Pernambucano nascido na cidade de Exu, terra natal de Luiz Gonzaga, Begèt de Lucena – radicado em Campo Grande desde os nove anos – diz que pretende na noite de hoje, no Teatro do Mundo, “muita impactação poética”, ao apresentar uma sonoridade de ritmos brasileiros como o xote e o maracatu
“com a coisa cigana que me encanta muito”.
No show “Pau, Pedra & Corda”, ele subirá ao palco travestido e acompanhado de Será, ao lado de Ton Alves (violões), Dhonattas Oliveira (violões), Adriel Santos (percuteria) e Lucas Rosa (percussão).
“Cygano”, “Bolero de Criolo” e “Força Bruta” estão entre as canções confirmadas no repertório da apresentação – e que terá dois convidados especiais: Lauren Cury e Jerry Espíndola. Além da evocação ao Nordeste, a música de MS também será reverenciada sob a verve autoral de Begèt, dono de timbres singulares, do grave ao agudo, e de uma marcante presença cênica.
Para fazer um mimo à sua mãe, Francisca Alves de Araújo Belo, e para a sorte do público, pode ser que Begèt cante “Trem das Onze”, o clássico de Adoniran Barbosa (1910-1982) que ela adora ouvir na voz do filho.
O que você preparou para esse show? O que o público pode esperar?
Esse show é um sonho de muito tempo atrás que eu tinha, de dar um formato a essa ideia. Uma coisa muito sensorial e acústica. As cordas, os violões, as texturas brincando com os ritmos brasileiros, a coisa flamenca, a coisa cigana que me encanta muito e as percussões ritmando também com o xote, o xaxado, o maracatu.
É um show de muita impactação poética, sabe? As pessoas que me acompanham, os fãs, as pessoas que gostam do meu trabalho, que se interessam e se encantam pelo meu trabalho, já sabem dessa minha nuance de brincar com o teatral, a poética.
Então, todos podem esperar muita emoção. É um show costurado em que eu faço um passeio aplicado pela poesia, pela minha origem nordestina, pernambucana, sertaneja, vindo do Brasil profundo até o Matão, o nosso Mato Grosso do Sul. Esse ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico, esse litoral central. As pessoas podem esperar muita emoção.
Quem é o Begèt de hoje?
Ainda hoje [quarta-feira], eu estava falando sobre o Begèt criança, o Begèt menino. E eu era uma criança feliz e muito sensível, esquisita.
E acho que continuo sendo. Curioso, humanizado. E depois desse evento que realmente marcou a minha vida, um evento trágico, mas que marcou a minha vida no sentido de transformação, me possibilita dizer que eu sou outro. E serei outros enquanto estiver vivo, sendo amado e protegido.
O que pensa da sua arte e da vida após o atentado de 11/10/2024?
Eu sempre soube que a arte, o amor, é a palavra que melhora, é a coisa que melhora. Sempre soube. E eu sempre soube que, sem vaidade nenhuma mesmo, a minha voz era o que eu tinha de melhor em estandarte, em projeção, fazer chegar lá, sabe?
E a minha visão de mundo, na verdade, não me alterou, mas me retornou a um ponto em que eu já havia sido alertado e acusado de que esse meu trabalho com a música, com a arte, é mais do que um trabalho. É um ofício, e eu tenho que levar isso adiante. Faz parte da minha missão, faz parte da minha herança na Terra.
É claro que um evento como esse transmuta a gente. É muito clichê dizer isso, mas para quem passou e [para quem] está e esteve comigo, sabe do que estou dizendo, dessa transformação. Estou olhando as coisas e o mundo, os meus dias, com mais tranquilidade. Alerta e tranquilo, sobretudo.
Como anda a sua saúde?
Estou muito bem, muito saudável. Estou sendo cuidado, sendo amado, ainda hoje protegido espiritualmente. Eu tenho uma legião de proteção. Sou muito grato ao astral que me protege, que me cuida. Ainda hoje eu estava cuidando disso, da minha saúde.
Estou muito bem, me sinto muito vivo e estou com fome.
O que mais diria aos leitores e ao seu público?
Eu gostaria que todas as pessoas que já me viram em algum momento, todas as pessoas que já foram aos meus shows, todas as pessoas que já me ouviram cantar baixinho ou gritando, que estivessem comigo nesta sexta-feira, nesse dia 31/1. Vai ser um show muito bonito, muito memorável.
Eu trago uma extensão desse show que foi projetado de uma maneira e que vai se desdobrando para esse formato em que as pessoas que forem me ver e ouvir vão encontrar. É um show lindo. Sou muito suspeito, mas estou completamente submerso nisso e faço esse convite. Faço votos de que todos vocês me encontrem feliz e cantando.