Em meio a correria do maior evento de moda da América Latina, a SPFW (São Paulo Fashion Week), tive a oportunidade de entrevistar a modelo e top internacional Isabeli Fontana.
Algumas vezes dentro da minha atuação no jornalismo de moda entrevistei a Isabeli, e hoje depois de alguns anos ela é a nossa Capa do Correio B+ da semana.
Confesso que fiquei muito feliz, porque sei que a agenda dela é algo muito difícil.
Esse ano Isabeli completa 25 anos de carreira. Uma das maiores tops do mundo é referência, se consolida na moda e acompanha as revoluções e avanços no mercado desde os anos 90.
“Muitas coisas que faziam sentido nos anos 90, hoje em dia não fazem mais. Isso se percebe não apenas na moda, mas na sociedade em geral. Acredito que os anos 2000 trouxeram o debate da diversidade, da inclusão de novos corpos que a moda não é mais aquela que dita regras, mas é um guia de referências de como vamos nos expressar na maneira de vestir”, explica.
Nesse longo percurso, ela já trabalhou ao lado de nomes da moda conhecidos em todo o planeta como: Armani Jeans, Bulgari, Cesare Paciotti, Chanel, Dolce & Gabbana, Oscar de la Renta, Escada, Saks Fifth Avenue, Gap, H&M, Moschino, Ralph Lauren, Versace, Versus, entre muitas outras.
“São 25 anos de carreira das quais eu me orgulho muito!”, comemora a top.
Além disso, ela está constantemente nas listas de ícones das modelos mais sexy e bem pagas do mundo. Fontana foi uma das angels da Victoria's Secret por anos, participou sete vezes do calendário Pirelli e segundo a revista Forbes em 2007 foi a 11ª modelo mais bem paga do planeta.
Recentemente, Isabeli tem falado cada vez mais abertamente sobre como foi o seu processo de autoestima durante a carreira, uma vez que sempre trabalhou em um meio que sempre ditou padrões estéticos para a sociedade.
Desde muito nova na profissão, Isabeli hoje investe na busca pelo autoconhecimento e tem uma vida baseada em práticas saudáveis, assuntos que tem compartilhado com os seus mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais.
“Durante muitos anos eu tive de lidar com as minhas inseguranças. No início eu era tida como uma modelo comercial e o meu desejo era fazer o Fashion”, relembra ela.
Recém-chegada de Milão, a modelo foi um dos nomes do desfile inspirado no game “Free Fire”, onde modelos e gamers desfilaram vestindo releituras das roupas dos personagens.
A edição N52 da São Paulo Fashion Week levou um dos jogos mais populares do mundo em suas passarelas.
“Foi algo diferente do que estou acostumada a fazer. Acho que foi a primeira vez que ‘vesti’ uma roupa de videogame. Foi um desfile inusitado que misturou realidade e tecnologia. A era Matrix chegou!”, contou Isabeli.
O SPFW marca a volta dos desfiles presenciais, após quase dois anos com desfiles somente on line, por conta da pandemia.
A pedido do Santander, a Garena – publisher e detentora dos direitos do Free Fire – selecionou as 20 skins (trajes dos personagens) mais cobiçadas pelos jogadores, que tiveram seus looks adaptados e materializados pelo stylist Daniel Ueda e pelo estilista Alexandre Herchcovitch.
As skins escolhidas foram:
- Sakura; Hip Hop;
- Kit Angelical;
- Hypado;
- Sombra Roxa;
- Rolezeiro;
- Gola Alta;
- T.R.A.P. Zika e Brabo;
- T.R.A.P. Chavosa e Chavoso;
- Coração Urbano;
- Mano Milgrau;
- Calça Angelical;
- Gatitude;
- Loucura Rebelde; e Espírito Púrpura.
Confira com exclusividade a entrevista que uma das maiores modelos do mundo deu para o B+ dessa semana. Nela Isabeli Fontana fala sobre sua carreira, ser mãe jovem e padrões estéticos.
CE - Como está sendo essa experiência na SPFW (São Paulo Fashion Week) depois de tanto tempo e após esse período?
IF - Fazia muito tempo que não vinha a Bienal (local onde acontece o SPFW), e com a pandemia fiquei sem encontrar amigos queridos da moda.
Então foi a oportunidade de revê-los e agora vacinados dar um abraço neles. Reencontrei o Dani Ueda, o Paulo Borges, o Silvio Giorgio, o Pedro Sales, amigos com quem já tive o prazer de desenvolver trabalhos maravilhosos.
Adoro estes acontecimentos e fiz questão de apoiar a retomada do SPFW nesta edição, um evento importantíssimo para a moda nacional e todos os profissionais da área.
Vim trabalhar, mas também prestigiar a criatividade, a inovação e arte que o SPFW traz.
CE - Você como nome referência na moda mundial poderia voltar aos anos 90 e nos dizer a diferença de ser modelo lá atrás e hoje?
IF - As diferenças são muitas. A moda não é algo estático, ela dialoga com o seu tempo.
Muitas coisas que faziam sentido nos anos 90, hoje em dia não fazem mais.
Isso se percebe não apenas na moda, mas na sociedade em geral.
Acredito que os anos 2000 trouxeram o debate da diversidade, da inclusão de novos corpos que a moda não é mais aquela que dita regras, mas é um guia de referências de como vamos nos expressar na maneira de vestir.
Não é mais sobre roupas e acessórios, é também sobre personalidade, atitude.
Ao mesmo tempo, sinto que antes tínhamos mais tempo para pensar e fazer "moda".
Os processos eram mais longos, muitos trabalhos levavam semanas para ficarem prontos. Hoje, com o digital, é tudo em real time. Existe uma ansiedade em consumir imagem de moda da mesma forma de descartá-la e passar para a próxima.
CE - Entre as dificuldades que já enfrentou em sua carreira, o que aprendeu durante esse tempo e traz para o seu momento atual principalmente sobre padrões de beleza?
IF - Durante muitos anos eu tive de lidar com as minhas inseguranças. No início eu era tida como uma modelo comercial e o meu desejo era fazer o fashion. Questionava os meus bookers: "por que só faço trabalho comercial? Eu quero fazer o fashion!".
Para alguns eu era muito sexy, para outros eu não tinha nada de particular.
Até que um dia eu fui para um casting sem ser convidada. "Lá me perguntaram: Isabeli o que você está fazendo aqui?".
Eu respondi que queria mostrar o meu estilo de desfilar. Eles disseram que já conheciam, que já sabiam quem eu era. Foi a minha chance de mostrar aquilo que chamei de "meu novo jeito de desfilar".
A partir dali comecei a fazer todos os desfiles importantes imprimindo um estilo andrógeno, meio tomboy que adoro.
Então o que aprendi é que muitas vezes a gente tem que ser ousada e correr alguns riscos para dar um passo à frente na vida.
Eu sabia que poderia fazer as marcas fashion, eu acreditava nisso. Achei um jeito, meio rebelde talvez, de mostrar que eu era capaz, e deu certo!
CE - Hoje você tem práticas de saúde e beleza diferentes de outros momentos da sua vida? Porque?
IF - Eu sempre fui uma pessoa interessada em saúde e alimentação. Lembro de ir aos trabalhos e ficar lendo livros sobre esses assuntos enquanto estava nos backstages.
Com a vida super corrida viajando de um canto para o outro eu tinha pouco tempo para me aprofundar no assunto.
Quando a pandemia aconteceu e todos nós tivermos de ficar em casa, retomei os estudos sobre saúde e alimentação.
Me formei em health coach em um curso online de uma faculdade americana, me tornei instrutora de kundalini yoga, isso são coisas que me interessam e tento repassar um pouco desse conhecimento nas minhas redes sociais.
CE - Divide com a gente um momento inesquecível da sua carreira?
IF - Tive tantos momentos inesquecíveis... Na SPFW um momento especial foi quando o meu filho Zion foi me ver desfilar pela primeira vez.
Fiquei emocionada! Eu tenho a oportunidade de trabalhar com pessoas criativas que pensam a frente do nosso tempo, é isso que me motiva a continuar na moda por tanto tempo.
CE - Sobre a Isabeli mãe...
Como é esse papel e como foi para uma modelo internacional conciliar a gravidez com o trabalho?
IF - Não foi fácil! Eu estava numa fase de ser requisitada para todos os principais trabalhos, minha carreira estava a mil por hora.
Quando soube que estava grávida algumas pessoas disseram que iria prejudicar a minha carreira.
Meu desejo em ser mãe era tão grande e meu amor pelo meu filho ainda na minha barriga era imenso que em nenhum momento eu pensei em abortar ou qualquer coisa assim.
Fui uma das poucas modelos da época a ser mãe ainda jovem. Hoje serve para mostrar que é possível ser mãe e ter uma carreira consolidada.
CE - O Brasil é a sua casa, desfilar aqui tem outro gostinho?
IF - Sem dúvida! Eu sempre carrego o Brasil comigo. Não é raro me ver usando estilistas nacionais nos eventos internacionais.
CE - Faria algo diferente na sua carreira ao longo desse caminho?
IF - Toda escolha tem uma consequência. Talvez, hoje com maturidade, eu tivesse feito outras opções, mas daí eu perderia o aprendizado que tive com essas escolhas, a história seria outra. São 25 anos de carreira das quais eu me orgulho muito!
CE - Deixa uma mensagem para as jovens modelos dessa geração que tem você como referência?
IF - Tenham personalidade, acreditem nos seus potenciais.
Vocês são jovens, enérgicas, falam a linguagem das mídias sociais, estão atentas ao que o mercado de moda demanda. Meu conselho é manter o pé no chão, a moda não é só glamour, não é só passarela, tapetes vermelhos e pessoas bonitas.
Na trajetória tem muita ralação, acordar cedo e dormir tarde, ficar longe das pessoas que amamos, ouvir muitos nãos, momentos de ansiedade, trabalhos que não confirmam... O importante é acreditar, aprender a respirar e seguir em frente!
CE - Quais os seus planos atualmente?
IF - Estou entrando na construção de habitações sustentáveis de baixo impacto. Ano que vem vocês vão ouvir falar mais deste projeto. Além disso, acabei de tirar a minha cidadania italiana. O ano de 2022 já está cheio de novidades, sem dúvidas.




