrique Moncada. Nascido em Cúcuta, Colômbia, iniciou sua trajetória musical aos 11 anos de idade, estudando contrabaixo. Sua formação começou no renomado programa El Sistema, no núcleo do Estado do Táchira, na Venezuela, onde rapidamente se destacou por sua dedicação e talento. Ao longo de sua jornada musical, Enrique migrou do contrabaixo para a viola sinfônica, instrumento com o qual encontrou uma nova expressão artística e ampliou sua atuação orquestral.
Sua excelência o levou a integrar a prestigiada Orquestra Sinfônica Simón Bolívar, uma das principais formações sinfônicas da América Latina, reconhecida mundialmente por sua qualidade e impacto social.
Com uma trajetória marcada por superação e talento, Moncada representa uma geração de músicos latino-americanos formados por programas de inclusão e excelência artística, levando sua música a palcos nacionais e internacionais.
ARGENTINA
Alejandro Brittes, da ArgentinaAlejandro Brittes. Acordeonista e compositor, é um dos maiores representantes do chamamé, gênero musical do nordeste argentino. Com uma trajetória consolidada internacionalmente, ele vem expandindo os horizontes do chamamé por meio do projeto Concerto Leste, promovendo o diálogo entre essa tradição e novas influências musicais.
Abertura do FAS 2025
REPERTÓRIO
1. “Chalana” (Mário Zan – Brasil): ícone da música sertaneja brasileira, “Chalana” retrata o universo ribeirinho do interior. Sua melodia nostálgica inaugura o concerto com uma ponte simbólica entre o Pantanal e a alma popular do País.
2. “Lenda Bororo”: poesia musicada por Altair Teodoro da Silva, o Tim, que evoca a espiritualidade e a cosmovisão do povo bororo. A obra reflete o enraizamento indígena e o lirismo regional do Mato Grosso do Sul.
3. “Bailando en Isluga”: peça tradicional do povoado chileno de Isluga. Com flautas de pã (zampoñas) e percussão, exalta festas religiosas e o espírito comunitário andino.
4. “Milonga de Pelo Largo”: milonga campeira que homenageia o cavalo como símbolo da identidade uruguaia. A versão orquestral valoriza seu lirismo e andamento marcado.
5. “Bamboo Fiah”: canção folclórica em inglês crioulo, típica das zonas rurais da Guiana. Descreve, com humor e ritmo, o fogo de bambu estalando enquanto o jantar atrasa. Uma joia da oralidade afro-caribenha.
6. “Canção Folclórica do Suriname”: obra que representa a rica diversidade étnica do Suriname – afrodescendentes, javaneses, hindustânicos e ameríndios – em uma síntese sonora de coexistência cultural.
7. “La Charla del Jilakata”: composição do folclore andino que remete ao discurso cerimonial do jilakata, líder espiritual aimará. Expressa, em forma musical, a sabedoria dos povos altiplanos.
8. “Che Trompo Araçá”: polca delicada que celebra a infância e os brinquedos tradicionais, como o pião. Traz leveza e memória afetiva paraguaia ao programa.
9. “Vientos del Este”: com presença do compositor argentino ao vivo, a obra une chamamé, jazz e elementos contemporâneos. Um sopro musical que atravessa fronteiras.
10. “Km 11”: clássico do Chamamé amplamente conhecido no Cone Sul e que remete instantaneamente à uniao e à fusão cultural da tríplice fronteira.
11. “Mercedita”: composição de Ramón Sixto Ríos, eternizada por sua melodia romântica e nostálgica. Encerra o concerto prometendo grande emoção ao público presente, que a tem como uma forte bandeira cultural da música regional.
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