Ator e cantor com sólida trajetória nos palcos e na música, Henrique Moretzsohn vive um momento especial em sua carreira: a estreia como protagonista em um grande musical. Ele dá vida a Frankie Valli em Jersey Boys, montagem que celebra a história do lendário grupo americano The Four Seasons.
O papel marca um novo patamar para o artista, que já participou de grandes produções da Broadway no Brasil, como Les Misérables, O Fantasma da Ópera, A Pequena Sereia e West Side Story.
“Foi uma surpresa e um presente do universo!”, define Henrique, sobre o convite para viver o protagonista. “No período das audições, confesso que estranhei um pouco ter sido chamado para este personagem que tem uma voz tão icônica e, de certo modo, com um timbre diferente daquele que eu imprimi nos outros musicais em que trabalhei. Até que veio o sim e foi uma alegria tão grande!”.
Sobre Jersey Boys, ele destaca o desafio de interpretar um personagem real, com voz marcante e estilo vocal próprio. “É o musical em que canto mais músicas de todos os que já trabalhei. Exigiu um mergulho total no material, uma imersão mesmo, durante as cinco semanas de ensaios.” Henrique se debruçou sobre vídeos, entrevistas e registros de Frankie Valli, além de estudar o contexto sociocultural da Nova Jersey dos anos 1960 e buscar uma identificação pessoal com diferentes aspectos da vida do personagem.
Henrique começou sua trajetória artística ainda na infância, influenciado por uma família que, embora não fosse formada por artistas – todos com profissões fora da área cultural – sempre cultivou um ambiente muito artístico e sensível à cultura. A mãe cantava e tocava violão, o pai ouvia clássicos e rock, e as avós também contribuíam para esse cenário sonoro – uma tocava piano e a outra era fã de ópera.
Desde pequeno, teve uma tia que o levava ao teatro e foi responsável por apresentá-lo ao encantamento do palco. Mais tarde, sua madrinha teve papel fundamental ao ajudar, junto à mãe, a custear o curso de teatro. O padrasto, grande noveleiro e entusiasta das artes, foi outro incentivador importante, especialmente durante a adolescência de Henrique.
Com cinco anos, ele já fazia aulas de piano e logo demonstrava fascínio por teatro, alimentado por peças infantis, filmes musicais da Disney e novelas. Aos 11 anos, ingressou na Oficina de Teatro da PUC/MG e nunca mais parou.
O artista se formou em Teatro pela UNIRIO, após uma jornada de dois cursos universitários simultâneos (UNIRIO e UFRJ). Foi durante a graduação que o teatro musical passou a ganhar protagonismo em sua vida. Aos 19 anos, começou a estudar canto no Rio de Janeiro e passou a unir suas duas paixões – teatro e música – em audições e montagens que o levariam aos grandes palcos.
Sua estreia no palco do Teatro Renault, em São Paulo, aconteceu durante uma audição, antes mesmo de integrar um elenco profissional. “Eu lembro do diretor dizer: ‘tell him he have a very good voice’ (‘diga a ele que ele tem uma voz muito boa’). Aquilo me motivou a seguir adiante, mesmo eu não tendo passado naquela vez”, relembra. Anos depois, ele voltaria ao mesmo palco como parte do elenco de Les Misérables, musical que considera um divisor de águas em sua trajetória. “Les Mis é um dos meus musicais preferidos. Eu gostei muito de fazer. Gosto da história, do conteúdo simbólico, das músicas, dos figurinos, do cenário, de tudo.”
Além dos musicais, Henrique se destaca no cenário da música vocal como integrante do trio Amazing Tenors, projeto idealizado por Bruno Rizzo em 2022. O grupo, formado por ele, Paulo Paolillo e Murilo Trajano, apresenta um repertório de clássicos imortalizados por nomes como Andrea Bocelli e está em turnê permanente pelo Brasil.
“O público nos recebe com muita emoção em todo o Brasil. As músicas elevam as vibrações, tocam o coração. Estamos em turnê desde então, de norte a sul do país”, afirma Henrique. “O projeto trouxe uma legião de fãs deste repertório e me permitiu conhecer lugares lindos que eu nunca tinha ido, como as Cataratas do Iguaçu e o Amazonas.”
Conciliar a rotina intensa de viagens com a vida familiar é um desafio que Henrique encara com consciência e carinho. Pai e marido dedicado, ele reserva as segundas e terças-feiras para se reconectar com a família e equilibrar os dois lados da vida. Com agenda cheia e novos convites surgindo, ele acredita que este é um momento de expansão em múltiplas frentes:
“Espero que mais portas se abram nos meus campos de atuação: no teatro, no audiovisual, séries, filmes, nos musicais, shows, dublagens… Já tenho datas da turnê com o show Amazing Tenors e também recebi um outro convite que estou avaliando. Que os bons ventos me guiem!”, finaliza.
Henrique é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno o ator fala sobre carreira, musiciais, desafios e seu protagonista nesse musical que é um grande sucesso “Jersey Boys”.
O ator Henrique Moretzsohn é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Ana Colla - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia VianaCE - Como e quando descobriu sua veia artística? E o que veio primeiro, o canto ou a atuação?
HM - Embora eu não tenha artistas na família, eu sempre me vi envolto pela arte de alguma forma: minha mãe cantava e tocava violão, meu pai ouvia de clássico a rock, minhas avós eram ligadas ao piano e à ópera. Aos cinco anos pedi para aprender piano e, mesmo com as mãos pequenas, comecei com uma professora particular. Paralelamente, me encantei pelo teatro — minha tia me levava a peças, eu adorava os filmes musicais da Disney e imitava personagens da TV.
Aos 11 anos entrei na Oficina de Teatro da PUC/MG e nunca mais parei. Fiz cursos livres até ingressar na graduação, cheguei a cursar UNIRIO e UFRJ ao mesmo tempo, mas segui apenas na UNIRIO. Foi lá que descobri o teatro musical, unindo duas paixões, e aos 19 anos comecei as aulas de canto no RJ. Posso dizer que o teatro veio primeiro, mas a música sempre esteve comigo.
CE - Qual foi sua primeira experiência no palco?
HM - Eu tinha 12 anos. Foi no Teatro Marília em BH. Apresentação da peça final do curso de teatro da escola do grupo Real Fantasia. Eu lembro de me sentir muito bem. Eu gostava daquela adrenalina antes de entrar em cena.
A primeira vez que pisei no palco do Renault foi em uma audição, eu lembro do diretor dizer: “tell him he have a very good voice”. Aquilo me motivou a seguir adiante, mesmo eu não tendo passado naquela vez.
CE - Quais trabalhos ou personagens considera como mais importantes na carreira? Elege algum como divisor de águas?
HM - Acredito que os personagens dos grandes musicais da Broadway em SP. Considero Les Mis como um espetáculo divisor de águas. Foi quando me mudei pra SP e fui fazendo musicais em seguida um do outro, Les Mis, Sereia, Fantasma da Ópera, West Side Story, etc.
Les Mis é um dos meus musicais preferidos. Eu gostei muito de fazer. Gosto da história, do conteúdo simbólico, das músicas, dos figurinos, do cenário, de tudo.
CE - Você integra o trio Amazing Tenors. Como surgiu essa oportunidade e o que esse projeto representa na sua carreira?
HM - Foi um convite que recebi do produtor Bruno Rizzo em 2021. Integro esse grupo junto com os cantores Paulo Paolillo e o Murilo Trajano. Nossas três vozes e personalidades se unem nesse show que é um tributo a músicas que ficaram eternizadas pelo Andrea Bocelli. Já fomos de norte a sul do país e somos sempre muito bem recebidos pelo público.
O show é lindo e eleva as vibrações por onde a gente passa. É um projeto que tenho muito orgulho. Por ser estável eu pude conciliar outros trabalhos artísticos em paralelo com a turnê em alguns períodos, como o musical The Town, espetáculos da Disney e o próprio Jersey Boys, por exemplo.
CE - O Four Seasons tem uma sonoridade marcada pelo pop-rock dos anos 60, enquanto o Amazing Tenors aposta em uma fusão lírica-pop. Como é para você transitar entre esses estilos tão diferentes?
HM - Por já transitar entre vários estilos e também ser professor de canto, tenho ferramentas para encarar essa exigência com tranquilidade. Estou gostando muito de cantar o repertório pop/rock, que me permite explorar um timbre mais rasgado, com drives e ornamentos, diferente do som mais clássico dos últimos trabalhos.
É prazeroso extravasar com essa forma de cantar mais solta e catártica. Pesquisar o estilo do Frankie foi enriquecedor: sua voz icônica não era apenas uma escolha estética, mas definia o som dos Four Seasons e influenciou de Bee Gees a Bruno Mars, transformando o falsete em potência artística muito antes de virar moda no pop contemporâneo.
O ator Henrique Moretzsohn é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Ana Colla - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia VianaCE - "Jersey Boys" marca seu primeiro protagonista em um grande musical. Como foi o momento em que recebeu o convite para viver Frankie Valli e o que passou pela sua cabeça na hora?
HM - Fiquei muito feliz! É uma alegria enorme ser aprovado para um papel tão especial, depois de tantos anos de dedicação. No início até questionei se esse papel era realmente para mim e cheguei a pedir para audicionar outros personagens. Eu estava no meio de uma turnê, cansado, mas segui no processo e, quando cantei Can’t Take My Eyes Off You, senti uma energia muito boa da banca.
Cheguei a perguntar se poderia audicionar para outro papel mas a direção quis me ver como Frankie. Acho que o maestro Jorge de Godoy já me via como Frankie Valli antes mesmo de que eu pudesse acreditar. Sou muito grato por isso. Então decidi me dedicar inteiramente àquele repertório e mergulhar no personagem. Quando veio a confirmação de que seria o Frankie, foi emocionante. Cada audição é como um concurso público: exige talento, estudo e esforço, mas também envolve fatores subjetivos para ser “o escolhido”.
CE - Você comentou que precisou fazer um mergulho profundo na voz e no estilo do Frankie Valli. Qual foi o maior desafio para encontrar o equilíbrio entre ser fiel ao original e imprimir sua própria identidade?
HM - Frankie tem uma voz icônica, e minha maior preocupação foi reproduzir o timbre sem cair na caricatura. Mergulhei na discografia original e, apesar de ouvir também gravações da Broadway, preferi ir direto à fonte, já que se trata de um personagem real e biográfico. Quanto à voz falada, busquei um equilíbrio que soasse natural em português, sem exageros que soariam artificiais.
Sempre procuro entender o personagem dentro do contexto da obra, antes de qualquer escolha técnica. Nesse processo empático, percebi similaridades entre nós: o fato de ser pai, de conciliar família e carreira em turnês, de enfrentar os percalços da vida artística. Essa identificação fez com que minha própria identidade se tornasse um terreno fértil a serviço do personagem.
CE - Sua história mostra uma rede de apoio muito forte da família. Qual foi o gesto mais marcante que você recebeu deles e que ainda carrega nos palcos?
HM - O gesto mais marcante foi, e ainda é, sem dúvida, o apoio e a confiança em mim. O incentivo em suas mais variadas formas: material, espiritual, mental e emocional. E aqui eu teria uma lista imensa de pessoas para citar, mas destaco minha mulher, minha mãe, meu pai (que partiu recentemente), minha tia, minha madrinha, meu padrinho, meu padrasto, minha avó, minha irmã, minha sogra, meu filho, enfim.
Quando estou ali no palco, naquele momento de muitos holofotes, existe um sem número de pessoas junto comigo. Acredito muito nisso.
CE - Você vive uma rotina intensa de viagens e apresentações, mas também é pai e marido presente. O que aprendeu sobre administrar tempo e energia para não perder esses dois lados da vida?
HM - É um aprendizado constante. O trabalho artístico vai um pouco na contramão da vida em família, porque quando seu filho está de folga das aulas da escola, você está trabalhando. Quando todos estão vivendo momentos de lazer em família, você está no palco sendo o entretenimento deles. Então há que se encontrar meios de se equilibrar isso.
Não raro vemos artistas fazendo períodos sabáticos para reabastecer suas energias criativas ou viver uma rotina familiar com mais presença.
No meu caso eu busco ter meu sábado e domingo em algum dia da semana. Não é exatamente a mesma coisa, mas encontro formas de ter momentos de lazer dessa forma. Quanto à parte prática, posso dizer que sou um bom dono de casa… hehe!
CE - Como você se vê após Jersey Boys? Já pensa em novos musicais ou projetos na música?
HM - Espero que mais portas se abram nos meus campos de atuação: no teatro, no audiovisual, séries, filmes, nos musicais, shows, dublagens… já tenho datas da turnê com o show Amazing Tenors e também recebi um outro convite que estou avaliando. Que os bons ventos me guiem! Que o sopro do espírito conduza minha barca pra onde for o melhor caminho!
O musical “Jersey Boys” - Divulgação

Neli Marlene Monteiro Tomari e Yosichico Tomari, que hoje comemoram bodas de ouro, 50 anos de casamento - Foto: Arquivo Pessoal
Donata Meirelles - Foto: Marcos Samerson


