Aproveitamento das margens dos córregos Prosa e Segredo como um grande parque linear; implantação de inúmeras estações de embarque e desembarque; e áreas verdes com equipamentos de lazer, além de implantação de ciclovias. Essas obras, hoje realidade em Campo Grande, que no dia 26 comemora 116 anos, não foram idealizadas recentemente. Elas “nasceram” há 38 anos e faziam parte de um projeto que seria a revolução urbanística da cidade. Uma mudança aguardada e cujos traços foram apresentados com “pompa e circunstância”.
A expectativa era grande naquele dia 14 de julho de 1977.
Motivo: enfim, seria apresentado o projeto do urbanista Jaime Lerner, com pretensões de fazer de Campo Grande, a “Cidade Morena” e “Capital Econômica” de Mato Grosso, muito mais charmosa e graciosa, com melhorias no presente com os olhos voltados para o futuro, como era voz corrente pelos entusiastas das mudanças.
O prefeito era Marcelo Miranda Soares, engenheiro, que, depois de administrar alguns órgãos do Estado, conquistou o comando do município, com apoio do governador Pedro Pedrossian e do seu antecessor Levy Dias. Ao assumir, decidiu apostar em uma cidade moderna.
Ele tinha dois principais motivos para isso: a obrigação inerente ao cargo de fazer o melhor pelo município e, por ter participado de discussões em diversas esferas políticas, recebera a certeza da divisão de Mato Grosso, com a consequente criação do Estado de Mato Grosso do Sul. Assim, contratado por ele, Jaime Lerner aportou com sua equipe para dar início aos trabalhos.
Desde fevereiro daquele ano, portanto, o futuro projeto de mudanças tornou-se motivo de comentários na cidade. O jornal Correio do Estado acompanhava a evolução dos trabalhos. Na edição de 26 de fevereiro, por exemplo, uma das manchetes era “Transportes de massa, área de lazer e humanização, as metas de Lerner para Campo Grande do futuro”. O jornal de 23/24 de abril informava: “Em 150 dias, Campo Grande terá plano de urbanização”. A chegada do mês de julho trouxe também o tão esperado “presente e futuro” da já sonhada Capital de Mato Grosso do Sul. Pastas e pastas, além de slides, integravam o programa “A Estrutura Urbana Proposta para Campo Grande”. A data da apresentação não poderia ter sido mais emblemática: 14 de julho, ainda hoje nome da principal rua da cidade e para a qual havia previsão de intervenção urbanística especial, ou seja, o “calçadão”.
O mais interessante é que, apesar de ser a obra que mais causava expectativa, não se concretizou no local previsto, sendo implantada apenas num trecho da Rua Barão do Rio Branco.
No dia da apresentação pelo urbanista Jaime Lerner, jornalistas lotaram o gabinete do prefeito Marcelo Miranda. O projeto impressionou a todos.
O jornal Correio do Estado, na edição do dia seguinte, 15 de julho, trouxe reportagem de uma página apresentando o projeto. “Calçadões: a grande vitória do pedestre; transportes, a salvação do trabalhador” foi o título da matéria principal. Os demais: “Um programa muito arrojado”, “O Centro Cultural, áreas de lazer, os fundos de vales, a urbanização” e “Ônibus voltam ao centro: um a cada 5 minutos nos bairros”. Marcelo deu início às obras, mas deixou a prefeitura para assumir o governo. O projeto foi interrompido em algumas administrações. Hoje, o ex-prefeito, ex-senador e ex-governador Marcelo Miranda fala com orgulho do projeto e alerta:
– Cidade sem planejamento está liquidada.