A base da alimentação do brasileiro ficou mais cara. Depois do aumento do feijão e do óleo de soja, o arroz passou a ser o “vilão” na hora das compras. Conforme pesquisa mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o arroz aumentou 34,73% entre janeiro e agosto.
O quilo saiu do preço médio de R$ 2,85 para R$ 3,84 no período, ou seja, o pacote de 5 kg saiu de R$ 14,25 em janeiro para R$ 19,20 em agosto. Economistas apontam que os preços devem permanecer em alta.
De acordo com a supervisora técnica do Dieese, Andreia Ferreira, os preços devem se manter altos por algum tempo.
“No que depender dos produtores, não baixa tão cedo. A Tereza Cristina [ministra da Agricultura] disse que os preços podem se estabilizar, mas pode ser como no caso do feijão, que estabilizou em patamares elevados”, considerou.
Andreia ainda ressalta que os aumentos percebidos pelos consumidores vêm em toda a cadeia produtiva, desde o campo até os supermercados.
“Observamos uma conjunção de fatores, redução da área plantada – o que já diminuiria o volume ofertado pelos produtores; orientação da produção para exportação, estimulada pela demanda externa aquecida e dólar (porque os produtores poderiam até exportar menos, mas, com a diferença cambial, ganham mais); e a demanda interna se mantém aquecida”, afirma, dizendo ainda que há outro fato preponderante.
“Um complicador importante nisso tudo é a diminuição dos armazéns da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], que conseguia estocar o cereal e outros grãos para manter os preços e a segurança alimentar”, reforçou Andreia.
O governo federal anunciou na quarta-feira (9) que vai zerar a tarifa de importação do produto para países de fora do Mercosul.
Conforme divulgado pelo Estadão Conteúdo, o presidente da Câmara Setorial do Arroz do Ministério da Agricultura, Daire Paiva Coutinho Neto, disse que “não deve alterar muito os preços para o consumidor final. Não vai trazer nenhum benefício imediato”, considerou Coutinho, que ainda reforçou que o produto asiático não tem como chegar com preços menores que do nacional.
A isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), que antes era de 12%, “não é tão significativa e não trará diferença ao preço do arroz para o consumidor”, disse Coutinho.
A ministra Tereza Cristina disse que Tailândia e Estados Unidos devem enviar o produto para o Brasil.
“Agora, é claro que o arroz demora um pouco para entrar. Ele vem basicamente dos Estados Unidos e Tailândia, que são os países que podem exportar porque é o mesmo tipo de arroz. Nós temos outros países produtores, mas é de outro tipo”, ressaltou nesta quinta-feira (10) a ministra.
Para a economista Daniela Dias, a questão dos preços vai depender muito do equilíbrio de mercado.
“Se de repente teremos uma demanda mais equilibrada em relação a antes da pandemia da Covid-19. E a depender da própria produção, se o clima vai colaborar. E também tem as exportações do produto e importação dos insumos. Tudo vai depender disso", disse.
"Temos algumas iniciativas voltadas para tentar equilibrar esse preço, porque entende-se que nesse momento conturbado as pessoas estão com dificuldades, e para comprar o alimento básico acaba sendo mais difícil. Então preço pode reduzir até o fim do ano, mas dependerá desses fatores”, destacou a economista, reforçando que o dólar alto tem influenciado diretamente no aumento.
“Um dos principais pontos que deve ser levado em consideração é o câmbio, e as projeções são de que continue elevado até o fim do ano e até o próximo ano. E isso interfere diretamente no preço do arroz, porque os preços são ditados pelo mercado internacional”, concluiu.
Preços
Levantamento realizado pela Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor (Procon-MS) na última semana de agosto aponta que o pacote com 5 kg de arroz (tipo 1) varia entre R$ 14,99 e R$ 25,90 em Campo Grande.
O pacote com 5 kg da marca Dallas foi encontrado entre R$ 14,99 e R$ 17,99 nos supermercados da Capital, sendo o valor mais baixo aferido. Já o mais caro foi o arroz tipo 1 Prato Fino, que chegou a R$ 25,90 no maior valor e a R$ 19,98 no local mais em conta.
A superintendência também comparou os preços entre maio e agosto. O produto com a menor variação entre os meses foi o pacote com 5 kg do arroz Guacira Speciale, que saiu de R$ 17,04 em maio e passou a ser comercializado a R$ 19,44, variação de 12,3%, enquanto a maior alta foi identificada na marca Camil – o pacote com 5 kg custava R$ 15,07 em maio e passou a ser comercializado a R$ 18,22, aumento de 17,2%.
O arroz Tio Lautério passou de R$ 14,25 a R$ 16,73; o Prato Fino tipo 1 custava R$ 19,68 em maio e passou a R$ 22,64 em agosto; o Tio João com 5 kg saiu de R$ 20,09 para R$ 23,07; e o Tio Urbano custava R$ 15,43 e chegou a R$ 17,86.
Supermercados
Segundo a Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados (Amas), o aumento no valor do produto foi de 118% nas indústrias.
“Os supermercados de MS não são os responsáveis pelo aumento de preços nos principais itens da cesta básica. Tivemos produtos com aumento de preço superior a 100% nos últimos 12 meses, que é o caso do arroz. A matéria prima está concentrada em poder de poucos produtores, o que faz encarecer este produto”, informou em nota.