A pecuária de corte de Mato Grosso do Sul atravessa um momento de valorização. O mercado físico e os contratos futuros indicam um movimento de alta, que pode levar a arroba do boi gordo a R$ 350 já nas próximas semanas, segundo projeção do presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai. A previsão representa a consolidação de um ciclo de recuperação após anos de pressão nos preços.
“[O preço de] R$ 350 é possível. Estamos vendo o mercado se movimentar com muita firmeza, tanto nos contratos futuros como nas negociações de balcão. Isso demonstra que a pecuária está retomando seu fôlego, depois de um período de pressão nos preços”, afirmou Bumlai em entrevista a uma rádio local.
O otimismo do setor encontra respaldo nos números mais recentes. Conforme os dados da Granos Corretora, a arroba do boi gordo fechou ontem a R$ 305,35 no preço livre de Funrural, alcançando R$ 310 nos contratos com o imposto. O patamar é próximo ao registrado em São Paulo, tradicional referência nacional, onde negócios chegaram a R$ 320.
Além do mercado físico, os contratos negociados na B3 confirmam a tendência de alta. Para contratos em janeiro de 2026, o boi gordo já é negociado a R$ 330 e em fevereiro, a R$ 333,10, consolidando a expectativa de que os valores sigam em trajetória ascendente.
A combinação de oferta restrita, custos elevados de produção e aumento da demanda interna e externa cria o ambiente favorável para que a arroba alcance a marca de R$ 350, o que seria inédito em Mato Grosso do Sul.
Um dos principais fatores que explicam a escalada é a baixa oferta de animais prontos para o abate. Nos últimos anos, o pecuarista segurou fêmeas no rebanho para recomposição, o que reduziu o volume de bois disponíveis no mercado.
O atraso nas chuvas em parte do Estado e os custos de engorda em confinamento, impactados pelo preço do milho e da soja, também contribuíram para limitar a disponibilidade.
Segundo Bumlai, esse cenário fortalece o poder de negociação do produtor. “Estamos em plena entressafra, e o pecuarista, neste momento, tem mais poder de negociação. A indústria frigorífica precisa manter o ritmo, e a escassez de oferta naturalmente puxa os preços para cima”, explicou.
EXPORTAÇÕES
No cenário externo, o setor também se beneficia da retomada das exportações para a China, maior comprador da carne sul-mato-grossense. O país responde por mais de 50% dos embarques de bovinos do Brasil e voltou a elevar sua participação, após ajustes sanitários e negociações bilaterais.
Além da China, mercados do Oriente Médio e da América do Sul também ampliaram compras recentemente.
Esse quadro de demanda aquecida, somado à oferta curta, cria um ambiente propício para a valorização acelerada da arroba. O pecuarista ainda relembrou o impacto do tarifaço, quando os frigoríficos de MS resolveram rapidamente o problema, redirecionando a carne que iria para os EUA a outros mercados.
“O impacto do tarifaço dos Estados Unidos foi usado como desculpa pela indústria frigorífica para derrubar o preço da arroba. E quem pagou a conta foi o produtor rural. Baixaram a arroba de R$ 320 para R$ 290 da noite para o dia. Não houve razão técnica. Foi puro oportunismo”, declarou.
Ainda de acordo com o representante dos pecuaristas, há a abertura de um novo mercado promissor, o japonês. “Estamos em conversas avançadas. Acreditamos que, nos próximos meses, a carne brasileira começa a ser exportada ao Japão. É um novo mercado estratégico e promissor”, disse Bumlai.
O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, havia adiantado que havia a possibilidade de as indústrias acessarem novos mercados, em decorrência do novo status de MS de livre de aftosa sem vacinação.
“Isso é um fator extremamente positivo porque vários mercados que a gente não acessava até então podem ser acessados agora exatamente em função dessa restrição americana”.
A carne bovina é o terceiro produto da pauta de exportações de Mato Grosso do Sul, com mais de US$ 925 milhões em volume de negócios realizados somente de janeiro a julho.

CONSUMIDOR
Conforme adiantou o Correio do Estado, na edição do dia 1º de agosto, mesmo com a queda de até 7% no valor da arroba do boi em Mato Grosso do Sul, a carne bovina vendida ao consumidor final não seguiu a mesma tendência.
Em Campo Grande, levantamento feito pela reportagem mostra que, entre maio e julho deste ano, os preços médios de cortes populares e nobres se mantiveram estáveis, com algumas altas discretas.
A arroba do boi gordo chegou a recuar 6% ou R$ 17,65, saindo de R$ 303,30, no dia 7 de julho – antes do anúncio de Donald Trump –, e chegando a R$ 285,65, no dia 21 de julho, conforme dados da Granos Corretora. No comparativo com o dia 27 de junho, quando a arroba era negociada a R$ 307,20, a queda chegou a R$ 21,55 (7%).
A retração foi impulsionada pela incerteza gerada com o anúncio do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que aplicou uma sobretaxa de 40% sobre os 10% já existentes nas importações de carne bovina brasileira. No entanto, essa baixa no valor pago ao pecuarista não foi repassada ao consumidor campo-grandense.
Com a possibilidade de a arroba chegar a R$ 350, a tendência é de que os cortes bovinos subam ainda mais, pressionando o orçamento das famílias.




