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Capa da semana B+: Entrevista exclusiva com a atriz destaque na série "Tremembé" Débora Fernanda

"Foi um papel desafiador pela própria temática e crime. Primeiro fui ler a história do crime da Raissa que está no livro "Suzane Assassina e Manipuladora" do Ullissess Campbell, foi ele que deu base a primeira temporada de Tremembé"

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Débora Fernanda está na série de sucesso “Tremembé”, no Prime Video. Na produção, ela vive a presidiária Raíssa, uma personagem verídica que foi parar na cadeia depois de matar uma criança. A personagem se torna amiga de Suzane Von Richtofen (Marina Ruy Barbosa) e a convida para ser sua madrinha de casamento fora das grades.

Com 37 anos de idade e 13 de carreira, Débora Fernanda estreou na peça "Saga da Bruxa Morgana e Família Real", sob a direção de Christiane Tricerri. Graduada em Arte e Teatro pela UNESP e em Rádio e TV pelas Faculdades Integradas Rio Branco, a artista ainda pode ser vista no streaming no filme de ação e ficção científica “Biônicos”, da Netflix, e em ‘Tarã’, série original da Disney+.

Débora ainda tem no currículo os curtas-metragens “Corre”, que recebeu o prêmio de Melhor Curta no Chicago Feedback Film Festival, e ‘Ilê’, um documentário vertical que aborda o racismo na infância que conquistou o prêmio Empathy no Essential Stories Film Festival, em San Francisco, Califórnia.

Paulistana, Débora Fernanda também integrou diversos coletivos voltados para a cultura popular afro-brasileira e indígena, como a Trupe Trio, Casa de Maria e Cia Alcina da Palavra. Ela ainda teve seus contos e poesias publicados no box "Contos da Quarentena", e nos livros "Posfácio do Coletivo Sinestésica" , "Literatura Negra Feminina: Poemas de Sobre(vivência)" e "Olhos de Mergulho".

Débora é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre carreira, escolhas e o sucesso de sua personagem na série "Tremembé" no Prme Vídeo.

 A atriz Débora Fernanda é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Thom Foxx - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana

CE - Debora Fernanda está em seu primeiro papel de destaque na carreira na série “Tremembé”. Como se descobriu interessada na arte? E como foi a caminhada até chegar na série?
DF - 
Desde criança tive contato com arte e sempre amei, meus pais sempre assistiram a muitos filmes e ouviam músicas. Esses dias eu encontrei dois cadernos da escolinha de quando eu era criança e tinha uma pergunta, o que você quer ser quando crescer? Aos 7 anos eu respondi que queria ser cantora e aos 8 que queria ser atriz.

Mais ou menos nessa idade minha mãe me colocou para fazer curso de teatro no Municipal de Araras. Com relação a arte minha mãe, Sandra Enedina, foi, e é a maior incentivadora, meu pai e minha irmã não ficam atrás. Nos horários de contraturno da escola, nossa mãe nos colocava, eu e minha irmã, para fazer outros cursos gratuitos disponibilizados pela Prefeitura de Araras ou por ONGs que tinham na cidade.

Eu lembro que além do teatro fiz aulas de teclado, canto, coral, corte costura, pintura em pano de prato etc, eu amava. Daí já se vê a importância do apoio da família e o incentivo público para a formação dos artistas desse país.

Eu tive a “oportunidade” de estudar em um colégio particular na cidade, era religioso, tinha aula de teatro e era extremamente racista, as crianças, os professores e a direção do colégio eram horríveis comigo e com minha irmã, despejavam todo tipo de atrocidades. E eu ainda tenho dislexia, misofonia e com todo esse quadro, óbvio, tive dificuldade de aprendizado e os formadores atribuíam essa questão da cor da minha pele.

Existia um estigma, eu sou preta e, portanto, era considerada burra e feia, foram muitas críticas e humilhação sempre, os únicos espaços onde me aceitavam era no esporte (o que ainda faz parte do estereótipo) e no teatro porque eu realmente mandava bem. Daí o teatro que eu já gostava, passou a ser o meu espaço de aceitação e segurança. 

Eu me lembro de uma peça que apresentei no colégio “Arena Conta Zumbi”, texto do Guarnieri e Boal, com a direção do querido Mussa Daniel, meu professor na época, ali foi um grande ponto de virada, descobri que tinha muita força e resistência preta e que tinha também muitos motivos para me orgulhar. 

No dia seguinte e em alguns próximos, na escola, a turma me reconheceu como gente, como um ser capaz de fazer algo, até recebi elogios. O teatro passou a ser lugar de aprovação, depois reconhecimento, lugar possível de uma existência. E até hoje me sinto assim, me sinto fazendo algo importante para a sociedade, me sinto viva quando estou atuando.

Saí de Araras, vim para São Paulo e a primeira peça que assisti foi com a Christiane Tricerri, ela estava fazendo Megera Domada, foi incrível meu coração parecia que ia sair pela boca vendo essa atriz  grandiosa atuando, eu me lembro de rezar para a peça não acabar.

Fiz o curso profissionalizante da Escola de Teatro Celia Helena, onde também me destaquei, já saí de lá fazendo um espetáculo com Rosi Campos, Tadeu de Piettro, Majeca Angelute e sendo dirigida pela própria Christiane Tricerri!  Na minha primeira peça profissional, um presente, eu não parei mais.

Estudei também na UNESP e lá passei a fazer contação de histórias, me juntei com uma amiga e contamos histórias que meu avô baiano pescador me contava, e que meu pai também recontava, nesse ponto me interessei e pesquisei muito a cultura popular, acho que ainda na busca de reconhecer as belezas de minhas raízes tanto machucada na minha infância.

Fiz peça de todo tipo, infantis, adultas, juvenis, espetáculos bem estruturados outros em companhias precárias. Vivo muito teatro. Na pandemia com tudo fechado, ainda fiz peça online do Itaú Cultural e outras apresentações nos telhados dos Sescs para as pessoas assistirem pela janela de seus prédios. O trabalho foi escasso e o audiovisual me surgiu como possibilidade. Passei a me gravar e estudar em casa, logo passei em um teste para gravar um curta no Maranhão.

Assim que o Flavio Dino liberou a vacina eu a tomei para poder gravar meu primeiro filme, fiquei dois meses lá, a partir de então  não parei mais de estudar para o audiovisual. Fiz outros filmes, entre eles “Biônicos” da Netflix em que faço uma participação e sou dublê da Gabz; e Tarã da Disney em que faço uma dança na abertura, esse ainda não saiu. Fiz dois curtas autorais e participei de outras produções independentes que receberam prêmios.

Passei por agências, até me conectar com meu agente atual, descobrimos que íamos fechar um contrato juntos a partir de um sonho que ele me contou, interpretamos, ele conseguiu arrumar o teste para o Tremembé e eu estava pronta!

CE - Na produção, você vive Raissa, uma mulher que matou uma criança e depois ainda se casou com o pai dela.  Como foi o processo para se preparar para essa personagem?
DF - 
Foi um papel desafiador pela própria temática e crime. Primeiro fui ler a história do crime da Raissa que está no livro “Suzane Assassina e Manipuladora” do Ullissess Campbell, foi ele que deu base a primeira temporada de Tremembé, o autor também me disponibilizou a foto dela em seu casamento, e  eu fiquei horas tentando tirar informações que estavam contidas naquela foto.

Fui atrás de séries que falam sobre assassinatos, e depoimentos de pessoas que cometeram esses crimes horrorosos e dos familiares das vítimas. Também passei a frequentar uma igreja evangélica aqui perto de casa para entender um pouco sobre as emoções, os comportamentos e como seria sentir esse perdão sendo uma pessoa cristã.

Conversei com muitas amigas mães que me relataram os sintomas e sensações do puerpério. Minha irmã tinha acabado de dar a luz a minha sobrinha Luanda, eu via e sentia de perto todo esse processo transformador que acontece na vida da mulher. Falei com uma amiga psicóloga sobre depressão pós-parto. Porque Raissa era uma mulher, que fez esse ato detestável, quando ela tinha um bebê, e a defesa alegou que no momento ela vivia uma depressão pós-parto. Fui caminhando por onde conseguia me aproximar mais dela.

Ela matou, foi condenada, e depois foi perdoada e teve uma oportunidade de viver algo que a maioria das detentas não vive, além do perdão ela foi pedida em casamento. No casamento o marido diz que ela foi tomada pelo diabo ao matar a criança, eu não acredito nisso, mas me ponho a pensar se uma bomba hormonal que é o que acontece no puerpério e uma depressão  pode ou não se assemelhar com o diabo entrando no corpo de alguém?

 No presídio feminino acontece o oposto do masculino, geralmente quando são presos os homens abandonam suas companheiras, o que acontece com ela é atípico, além de ser perdoada por ele, o pai da criança, ele a pede em casamento, é uma loucura, mas me parece que ela teve a oportunidade de viver o amor. E aqui me pergunto novamente, se fosse com você, não consideraria que isso foi um milagre também?

É tudo muito complexo nessa história, e fazer as escolhas de como eu a via também. Eu decidi os movimentos dela, e tive ajuda no SET com as preparadoras Carol Fabri e Maria Laura, e contei ainda com a direção da Vera Egito e do Daniel Leiff. O assunto é muito denso e mexeu com muitas camadas, eu segui fazendo minha terapia, e também com cuidados espirituais com meu Babalorixá.

CE - Acha que Tremembé é um ponto de virada na sua carreira? Já impactou de alguma forma sua vida?
DF - 
Eu conto com isso rs! Acredito que sim porque muita gente que não me conhecia passou a conhecer o meu trabalho, inclusive produtores de elenco. Espero que me abram oportunidades para muitos trabalhos porque é o que eu quero, trabalhar no audiovisual com papéis maiores e com trama relevante. Eu sei que estou pronta e quero muito mais! Na minha vida impactou de diversas formas, algumas pessoas me reconhecem na rua, pessoas das artes que não me conheciam e eu admirava vem me parabenizar, a minha confiança aumentou também e sei que posso ir muito mais longe.

CE - Poderemos ver Raissa na já anunciada segunda temporada da série? E o que gostaria de mostrar mais sobre ela que você tem conhecimento, mas o público não?
DF - Eu acredito que ela estará sim na próxima… rs ouvi boatos … Tem tanta coisa que eu gostaria que contassem dessa personagem, como por exemplo, como ela se converteu ao evangelismo?  Ver ela conduzindo Suzane a chegar nessa religião; gostaria de faze-la pregando como pastora da cadeia, de contar como ela se sentiu depois de ter casado e ainda assim voltado para cadeia. Como essa relação se deu, como vive um casamento uma pessoa presa e outra livre? Gostaria que contassem o crime dela, levantassem essas situações de puerpério e depressão pós-parto. Eu aqui fico me imaginando fazendo várias cenas rs.

CE - Você já passou por situações de racismo na infância conforme falou em recentes entrevistas. Como isso impactou na sua vida? E na sua arte?
DF -
 O racismo me violentou mais quando eu era criança porque eu não tinha defesa, não entendia o tamanho dessa estrutura silenciadora. Hoje eu sou letrada racialmente, tenho consciência e sei me defender, e não mais acredito em situações que tentam me deprimir e me humilhar, mas frequentemente eu passo por situações racistas ainda hoje, infelizmente.

Além das violências diretas verbais e físicas tem as sutis da estrutura que são devastadoras, a estrutura precisa ser modificada. Um sintoma, por exemplo, é a pouca oportunidade para atores pretos no audiovisual ou quando tem pessoas negras atuando. Ainda sim a importância dos personagens para a trama é menor. Esse quadro por hora é determinante, então sempre influenciou meu trabalho e nas minhas oportunidades.

Por outro lado, eu amo ser uma mulher preta, e tenho muito orgulho das riquezas do meu povo, das culturas e artes. Desde quando me reconheço por artista trabalho com culturas populares relacionadas, faço parte de coletivos que fazem contação de histórias africanas, afro-brasileiras  e indígenas. Faço muitas peças com essa temática como Sankofa, Estrela do Encante e Jornada Heroica de Maria, que fiz esse ano.

Sou capoeirista do grupo Quilombolas de Luz, onde atuo com a comunidade cozinhando nas festas e doou minhas contações de histórias. Sou filha do Asè do Rio das Pedras  e nesse terreiro colaboro com a formação artística e de letramento racial  dos membros. Eu tenho um sonho que nenhuma criança passe pelo que eu passei na infância… Mas infelizmente ainda acontece, e elas me contam. Eu me sinto a serviço da arte, a serviço da arte preta, porque onde eu estiver atuando, em qualquer temática que eu estiver desenvolvendo vai ser a partir desse meu corpo preto com todas as experiências somadas em mim.

A atriz Débora Fernanda é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Thom Foxx - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana

CE - Além de atuar, você é escritora e já lançou quatro livros. O que inspira sua escrita? Há planos para novas obras literárias?
DF - 
Eu sou colaboradora desses livros, gosto muito de escrever, quando vou ver já tô escrevendo alguma coisa, é meio que natural, uma necessidade! Eu acabei de escrever uma música de capoeira que eu quero muito que se transforme em clipe, submeti a lei Rouanet, e agora estou na busca de patrocinadores, tem toda uma caminhada para essa produção.

Eu sempre sinto vontade de escrever, geralmente está ligado com os próprios processos que estou passando na vida. Acho que escrevo para ver outras realidades, ou novas possibilidades de resolver minhas questões. Tenho cada dia mais me interessado por escrever roteiros. Eu tenho escrito alguns, estão guardados, vai chegar a hora de eu conseguir produzir.

CE - Débora Fernanda se assiste? É muito crítica?
DF -
 Eu me assisto sim… acho que faz parte do processo… até para eu entender o que foi legal e o que não. Gosto muito de fazer isso como forma de exercício, decorar alguns textos, gravar e ver como está, ou pensar novas possibilidades.

Eu sou bem crítica comigo mesma, não queria ser tão assim, tento a cada dia ter mais gentileza comigo. Eu gosto muito de ouvir as pessoas falando do meu trabalho geralmente me dá uma aliviada.

CE - Muitos artistas sonham em fazer novela. E você? Qual personagem dos sonhos?
DF - 
Eu também sonho em fazer novela! Ficar um pouco mais estável porque a novela é longa, se grava por alguns meses, e deve ser uma experiência maravilhosa! Eu tô pronta! Não vejo a hora de ter essa oportunidade! Eu amaria fazer vários papéis … deve chegar ao infinito rs , tenho sonho de fazer uma capoeirista, uma dona da boca, uma mulher influente em uma escola de samba, uma rainha, dona de um bar, funkeira, uma vilã bruxona ….. eu sou capoeirista adoraria fazer mais papéis de ação em que eu possa usar a luta, o jogo de capoeira em si.

CE - Se não fosse atriz, o que seria? E já pensou em desistir da arte?
DF -
 Eu penso em desistir constantemente, tem muito desafio e falta de oportunidade...ainda mais com esses desgovernos que vão cortando leis de incentivo para arte, São Paulo está uma lástima e sei que o resto do pais não está diferente ...  mas daí eu me pergunto, o que é que eu vou fazer? E só me vem  arte como resposta....

Acho que se eu não fosse atriz eu seria dançarina ou escritora, ou ainda tentaria viver da capoeira. Eu não sei acho que morreria sem arte, acho que não seria eu. A arte me salva e me faz perder, mas não me vejo em outro lugar, mesmo porque se eu penso em não ser atriz já penso em outros tipos de arte. Artista é a maneira que eu sei existir.

CE - Quais os próximos projetos de Débora Fernanda?
DF - Espero grandes surpresas do universo! Desejo com todas as minhas forças trabalhar muito mais com audiovisual em 2026. Fazer mais filmes, séries e novelas. Gostaria muito de desenvolver esse clipe de capoeira “A nega voou”, para isso preciso arrumar patrocínio. Tenho alguns projetos de teatro que seguirei fazendo “A Estrela do Encante”, “ Sankofa” “Jornada Heroica de Maria”.

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Gastronomia B+: Na dúvida sobre qual panetone escolher? Veja aqui e como harmonizá-los

Nutricionista explica as diferenças de cada panetone e quais bebidas mais combinam com cada um

14/12/2025 12h30

Gastronomia B+: Na dúvida sobre qual panetone escolher? Veja aqui e como harmonizá-los

Gastronomia B+: Na dúvida sobre qual panetone escolher? Veja aqui e como harmonizá-los Foto: Divulgação

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Do clássico com frutas às versões recheadas, o panetone segue como uma das sobremesas mais consumidas no fim do ano. Presença garantida nas ceias de Natal, o produto ganha novas leituras a cada temporada, ampliando o leque de sabores e atendendo a diferentes perfis de consumidores.

Para ajudar na escolha do panetone ideal, a nutricionista da Água Doce Sabores do Brasil, Cláudia Mulero, explica as principais diferentes entre as opções disponíveis no mercado e como harmonizá-las com cachaças e vinhos para uma experiência completa.  

“A cada ano, o panetone se reinventa e se fortalece como símbolo da mesa natalina. Na Água Doce, reconhecemos o valor afetivo dessa tradição e incentivamos nossos clientes a explorarem novas combinações, valorizando tanto as versões clássicas quanto as que trazem um toque de brasilidade. É uma forma acolhedora e saborosa de celebrar”, destaca Cláudia.

Panetone Tradicional: com massa macia com frutas cristalizadas e uvas-passas, o panetone tradicional é perfeito para quem não abre mão do sabor clássico das celebrações natalinas. A sobremesa é ideal para ser consumida acompanhada de um espumante moscatel ou um vinho mais fortificado, como o Porto.

Chocotone e trufado: favorito dos amantes de chocolate, o chocotone traz gotas generosas que garantem indulgência e agradam adultos e crianças. Já o panetone trufado é uma versão mais sofisticada, com recheio que pode variar entre creme de avelã ou doce de leite. Cachaças envelhecidas em amburana, em bálsamo e com notas trufadas são indicadas para acompanhar os panetones recheados.

Panetone de frutas vermelhas: fresco e aromático, que agrada quem busca sabores menos densos, o panetone de frutas vermelhas é uma releitura contemporânea do clássico natalino. Com uma massa leve e amanteigada pode ser recheado com morango, framboesa, amora e mirtilo. Esta opção de sobremesa harmoniza bem com espumante Brut Rosé e vinho Riesling. Já para quem prefere cachaça, o ideal é que seja de jequitibá ou com infusão de frutas.

Panetone Salgado: versão inovadora que inclui queijos, embutidos como salame, calabresa ou combinações especiais, que levam frango, é uma alternativa para quem prefere sabores não adocicados. Para esta opção, as cachaças envelhecias em carvalho, amburana, jequitibá e em bálsamo são indicadas. Já para os amantes de vinhos, as recomendações passam pelo espumante Brut, Rosé seco, Sauvignon Blanc e o Branco português.

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B+: Especialista explica o que é o red pill, que ganhou repercussão após caso de Thiago Schutz

"Não é influência positiva, é propaganda de misoginia". Especialista em relacionamentos, a Dra. em psicologia Vanessa Abdo explica como a ideologia do movimento afeta nos direitos das mulheres e contribui para o incentivo à violência

13/12/2025 17h00

B+: Especialista explica o que é o red pill, que ganhou repercussão após caso de Thiago Schutz

B+: Especialista explica o que é o red pill, que ganhou repercussão após caso de Thiago Schutz Foto: Divulgação

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O termo “red pill” tem gerado em muitos debates nas redes sociais devido à denúncia de agressão e tentativa de estupro de Thiago Schutz, conhecido como “Calvo do Campari”. O coach foi detido em Salto (SP) no último dia 29 de novembro, após ser denunciado para a Polícia Civil pela namorada. Thiago Schutz é considerado influenciador do movimento “red pill”, por produzir conteúdos e ser autor de livro que aborda o tema.

Mas afinal, você sabe o que significa o movimento “red pill” e por que ele afeta violentamente as mulheres? Para responder a essa pergunta e esclarecer outras dúvidas sobre o tema, conversamos com a doutora em Psicologia Vanessa Abdo.

Sobre o termo

O nome “red pill” (pílula vermelha, em português) vem de um conceito fictício do filme “Matrix” (1999), em que a pílula vermelha seria a escolha para "despertar" e ganhar "consciência" da realidade do mundo.

Com essa narrativa, o movimento red pill passou a criar teorias da conspiração que incentivassem os homens a “acordem para a realidade” e não serem “dominados” pelas mulheres.

“O red pill se apresenta como uma ‘verdade sobre as relações’, mas na prática é um conjunto de ideias que reduz mulheres a objetos, corpos, funções ou serviços e coloca os homens como dominantes e superiores. É uma ideologia que traveste controle e desprezo como se fossem ‘ciência comportamental’. Quando os nossos corpos são objetificados, não tem graça. Isso não é sobre relacionamento, é sobre poder”, afirma a psicóloga Dra. Vanessa Abdo.

Qual a relação do red pill com a misoginia?

“A base do red pill é a crença de que as mulheres valem menos, sentem menos, pensam menos ou merecem menos. Isso é misoginia. O movimento estimula o desprezo pelas mulheres, especialmente as fortes e independentes, justamente porque homens que aderem a esse discurso precisam de parceiras vulneráveis para manter no seu controle. A misoginia não é efeito colateral do red pill, é sua espinha dorsal.”

Por que o red pill é tão perigoso para toda a sociedade, principalmente para as mulheres?

“Porque ele normaliza a violência. Quando você cria uma cultura em que mulheres são tratadas como objetos descartáveis, a linha entre opinião e agressão se dissolve. Esse tipo de discurso incentiva violências físicas, psicológicas, sexuais e digitais, que são camufladas como humor ou “liberdade de expressão”. Uma sociedade que naturaliza o desprezo por mulheres adoece, retrocede e coloca todas em risco.” 

Nas redes sociais, muitos homens fazem uso de um discurso de ódio às mulheres disfarçado de humor. Qual a diferença da piada para a incitação à violência?

“A piada provoca riso, não medo. A piada não tira a humanidade do outro. Quando o ‘humor’ reforça estereótipos, desumaniza mulheres e legitima agressões, ele deixa de ser brincadeira e se torna uma arma. A diferença está na intenção e no efeito. Se incentiva o desrespeito, a dominância ou a violência, não é humor, é incitação.

É importante reforçar que combater a misoginia não é sobre guerra dos sexos, é defesa da vida. Toda vez que normalizamos piadas que objetificam mulheres, abrimos espaço para violências maiores. Precisamos ensinar homens, especialmente jovens, a construir relações baseadas em respeito, não em dominação. E precisamos dizer claramente que humor não pode ser usado como máscara para ódio.”

Na internet, muitas pessoas consideram quem prolifera o movimento red pill como “influenciadores digitais”. Qual a sua opinião sobre isso?

“Influenciadores pressupõem responsabilidade social. Quem difunde ódio e objetificação influencia, sim, mas influencia para o pior. Não podemos romantizar a figura de alguém que lucra reforçando violência simbólica e emocional contra mulheres. É preciso nomear corretamente: isso não é influência positiva, é propaganda de misoginia.”

Sobre o caso de Thiago Schutz, surgiram muitos julgamentos sobre as mulheres que tiveram um relacionamento com ele mesmo cientes do posicionamento que ele adota nas redes sociais. Como você avalia isso?

“Culpar mulheres é repetir a lógica da violência. O discurso misógino desses movimentos é sedutor exatamente porque se disfarça de humor, lógica ou ‘verdade inconveniente’. Relacionamentos abusivos não começam abusivos, eles começam carismáticos. Além disso, mesmo quando uma mulher percebe sinais de risco, ela pode estar emocionalmente envolvida, vulnerável ou acreditar que será diferente com ela. O foco não deve ser questionar as mulheres, mas responsabilizar quem propaga discursos que desumanizam e ferem.”

Como uma mulher pode identificar um homem misógino?

“Existem sinais claros:

* Desprezo por mulheres fortes ou independentes.

* Humor que sempre diminui o feminino.

* A crença de que mulheres devem ser controladas ou colocadas ‘no seu lugar’.

* Incômodo com a autonomia da parceira.

* Falas generalizantes, como ‘mulher é assim’ ou ‘toda mulher quer…’.

Desconfie de homens que desprezam mulheres, especialmente as fortes. Eles precisam que a mulher seja vulnerável para se sentir poderosos.”

Como uma mulher pode identificar que está dentro de um relacionamento abusivo?

“O abuso aparece em forma de controle, medo e diminuição. Se a mulher começa a mudar sua vida, roupas, amizades ou rotina para evitar conflitos, se se sente culpada o tempo inteiro; se vive pisando em ovos, se sua autoestima está sendo corroída, se há chantagem, humilhação, manipulação ou isolamento, isso é abuso. Não precisa haver agressão física para ser violência.”

Como podemos ajudar uma mulher que é vítima de um relacionamento abusivo?

“O principal é acolher, não julgar e não pressionar. Ela já vive em um ambiente de medo e culpa. Oferecer apoio prático, ouvir, ajudar a montar uma rede de proteção, encaminhar para serviços especializados e incentivar ajuda profissional é mais efetivo do que dizer: ‘saia desse relacionamento’. O rompimento precisa ser planejado. Segurança vem antes de tudo.”

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