A nova “bola da vez” de Mato Grosso do Sul, a citricultura, deve entrar em uma nova etapa. Após a expansão do plantio de laranjas no Estado, os empreendimentos industriais são o próximo passo para o setor.
De acordo com o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, a chegada dos processadores de laranja já é planejada.
“As pessoas sempre perguntam se vai ter indústria. Sim, na hora que nós tivermos acima de 32 mil hectares de laranja vai ter. Nós entendemos que o processo da industrialização é natural. Nesse momento, nós precisamos ainda ampliar a nossa base de produção de laranja e de verificação da base produtiva”, disse Verruck.
O governo do Estado tem aproveitado a oportunidade e atraído empresas do segmento. Na semana passada, o governador do Estado, Eduardo Riedel, reuniu-se com representantes da empresa Citrosuco, uma das maiores do mundo em produção de suco de laranja.
De olho no movimento do setor, o grupo já prevê a instalação de um empreendimento no Estado, tendo como foco de avaliação municípios como Campo Grande, Três Lagoas e Paranaíba.
“O Brasil responde a 75% do total de suco de laranja do mundo. E são duas grandes indústrias, a Citrusuco e a Cutrale, grandes exportadores que dominam o mercado mundial. A Citrosuco veio a Mato Grosso do Sul porque ela precisa expandir a sua área de produção de laranja, assim como a Cutrale está fazendo”, explicou o secretário.
Conforme já publicado pelo Correio do Estado, os aportes anunciados para o setor passam de R$ 2 bilhões e são justificados por uma migração dos estados de São Paulo e Paraná para Mato Grosso do Sul.
As unidades da Federação que tradicionalmente são produtoras de laranjas foram acometidas pela doença huanglongbing (HLB), também conhecida como greening dos citros, bactéria que ataca as plantas cítricas e é considerada a mais grave do mundo.
A legislação rigorosa de Mato Grosso do Sul para prevenção da doença motivou a migração de investimentos para MS. Entre as medidas, o Estado proibiu o plantio da murta (Myrtus communis), uma espécie de planta exótica da família da dama da noite. A planta é hospedeira da bactéria causadora da doença dos citros.
O secretário ainda explica que Mato Grosso do Sul apresenta uma série de condições favoráveis para atração de empresas na área da citricultura.
“É um Estado altamente empreendedor, com um ambiente de negócio favorável. Outra questão é que eles precisam de disponibilidade de água. Então, aqui também eles encontram um sistema de outorga que é claro, adequado. E a questão da infraestrutura, conforme os empreendimentos são realizados, nós temos um fundo para tratar exatamente desse ponto”, informou Verruck.
APORTES
Os investimentos já anunciados somam um aporte de R$ 2,1 bilhões em lavouras de cítricos em MS – investimento que será ainda maior com a chegada da Citrosuco, que ainda não anunciou valores.
Conforme informações do governo do Estado, a Cutrale anunciou um aporte de R$ 500 milhões, destinados ao plantio de 5 mil hectares de laranja na Fazenda Aracoara, propriedade localizada às margens da rodovia BR-060, na divisa de Sidrolândia com Campo Grande.
De acordo com a Cutrale, serão 1,7 milhão de pés de laranja, e a previsão é de que o projeto alcance 30 mil hectares plantados, garantindo o nível de produção que viabilizaria a instalação de uma futura indústria de processamento da laranja em suco.
Já o Grupo Junqueira Rodas começou em abril a implantação de 1,5 mil hectares de laranja em Paranaíba e, ainda, mais 2,5 mil hectares em Naviraí, onde o cultivo de 1 hectare de laranja demanda recursos de R$ 100 mil – ou seja, um total de R$ 400 milhões.
E ainda a empresa Cambuhy Agropecuária (Grupo Moreira Salles), que confirmou o investimento de R$ 1,2 bilhão no Estado, que é considerado o “novo cinturão citrícola” do Brasil.
A empresa vai iniciar o plantio de laranja ainda neste ano na área que fica em Ribas do Rio Pardo, próximo ao município de Água Clara, com previsão de investir ao longo de quatro anos e meta de colher 8 milhões de caixas da fruta.
IMPACTO
Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo destaca que Mato Grosso do Sul é um polo produtor de alimentos, tendo no uso da terra uma de suas maiores vantagens competitivas.
“Com isso, iniciativas produtivas que buscam consolidar novas agroindústrias são sempre bem-vindas para a nossa economia, pois fazem sentido dentro da lógica na qual nos inserimos na economia brasileira e no contexto dos mercados globais”, analisa.
O economista Eduardo Matos avalia como um avanço econômico para o Estado, já que a produção de frutas tem um mercado bastante rentável.
“Esse mercado é bastante concentrado hoje na Região Sudeste. Além do que o senso comum indica da produção para o consumo da fruta mesmo, a indústria demanda muito da fruta. A indústria do suco de laranja é bastante diversificada e investe muito em tecnologias, inovações, existem diversos sucos da laranja para finalidades diferentes”, destaca.
Ainda de acordo com o economista, a ideia de Mato Grosso do Sul se consolidar como um “cinturão da citricultura” deverá atrair indústrias para o Estado nos próximos anos.
“Além da produção de fato das frutas, acaba por atrair as indústrias, porque essas indústrias geralmente tendem a se instalar próximo dos locais onde os frutos são produzidos”, finaliza Matos.