Descubra como a síndrome do fim de ano pode afetar seu bem-estar e confira as dicas de especialistas para driblar as angústias e ansiedades que afetam tanta gente durante essa época
Passado o Natal, nem tudo é expectativa para a festança de Réveillon. Muitos indivíduos enfrentam a chamada síndrome do fim de ano, fenômeno psicológico que traz à tona sentimentos de ansiedade e insatisfação.
Um estudo da International Stress Management Association (Isma), uma organização sem fins lucrativos, revela que 80% das pessoas economicamente ativas apresentam níveis maiores de estresse e ansiedade no fim do ano.
A sensação melancólica de encerramento de ciclos tem explicação científica e meios de ser contornada. Segundo a psiquiatra Andreia Galastri, a síndrome está relacionada à sensação de fechamento de um ciclo, em que os indivíduos reavaliam suas metas e realizações.
“As pessoas lembram das metas não cumpridas e começam a se martirizar com isso”, afirma Andreia, que é professora do Instituto de Educação Médica (Idomed).
Durante essa época, a pressão para limpar a casa, organizar compromissos e presentear amigos e familiares pode se acumular, levando a um aumento da ansiedade.
“Em vez de relaxar e curtir cada festa, a pessoa acaba ficando mais preocupada e estressada”, explica a especialista.
Esse estresse é intensificado por obrigações sociais e a necessidade de apresentar uma imagem positiva para os outros.
Além disso, para aqueles que enfrentam problemas familiares ou lutos, o fim do ano pode ser especialmente difícil.
“Datas comemorativas ressaltam ausências e podem reviver sentimentos de tristeza e carência”, alerta Andreia Galastri.
A pressão para manter relações sociais e lidar com conflitos familiares pode gerar um desgaste emocional significativo.
CUIDAR DE SI
Para lidar com a síndrome do fim de ano, a psiquiatra sugere que as pessoas adotem uma abordagem mais leve e consciente.
“O que se deve fazer é o que deveria ser praticado durante todo o ano: cuidar de si, estabelecer limites e priorizar o bem-estar”, recomenda.
É fundamental reconhecer que a autocobrança excessiva e as comparações sociais podem tirar o prazer das celebrações. Portanto, encontrar um equilíbrio pode ser a chave para um fim de ano mais tranquilo e gratificante.
Para a psicóloga Jocely Burda, os conflitos familiares nessa época podem ser desencadeados por uma série de fatores – desde expectativas irreais até a sobrecarga de compromissos e cobranças externas.
Segundo ela, os conflitos frequentemente surgem por conta das altas expectativas em relação aos bons momentos durante as festas.
“A expectativa de que tudo será perfeito – na decoração, na comida, nos presentes – pode gerar frustração, principalmente quando a realidade não corresponde ao ideal”, explica.
Além disso, as diferenças individuais, muitas vezes não respeitadas, e as cobranças familiares podem intensificar os desconfortos.
A psicóloga destaca que, em alguns casos, se o simples ato de participar de uma reunião de família traz lembranças desagradáveis e aflora sentimentos não resolvidos, a melhor opção pode ser evitar o evento.
“Cada um deve avaliar sua própria dor e as consequências de sua decisão. Situações mal resolvidas sempre voltam à tona”, afirma.
Para aqueles que decidirem participar, Jocely recomenda que o foco seja evitar confrontos e ser mais humilde.
“Este não é o momento de querer ter razão. Falar sobre as dificuldades antes das festas pode ajudar a reduzir o estresse e as tensões”, orienta a especialista, que é professora do curso de Psicologia da Estácio.
EXPECTATIVAS IRREAIS
Para minimizar os impactos negativos, a psicóloga sugere um exercício de autoconhecimento e realismo nas expectativas.
“Quanto menos expectativa, melhor. Isso ajuda a evitar grandes frustrações, especialmente quando se tenta cumprir todas as metas de fim de ano que não foram alcançadas”.
Além disso, as tensões geradas pelo excesso de compromissos e gastos financeiros podem ser aliviadas ao dividir as responsabilidades entre os membros da família.
“Dividir tarefas e despesas é uma dica de ouro para que ninguém fique sobrecarregado”, diz.
Outro ponto importante levantado por Jocely é a divergência de opiniões sobre a organização e os detalhes das festas. Quando os desejos familiares entram em choque, ela sugere que haja uma pessoa responsável pela coordenação do evento, alguém que possa centralizar as decisões e envolver os demais membros de forma equilibrada.
“Uma comissão de organização ou até mesmo uma votação para decidir aspectos importantes das festas, como o local, a comida e a troca de presentes, pode ser uma maneira eficaz de evitar conflitos”, explica.
A divisão das tarefas de preparação entre os convidados também é fundamental para garantir que ninguém se sinta sobrecarregado, evitando a sensação de falta de tempo.
Dicas para um ambiente saudável e harmonioso
Para garantir um clima mais tranquilo durante as festas de fim de ano, a psicóloga Jocely Burda recomenda algumas estratégias práticas:
- Compartilhe tarefas. Todos devem se sentir parte do evento;
- Converse com seus familiares antes de tomar decisões sobre o que será feito, ajustando as expectativas para que todos se sintam à vontade;
- Evite o abuso de álcool, pois o consumo excessivo pode resultar em atitudes impulsivas e desastrosas;
- Mantenha o foco no perdão e busque atividades que tragam alegria e descontração;
- Reserve um tempo para atividades que promovam o bem-estar, como contato com a natureza e práticas que tragam equilíbrio emocional.
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