A temporada de férias nem bem começou e o setor aéreo já sente os impactos. A média de atrasos em voos acima de 30 minutos, que até novembro era de 12,6% nos 12 aeroportos mais movimentados do País, saltou para 20,7% na primeira quinzena de dezembro. O índice é 1,5 ponto porcentual acima dos 19,2% registrados no mesmo período de 2009.
É bem verdade que os meses de dezembro, janeiro e os dias que antecedem o carnaval costumam ser conturbados nos aeroportos por causa do intenso fluxo de passageiros. Além disso, as chuvas de fim de tarde são um complicador a mais nesta época do ano - na semana passada, por exemplo, condições meteorológicas adversas na Região Sudeste fizeram o índice de atrasos disparar, atingindo 33,1% dos voos do País na quarta-feira.
Mas a principal explicação de especialistas para a piora dos números neste ano está no aumento da quantidade de voos. Em 2009, durante o período de alta temporada, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) - braço da Aeronáutica responsável pelo controle do tráfego aéreo - registrou média de 5 mil movimentos (pousos e decolagens) por dia na rede de 67 aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). O pico de operações ocorreu no carnaval daquele ano, quando foram registrados 7.800 movimentos num só dia.
Nos primeiros dias deste mês, a média diária tem ficado em torno de 5.600 movimentos - 12% a mais do que no ano passado. Levando em conta os aeroportos regionais, onde operaram os táxis aéreos e os jatos executivos, a média nacional gira hoje entre 8 mil e 9 mil movimentos por dia.
“Grande parte da demanda de passageiros está concentrada em São Paulo. Só que os três aeroportos que servem o Estado (Congonhas, Cumbica e Viracopos) estão operando no limite e, dessa forma, fica difícil dar vazão a tantos voos”, afirma o engenheiro aeronáutico Jorge Leal Medeiros, professor da Escola Politécnica da USP. Leal também responsabiliza as companhias pelo quadro caótico. “Elas estão voando com escalas de trabalho muito justas. Qualquer tropeço, como uma chuva mais forte ou uma pane numa aeronave, cria um efeito em cascata.”
Piora
Oficialmente, as empresas e a Infraero só divulgam para os passageiros os atrasos superiores a 30 minutos. Mas relatórios reservados obtidos pelo Estado, trocados entre as companhias e as autoridades aeronáuticas, indicam aumento dos atrasos em outras faixas de tempo. O crescimento mais expressivo é no patamar até 15 minutos, em que houve um salto de 35,1%, nos 15 primeiros dias de dezembro de 2009, para 37,3%, em igual período deste ano.
Os atrasos de 45 minutos e de 60 minutos também cresceram na comparação com 2009 - o primeiro foi de 11% para 12,2% e o último, de 6,9% para 7,5%.
A Resolução 141 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que estabelece os direitos do passageiro, só obriga as empresas a prestar assistência material a partir de atrasos superiores a 1 hora - nesses casos, as companhias devem oferecer telefone e/ou acesso à internet.