Aos 25 anos, Isabelle Drummond já tem muita história para contar. Também, pudera. Desde os sete, ela bate ponto nos estúdios da Globo. Depois de pequenas participações em “Laços de Família” e “Linha Direta”, a atriz se tornou conhecida ao interpretar a Emília de “Sítio do Picapau Amarelo”, entre 2001 e 2006. De lá para cá, cresceu sob os olhos do público, que a acompanhou na pele de mocinhas de produções como “Cheias de Charme” e “Novo Mundo”. Mas, apesar de estar acostumada com o protagonismo ou papéis de destaque, a Manuzita, de “Verão 90”, trouxe elementos novos à sua trajetória. Afinal, trata-se de uma personagem para lá de irreverente. “Manuzita, realmente, é fora do padrão de todas as mocinhas que eu já fiz. Ela é muito autêntica e tem a comédia por trás. Construir esse lugar foi um desafio para mim”, analisa.
Além de interpretar uma protagonista inusitada, “Verão 90” deu a Isabelle a chance de reviver a Emília. Em janeiro deste ano, a atriz se vestiu como a boneca de pano que a revelou para gravar cenas da novela das 19 horas. O momento foi tão nostálgico quanto divertido. “Foi uma surpresa para mim. Essa novela é feita de homenagens: à televisão, à história da arte e ao teatro. A Manuzita passeou por alguns lugares: MTV, pelo teatro, ela tentou fazer cinema, ela tentou tudo”, descreve.
P – A reta final de “Verão 90” está chegando. Que análise você faz desse trabalho?
R – Acho que a Manuzita me exercitou em algumas áreas bacanas. Os personagens ensinam muito à gente. Até mesmo um personagem que é um vilão, conhecendo as emoções, você aprende alguma coisa. A Manuzita me ensinou muito essa coisa de lidar com todas situações com certo humor.
P – Mas esta não é a primeira vez que você faz humor na tevê...
R – Eu fiz comédia com o Jorge Fernando em “Caras & Bocas”, mas a minha personagem em si não era a mais cômica. Naquela época, eu economizava muito, tinha medo. E dessa vez, eu não tive medo em arriscar. E acho que todo mundo teve esse compromisso com esse risco que a gente correu. Mas o Jorge é muito responsável e nos dá segurança. Ainda que algumas coisas ele soubesse que precisava equilibrar, não passava para que a gente não ficasse inseguro. Ele deixa tudo fluir bem e deu muito certo.
P – Você chega a se identificar com algo da personalidade de Manuzita?
R – Eu tenho alguma coisa dela, mas a minha personalidade é muito diferente. Eu não sou tão expansiva, não chego no lugar já falando alto. A Manuzita é essa pessoa que chama atenção, abraça, grita e ri. Eu sou mais calma, mas, assim como ela, eu tropeço e quebro tudo. Então, fui aproveitando algumas coisas minhas.
P – Nas últimas semanas, Manuzita, que voltou a fazer sucesso, ganhou um programa na Globo. De alguma forma, essa fase da personagem se relaciona com a sua vida?
R – É muito interessante essa fase. E, sim, me lembra muitas coisas que vivemos aqui nos bastidores. A coisa do contrato, ela tem um crachá, vai lá e arruma um crachá para a mãe dela. São coisas muito da Globo, quem é funcionário entende. E era um sonho da Manuzita voltar para a Globo, onde ela apresentou um programa infantil. Também tem a relação com o João (Rafael Vitti). É o ápice da realização deles dois. Além de estarem bem na vida, eles vivem esse momento profissional juntos.
P – Aliás, você e Rafael Vitti construíram um casal carismático. Como foi esse trabalho em conjunto?
R – No início, fizemos aula de dança. A gente dançava de uma forma engraçada e começamos a encontrar algumas coisas divertidas para os personagens. Até que decidimos usar os nossos erros nos personagens, como, por exemplo, bater a cabeça na hora de dar o beijo. Os mocinhos são atrapalhados, eles não são aqueles mocinhos perfeitos. Isso foi legal e fomos combinando tudo.
P – O encontro com Claudia Raia, que vive Lidiane, mãe de Manuzita, também tem rendido cenas engraçadas em “Verão 90”. Como tem sido a experiência de dividir o “set” com ela?
R – Perfeito. Realmente, foi um encontro muito especial na minha carreira, em termos de parceria, de cenas e para a vida mesmo. Nos tornamos grandes amigas. Construímos juntas o tom dessas personagens e foi muito bom para ambas. Fomos encontrando uma na outra as loucuras delas e justificando também uma na outra. Assim, foram surgindo as personagens. Foi muito legal porque existe uma herança ali.
P – Como assim?
R – Cada uma ter uma identidade. Ela é uma pantera e a Manuzita é uma atrapalhada. Ela não é tão charmosa, é toda meio errada. E eu tirei todas os traços dessa segurança feminina. Acho que a Manu é muito maluca, quem achar charmoso é um acidente (risos).
P – Fora das gravações, você faz o tipo “low profile”. O que instiga você em sua profissão, que exige tanta exposição?
R – A minha vida é bem simples. Eu acredito na arte, acho que esse é o meu olhar. Eu acredito em várias coisas: no social, que as coisas podem ser modificadas, na união de pessoas, de esferas. A gente chama de grupos que já estão ajudando individualmente, mas quando se unem dá para fazer coisas. Enfim, eu acredito em várias coisas. Mas, na minha carreira, eu acredito muito na arte. Recentemente, eu falei isso com amigas minhas de profissão, que são mais velhas do que eu. Acredito mesmo nessa doação para o ofício, para os personagens. Esse é o lugar que eu acredito, as outras coisas são consequências disso.
Vida real
Isabelle Drummond faz o tipo discreta. Mas, quando a causa é justa, ela sabe como ninguém aproveitar sua imagem e fama de artista para mobilizar. À frente da ONG 197 Casa, a atriz ajuda comunidades carentes. Certa vez, inclusive, reuniu amigos para reformar a casa de uma família que havia pegado fogo, no Rio de Janeiro. “O fato termos a nossa vida exposta, ter essa representação para as pessoas, é uma coisa boa, mas também traz uma responsabilidade. Mas sempre dá para a gente usar e trazer uma transformação”, acredita.
Foi pensando em como poderia aproveitar melhor sua própria visibilidade que Isabelle deu início à ONG. O projeto começou também discreto, sem nenhuma divulgação na imprensa. A ideia era, além de preservar os beneficiados, angariar apenas ajudas que valessem a pena. “É bacana divulgar quando isso pode ajudar quem está ajudando e quem vai ser ajudado. Por isso que a gente pensa sempre no que vai divulgar e em como isso vai ser feito”, explica.
Mãe e filha
Assim como Manuzita e Lidiane em “Verão 90”, Isabelle Drummond também possui uma relação de cumplicidade com a mãe, Damir. “A minha mãe representa uma inspiração de postura, caráter e índole. A minha mãe é o meu pai”, afirma a atriz, que perdeu o pai assassinado a tiros, em 2007. Foi a mãe que sempre a levou nos testes de televisão e mantinha os pés da filha no chão.
Mas, diferentemente de Lidiane, Damir nunca foi impulsiva e nem incentivava Isabelle a competir com outras atrizes nos bastidores. “Existiam muitos elogios ao redor, então a minha mãe sempre deu uma dosada nisso, até para que eu não me perdesse nesse caminho”, lembra.
Instantâneas
# Protetora dos animais, Isabelle Drummond já foi vista alimentando cachorros de rua nos arredores do Projac.
# Entre 2014 e 2016, Isabelle namorou o cantor Tiago Iorc.
# A atriz é vegana.
# Para viver Manuzita, Isabelle precisou adotar um tom de louro platinado nos cabelos. “Adoro me emprestar para personagens e transformações”, conta.