Com a melhora observada em Nova York no meio da tarde, o Ibovespa ganhou fôlego e chegou a retomar nesta quinta-feira, 4, o nível de 141 mil pontos após uma sequência de três perdas diárias que o havia distanciado muito pouco da máxima histórica, na casa de 142 mil pontos, do intradia da última sexta-feira.
No fechamento, o índice da B3 marcava nesta quinta 140.993,25 pontos, em alta de 0,81%, entre mínima de 139 832,12 pontos, da abertura, e máxima de 141.481,83 pontos na sessão.
À espera do payroll (dado de emprego dos EUA) da sexta-feira, o giro na B3 se manteve relativamente suavizado, nesta qunita a R$ 18,1 bilhões. No ano, o Ibovespa sobe 17,22% - em baixa de 0,30% na semana e no mês.
O índice da B3 chegou a andar adiante, à tarde, da recuperação registrada também em Nova York, onde os três principais índices fecharam com ganhos entre 0,77% (Dow Jones) e 0,98% (Nasdaq).
A ascensão derivou da percepção de que, na sexta, os dados oficiais sobre o mercado de trabalho norte-americano, o chamado payroll, venham a confirmar a perspectiva de que os juros do Federal Reserve possam começar a ser, de fato, cortados ainda este mês.
"O otimismo decorreu de dados mais fracos sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, o relatório ADP, que mostrou criação de vagas abaixo das expectativas, enquanto os pedidos semanais de seguro-desemprego subiram, sinalizando desaceleração do setor.
Os números reforçam a percepção de que o Federal Reserve pode iniciar o ciclo de cortes de juros já na próxima reunião, neste mês de setembro, com impacto direto nos mercados globais na sessão", diz Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos.
Além disso, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, afirmou nesta quinta, durante participação em evento do Clube Econômico de Nova York, que os riscos descendentes, no mercado de trabalho dos EUA, aumentaram recentemente. "Houve um arrefecimento gradual nas condições do mercado de trabalho para níveis semelhantes aos que prevaleciam nos anos anteriores à pandemia", disse.
Williams, que como presidente do Fed de Nova York tem direito permanente a voto no comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês), voltou a sinalizar que os juros devem cair à frente, em um ambiente de "equilíbrio delicado de riscos" para o mandato duplo da autoridade monetária. "Se o progresso em nossas metas de mandato duplo continuar como na minha previsão básica, prevejo que será apropriado mover as taxas de juros para um viés mais neutro ao longo do tempo", afirmou.
Nesse contexto mais favorável ao apetite por risco, "o Ibovespa mostrou força inclusive em relação a outros mercados emergentes, com poucos ativos da carteira deixando de acompanhar esse movimento de alta generalizada que ajudou, em especial, os papéis do ciclo doméstico e do setor financeiro, com a curva de juros mostrando acomodação em relação ao que se via no início do ano", diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester investimentos, destacando a reaproximação do Ibovespa da máxima histórica em pequeno intervalo de tempo.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, Yduqs (+6,33%), Cogna (+6,32%) e Cosan (+5,93%). No lado oposto, Brava (-1,66%), WEG (-1,59%) e Pão de Açúcar (-1,30%). Entre os grandes bancos, os ganhos no fechamento chegaram à casa de 2% em Bradesco (ON +2,13%, PN +2,00%). Vale ON subiu 0,20% e Petrobras teve desempenho misto no fechamento (ON +0,48%; PN estável, sem variação). Apenas 13 dos 84 papéis da carteira Ibovespa fecharam o dia no campo negativo.
"A agenda política segue em desenvolvimento, acompanhada pelo mercado ainda, mas com a expectativa de que se viabilize uma alternativa de centro-direita, de oposição, competitiva para 2026", acrescenta o operador, referindo-se indiretamente à percepção de que, caso uma chapa mais fiscalista venha a sair vitoriosa na eleição presidencial, haveria uma perspectiva mais favorável para a trajetória da dívida pública a partir do ano seguinte.
Dólar
Após alta pela manhã, o dólar perdeu força à tarde, virou e fechou esta quinta-feira, 4, em leve queda, abaixo de R$ 5,45 pela primeira vez após dois pregões. Operadores não viram gatilho específico, mas citam moderação do avanço do dólar no exterior. Também pode ter havido fluxo pontual para a Bolsa, que ganhou força com melhora do apetite ao risco em Nova York.
Com variação de menos de três centavos entre a mínima (R$ 5,4425) e a máxima (R$ 5,4716), o dólar à vista encerrou a R$ 5,4468, queda de 0,11%. A divisa sobe 0,46% nos quatro primeiros pregões de setembro, após recuo de 3,19% em agosto. No ano, cai 11,87%.
As oscilações contidas mostram cautela antes do relatório de emprego (payroll) de agosto nos Estados Unidos, que pode mudar expectativas sobre espaço para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortar juros neste ano. As chances de redução de 25 pontos-base em 17 de setembro superam 90%.
O economista Ian Lopes, da Valor Investimentos, diz que o ADP reforçou a perda de fôlego do emprego privado, tendência que pode ser confirmada na sexta-feira pelo payroll.
"O Fed tem falado nas últimas semanas que está atento à desaceleração do mercado de trabalho. E isso reforça a perspectiva de corte de juros nos EUA, o que tende a fazer o dólar recuar", afirma Lopes.
O ADP apontou criação de 54 mil vagas em agosto, abaixo da projeção de 85 mil. Na quarta, o Jolts mostrou abertura de postos menor que o esperado.
O PMI de serviços dos EUA, calculado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM), passou de 50,1 em julho para 52 em agosto, acima dos 51 projetados. Leitura acima de 50 indica expansão.
À tarde, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, sinalizou corte de juros ao dizer que deve ser apropriado levar a taxa a nível neutro. Ele acrescentou que o impacto inflacionário das tarifas de Trump começa a surgir, mas não deve ser persistente.
Termômetro do dólar ante seis moedas, o DXY rondava 98,280 pontos no fim da tarde, após máxima de 98,444. O índice sobe pouco mais de 0,40% na semana, mas ainda recua mais de 9% no ano
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o câmbio seguirá o dólar externo. Ele lembra que, após queda forte, o DXY se acomodou perto dos 98,000 pontos.
No mercado doméstico, a moeda também se acomoda. Depois de subir mais de 3% em julho, em reação ao tarifaço de Trump às exportações brasileiras, caiu 3,19% em agosto e passou a oscilar perto de R$ 5,40.
"Para romper os R$ 5,40 é preciso que haja uma definição melhor sobre a trajetória do dólar no exterior. Se a moeda americana seguir se enfraquecendo, o real pode apreciar um pouco mais", afirma Lima.
Ele ressalta que o diferencial entre juros interno e externo vai aumentar se o Fed afrouxar a política. "Os cortes de juros nos EUA parecem já bem precificados, mas podemos ver o dólar descer mais um degrau quando houver a redução", diz Lima, que prevê um ciclo de cortes de 75 pontos-base.
A Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC) informou superávit de US$ 6,133 bilhões na balança comercial de agosto, pouco acima da mediana do Projeções Broadcast (US$ 6,050 bilhões).
Juros
Em um dia sem condutor relevante para os negócios, os juros futuros acompanharam o comportamento do dólar e passaram a operar em leve queda na segunda etapa do pregão desta quinta-feira, revertendo a tendência de alta observada até o início da tarde. Tanto os movimentos de elevação quanto os de baixa, porém, foram modestos, em linha com o desempenho do câmbio local. A sessão foi de ajustes técnicos às vésperas do payroll de agosto, que deve fazer mais preço sobre a curva a termo, segundo operadores.
O principal dado de mercado de trabalho dos Estados Unidos dará sinais mais claros sobre os próximos passos da política monetária na maior economia do mundo, que também afeta a trajetória dos juros no Brasil, principalmente pelo canal do câmbio.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 recuou de 13,996% no ajuste anterior para 13,980%. O DI para janeiro de 2028 saiu de 13,347% no ajuste para 13,325%. O DI para janeiro de 2029 diminuiu de 13,318% no ajuste antecedente para 13,305%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,63%, vindo de 13,644% no ajuste da véspera.
"Os DIs estavam destoando da Bolsa em alta e o câmbio comportado", afirma Marcelo Bacelar, gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management. Segundo Bacelar, há diversos ruídos no noticiário local, mas o pregão de hoje foi marcado por ajustes técnicos. Na ausência de vetores importantes para as taxas, os DIs andaram praticamente de lado - seja quando estavam em alta, ou em baixa -, à espreita do payroll de agosto, a ser conhecido amanhã, comentou.
"Todo mundo está operando na expectativa do payroll. Se vier um dado ruim, aumentará ainda mais as chances de corte de juros em setembro pelo Fed. Mas se for acima do esperado, ainda assim não deve mudar essa expectativa de cortes este mês", disse. O diferencial de juros maior entre EUA e Brasil tende a apreciar o real ante o dólar, o que melhora a dinâmica inflacionária e pode esquentar as discussões sobre uma redução antecipada da Selic, aponta o gestor.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, os dados da balança comercial de agosto, publicados hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), ajudaram a aliviar o câmbio e, consequentemente, os juros futuros. Na visão de Velho, as exportações brasileiras mostraram "excelente desempenho" no mês passado, o que beneficiou a queda do dólar e dos juros futuros na sessão de hoje. Em agosto, as vendas externas do Brasil subiram 3,9% sobre igual mês de 2024.
No campo das tensões entre Brasil e EUA, em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, bancos brasileiros receberam um ofício ontem do Departamento do Tesouro americano, com questionamentos sobre a aplicação das sanções previstas na Lei Magnitsky. O magistrado do STF Alexandre de Moraes é alvo da legislação. "O tema merece atenção, pois sanções mais amplas envolvendo multas financeiras poderiam ter impacto relevante sobre o cenário doméstico", afirma o time de economia e estratégia da Monte Bravo Corretora.
Outro tema acompanhado pelo mercado é a tentativa de deputados de resgatar um projeto de lei de 2021 que daria ao Congresso prerrogativa para destituir diretores do Banco Central. Em evento nesta tarde, ao ser questionado sobre o tema, o ex-presidente do BC Roberto Campos Neto afirmou que, quando a autonomia da instituição é atacada, o canal da política monetária é enfraquecido. Quando o canal dos juros perde relevância, pode ser necessário um aumento maior da Selic, alertou Campos Neto, hoje vice-chairman e chefe global de políticas públicas do Nubank.


