Anunciado como o maior projeto logístico do Centro-Sul brasileiro, novo trecho ferroviário caiu no esquecimento. A Nova Ferroeste, ferrovia que ligaria Maracaju ao Porto de Paranaguá (PR), prometia transformar o escoamento da produção agrícola e reduzir em até 30% o custo do transporte.
O Correio do Estado procurou o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, para comentar sobre o andamento do projeto, e ele disse que “não tem novidades” sobre a implantação da ferrovia.
Desde 1980, estudos da Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste) preveem a chegada de um ramal da ferrovia em Mato Grosso do Sul. A ferrovia, tida como estratégica para o agronegócio, teve o projeto “ressuscitado” em 2014, por meio de estudos da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Já em agosto de 2020, os então governadores Reinaldo Azambuja e Ratinho Jr. (PR) assinaram um termo de cooperação para viabilizar a ferrovia. Desde então, a obra acumula planos, audiências e anúncios, mas nenhum metro de trilho foi colocado no solo sul-mato-grossense.
Conforme anunciado à época, o projeto consiste em: construção da ferrovia entre Maracaju e Cascavel; revitalização do atual trecho entre Cascavel e Guarapuava; construção de nova estrada de ferro entre Guarapuava e Paranaguá; e um ramal entre Cascavel e Foz do Iguaçu. O investimento era estimado em R$ 8 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões seriam para as obras no Estado.
A Nova Ferroeste nasceu com a proposta de ampliar o traçado da Ferroeste, atualmente operando entre Cascavel e Guarapuava, no Paraná, para cerca de 1.567 quilômetros, conectando Maracaju a Paranaguá, com ramais até Foz do Iguaçu e Chapecó.
No território sul-mato-grossense, seriam 333 quilômetros de extensão, passando por oito municípios: Maracaju, Itaporã, Dourados, Caarapó, Amambai, Iguatemi, Eldorado e Mundo Novo, conforme reportagem do Correio do Estado publicada em 2022.
O projeto previa ainda um corredor multimodal, integrando rodovias e terminais de carga, com capacidade inicial para movimentar até 35 milhões de toneladas por ano, segundo dados do governo paranaense.
Estimava-se investimento superior a R$ 35 bilhões, valor que seria captado por meio de concessão à iniciativa privada com contrato de 99 anos.
A promessa é de que a ferrovia reduziria custos logísticos, ampliaria a competitividade do agronegócio e escoaria com mais eficiência a produção de grãos de Mato Grosso do Sul e do Paraná.
“A Nova Ferroeste é uma revolução logística”, chegou a afirmar, em 2021, o secretário Jaime Verruck, em entrevistas publicadas pelo Correio do Estado.
Novo traçado da Ferroeste vai de Maracaju ao Porto de ParanaguáESTAGNAÇÃO
A expectativa de que o edital de concessão fosse lançado em 2024 não se confirmou, e, desde então, o governo estadual não trata publicamente do tema.
Reportagem da Gazeta do Paraná, de abril deste ano, apontou que o projeto “demora a sair do papel” por causa da indefinição sobre a Malha Sul, atualmente sob concessão da Rumo Logística.
A integração entre os dois trechos é essencial para viabilizar o transporte até o Porto de Paranaguá, mas o governo federal ainda não definiu se renovará o contrato com a concessionária ou se abrirá nova licitação. Sem essa decisão, não há segurança jurídica para investidores.
Além da incerteza sobre a Malha Sul, o licenciamento ambiental se tornou outro gargalo. O traçado da ferrovia atravessa áreas sensíveis, incluindo 18 comunidades indígenas, conforme detalhou a Gazeta do Paraná.
Em 2023, a Semadesc anunciou que o processo estava em fase de consulta e diálogo com a Funai, com previsão de emissão da licença prévia pelo Ibama. “Foi um projeto muito bem elaborado tecnicamente, mas travado por complexidades ambientais e indefinições políticas”, afirmou, em entrevista à reportagem da Agência Infra, o especialista em infraestrutura ferroviária, Luiz Fernando Silva.
CRONOGRAMA
Em 2020, o governo do Paraná lançou o projeto com apoio de Mato Grosso do Sul, anunciando um novo corredor para desafogar as rodovias e reduzir os custos de transporte. Em 2021, o governador paranaense divulgou que o leilão seria realizado em 2023. Depois, a previsão passou para 2024. Hoje, não há data definida nem indicativo de execução.
Levantamento da Gazeta do Paraná mostra que, dos 66 municípios que seriam impactados, 51 no Paraná, 8 em Mato Grosso do Sul e 7 em Santa Catarina, nenhum recebeu obras ou desapropriações.
Em 2022, o titular da Semadesc detalhou o traçado do trecho sul-mato-grossense e previu investimentos de R$ 5 bilhões apenas no Estado. À época, o secretário afirmava que o governo estadual atuava com o Paraná para garantir que o projeto fosse atraente a investidores internacionais.
“Estamos trabalhando para tornar a ferrovia viável financeiramente, com ganhos ambientais e logísticos”, disse ele, em entrevista ao Correio do Estado.
Três anos depois, a falta de respostas sobre o tema levanta questionamentos tanto em MS quanto no Paraná.
“Há uma clara falta de comunicação sobre o destino da ferrovia. É um projeto com potencial transformador, mas que parece ter perdido prioridade”, analisa o economista e consultor em logística Carlos Mendes, ouvido pela Gazeta do Paraná.


