Correio B

CAUSOS DA BOLA

Correio antecipou em 1982 denúncia da 'Máfia da Loteria' em MS

Jornal soltou um mês antes de revista fato que marcaria jornalismo brasileiro

RAFAEL RIBEIRO

25/01/2019 - 20h35
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Em outubro de 1982, a revista Placar chegava às bancas brasileiras para entrar na história. 

Reportagem de Sérgio Martins escancarou o que viria a ser conhecido como 'Máfia da Loteria': ou seja, um grupo de apostadores do principal jogo de azar da épóca fraudava resultados de partidas para poderem ganhar o prêmio máximo acretando os resultados dos 13 jogos que formavam as apostas dos concursos.

A denúncia rodou o mundo, virou um case de sucesso no jornalismo e até hoje é citada em faculdades como exemplo a ser seguido.

Mas, o que não se sabe pela maioria das pessoas, é que em Mato Grosso do Sul já se sabia da atuação da tal máfia, visto que o caso veio à tona um mês antes pelo Correio do Estado, em reportagem citada pela 'Placar' nas suas linhas que ganhariam a história.

"Biluca tentou subornar dois operarianos", estampava a manchete dos dias 18/19 de setembro daquele ano.

Chamada de 'Gang da Loteria' pelo jornal, é noticiado que o ex-zagueiro do próprio Operário tentou subornar dois jogadores, os atacantes Pastoril e Baianinho, para um clássico contra o Comercial, que aconteceria naquele final de semana, pelo Estadual daquele ano, vencido pelo Manda Brasa, que quebrou uma hegemonia de seis títulos do rival alvinegro (sendo três deles pelo campeonato do Mato Grosso unificado antes da divisão oficial).

A DENÚNCIA

Conforme estampou o Correio em sua edição bomba, a denúncia partiu de Pastoril, ídolo dos dois rivais campo-grandenses, revelado pelo Vasco e que até hoje mora na Capital.

Na manhã do dia anterior à reportagem, ele procurou o então diretor de futebol do Operário, Irineu Farina, para denunciar o esquema: uma oferta de 10 milhões de cruzeiros (cerca de R$ 3,7 mil em valores atuais) para ajudar a dar Comercial no clássico.

A grande surpresa para os jornalistas, segundo relata o jornal, foi o homem acusado pelo suborno: Biluca, um dos heróis da histórica campanha de 1977 do Mais Querido, terceiro colocado naquele Campeonato Brasileiro (história que ainda vamos tratar nessa coluna nobre leitor).

"Graças a Deus estou bem no Operário, ganho um bom salário, sou pobre, mas prefiro continuar assim, vivendo honestamente", disse Pastoril, após relatar o caso em detalhes (leia abaixo).

O ex-zagueiro foia lém e sugeriu que o colega conversasse com o ponta-direito daquele elenco, Baianinho, que sequer fora procurado pessoalmente. "É doloroso saber que existemdessas coisas no futebol brasileiro, sujo nível está caindo cada vez mais ao invés de voluir", disse o jogador.

Farina, visivelmente irritado, no relato da reportagem, disse "que há muito tempo já suspeitava do envolvimento de Biluca com a gang da Loteria Esportiva." "Faltava apenas uma prova. E agora está tudo claro. Tanto é que o Operário já denunciou o caso à Polícia Federal", disse.

Não demorou para a PF dar uma resposta. No dia 21 daquele mês, o caso foi oficialmente arquivado, por falta de provas, conforme estampava o Correio no topo de sua página de esportes.

O delegado federal Antônio Martinez Perez, responsável pelo processo, decidiu pelo arquivamento diante da falta de provas até mesmo para a tentativa de suborno a Pastoril pelo telefone.

Biluca, que chegara ao Operário vindo do América-RJ e ficara no Galo até 1979, se defendeu como pôde nas duas reportagens publicadas pelo Correio. Na histórica 'Placar', contudo, conversas suas com apostadores foram expostas.

Em tempo, o Comerário polêmico terminou com empate por 1 a 1, com o ex-zagueiro entre os presentes no Morenão para acompanhar o jogo.

O ESCÂNDALO

A Loteca, que existe ainda hoje, foi regulamentada no Brasil em 25 de março de 1970 e é realizada desde 19 de abril, quando foi feita uma rodada experimental no extinto estado da Guanabara, com prêmio fixo de 200 mil cruzeiros novos (cerca de R$ 73 em valores atualizados) e 100 mil bilhetes distribuídos. O jogo número um foi um clássico Flamengo e Fluminense. As vendas de apostas foram feitas em 48 barracas improvisadas.

Naquela época, era necessário acertar os resultados de treze jogos selecionados pela Caixa para ganhar o prêmio. Durante a fase experimental, era possível até marcar treze palpites triplos (quando todas as colunas são marcadas em uma linha), mas ninguém chegou a fazer os treze pontos — as chances matemáticas eram de 1:1 594 323 para obter o feito. Oito apostadores foram premiados com doze pontos e dividiram o prêmio líquido, com cada um recebendo cerca de 10 mil cruzeiros novos (R$ 4 hoje). Outras rodadas experimentais foram realizadas em 3 de maio, também na Guanabara, e em 17 de maio, em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.

Oficialmente, os bolões começaram em 7 de junho, que foi também a primeira vez em que foram acertados treze pontos. O futebol já era febre no País, antes mesmo de a Seleção Brasileira ter faturado sua terceira Copa do Mundo, o que gerou muitas filas nas casas de apostas. O jogo mínimo custava 2 cruzeiros novos, com um duplo; o jogo com um triplo custava três cruzeiros novos.

O apostador preenchia um cartão e entregava-o na lotérica, que usava uma máquina manual da IBM, chamada Port a Punch, para furar dois cartões, um dos quais ficaria como comprovante com o apostador.Ao final de todos os jogos de domingo, um computador da Caixa Econômica Federal processava as apostas, em "apenas" dezessete minutos, de acordo com a revista Placar. O computador seguia lendo cartão por cartão até encontrar um com nove pontos (o mínimo para o prêmio ser rateado) e, então passava a separar todos os cartões com nove pontos até achar algum com dez; a partir daí seguia o mesmo processo, em busca de cartões com onze, doze e, eventualmente, treze pontos.

Segundo dados da própria Caixa, Campo Grande teve exatos e curiosos 13 acertadores da Loteca entre 1970 e 1984. Os dados, porém, são imprecisos, visto que a loteria só chegou em meados de 1971 e os prêmios eram pagos (e contabilizados) por Cuiabá até 1977.

Em 1978, no auge de popularidade da Loteria Esportiva, surgiram os primeiros boatos sobre uma máfia armada entre apostadores que se revezavam e faturavam prêmios gordos em dinheiro.

A coisa chamou a atenção primeiro pelo 'Jornal da Tarde', extinto jornal de São Paulo (SP), que denunciou um jogador que teria sido comprado da Francana, clube interiorano que estava nas primeiras divisões dos campeonatos Paulista e Brasileiro naquele ano, mas assim como no caso do Operário, a coisa foi arquivada por falta de provas. Mas elas viriam.

Em 1979, Milton Coelho da Graça, então diretor de redação da revista Placar, comentou com Juca Kfouri, então editor de projetos especiais e que cuidava da seção sobre a Loteria Esportiva, que vinha notando algumas coincidências quando poucas pessoas ganhavam em um teste.A pedido de Milton, Juca foi a Brasília (DF) pedir para ver os bilhetes premiados, mas o pedido foi negado, com a alegação de sigilo bancário.

Nesse mesmo ano, Milton deixou a Editora Abril, que publicava 'Placar', e Juca foi promovido a seu posto. Ainda com as suspeitas em relação à Loteria Esportiva, todo o fim de mês provocava a redação: "Quem é o macho para descobrir a sacanagem da Loteria Esportiva?" Mas ninguém se pronunciava.[18] Em outra viagem a Brasília, pediu novamente para ver os cartões ganhadores. Desta vez, mostraram-lhe alguns: "Nego colocava jogo triplo em partida que se cravaria seco", conta Juca. "Corinthians × Juventus, triplo. Flamengo × Olaria, triplo. Vasco × Botafogo, Vasco. Atlético-PR × Coritiba, Coritiba. Inter × Livramento, triplo. Não é possível. Eles cravam triplo em jogo fácil e seco para jogo difícil. Tem alguma coisa estranha nisso", disse o jornalista, atualmente na 'ESPN Brasil' e 'Folha de S. Paulo' em seu livro, "Confesso que perdi".

O volante de apostas da Esportiva nos anos 1970: todomundo jogava em busca do sonho de virar milionário

Quando comentou suas suspeitas na redação, no dia seguinte, conseguiu um voluntário para a empreitada: Sérgio Martins. Juca deu a ele prazo de um ano, cumprido à risca: no número 648, de 22 de outubro de 1982, foi publicada extensa reportagem sobre o caso, com denúncias de corrupção e manipulação de resultados. 

Doze páginas de nitroglicerina pura sobre um escândalo gigantesco, abarcando mais de uma centena de pessoas do universo do futebol.

Um trabalho de formiguinha de Sérgio Martins, que venceu o Prêmio Esso de jornalismo e farejou pista de uma quadrilha em Santos e, a partir daí, passo a passo, montou o quebra-cabeça de uma história assaz alarmante.

"A Loteria Esportiva é séria até a bola rolar", admitiu o radialista Flávio Moreira, um dos envolvidos e que foi denunciante que topou expor toda a mutreta. Nenhum dos 125 denunciados, entre jogadores, dirigentes, árbitros, técnicos e personalidades, foi preso. 

O petardo jornalístico de 'Placar' foi sucesso absoluto leitores e a opinião pública. O mesmo não ocorreu entre a chamada grande mídia, que preferiu contestar a reportagem em vez de cavar ainda mais fundo.

A simpática zebrinha da 'Globo' estreou em 1978, ápice da popularidade da Loteca, e até hoje é lembrada pelos fãs de futebol

“Durante uma semana, apanhamos mais que Judas Iscariotes. Foram páginas e páginas de jornais repletas de desmentidos. Diariamente o Jornal Nacional mostrava os denunciados com suas versões. Placar, cuja edição vendera mais de 300 mil exemplares, era acusada de trair o futebol brasileiro, e a Caixa Econômica atestava a credibilidade da loteria que bancava”, conta Juca, em suas memórias.

O desfecho da história você já deve imaginar…

Pois é: não deu em nada!

As edições seguintes de 'Placar' trouxeram novas revelações e personagens. Porém, após mais de três anos de investigação, a Polícia Federal deu por encerrado o caso com somente 20 pessoas indiciadas. A tradicional lerdeza da Justiça fez com que os crimes prescrevessem e ninguém foi punido.

O gerente de Loterias da Caixa em 1989, Juarez José de Lima, garantiu à época que o escândalo não chegou a abalar a loteria. Mas os tempos áureos do jogo jamais voltaram, seja pela descrença de que seja 100% limpo para os mais antigos ou a rivalidade com outras loterias, como Loto e Sena, para os mais jovens.

A histórica Placar de 1982: Prêmio Esso e mancha eterna na credibilidade do futebol brasileiro

*Amigos e amigas leitores do Correio do Estado, o Campeonato Estadual de futebol de Mato Grosso do Sul começou. E, para embalar a bola que vai rolar pelos gramados, temos o prazer de apresentar a vocês nossa nova coluna: 'Causos da Bola'.

Semanalmente, sempre aos sábados, convidamos você a viajar no tempo da história esportiva sul-mato-grossense através dos 64 anos acumulados nas páginas do jornal mais tradicional e querido do Estado.

Embarque com a gente nesta máquina do tempo e reviva junto conosco o que de melhor nosso arquivo tem a oferecer sobre os fatos esportivos. 

Legenda da Foto

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
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Thiago Ferraz de Oliveira,
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Paulo da Costa Oliveira,  
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Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
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Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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