Levantamento da ACICG revela otimismo e estabilidade; CDL aponta que deficit de trabalhadores persiste
O comércio de Campo Grande deve encerrar este ano com um cenário de estabilidade e certo otimismo moderado na geração de vagas temporárias.
É o que mostra a pesquisa Perspectivas Empresariais para Contratações 2025, da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), que revela que a maior parte dos empresários da Capital pretende manter ou até ampliar o número de contratações de fim de ano.
Por outro lado, a escassez de mão de obra é apontada como empecilho.
O movimento indica que, apesar das vendas ainda avançarem de forma irregular, os lojistas apostam em um trimestre mais aquecido e na manutenção da demanda em 2026.
De acordo com o estudo, 59% dos empresários afirmaram que vão manter o volume de contratações temporárias observado no fim de 2024, outros 36% pretendem aumentar as equipes entre novembro e dezembro e apenas 5% trabalham com a possibilidade de reduzir o número de vagas.
O levantamento ouviu 100 empresas de diferentes segmentos do varejo, com maior representatividade do setor de vestuário, seguido pelos ramos de eletrônicos, calçados, brinquedos, perfumaria, cosméticos e joias.
A partir desse comportamento, a ACICG projeta a oferta de 1,1 mil vagas de trabalho no setor terciário, que envolve comércio e serviços, apenas entre outubro e dezembro, período tradicionalmente mais aquecido em razão de datas como Black Friday, Natal e Ano-Novo.
“Considerando o trimestre de outubro a dezembro, nossa expectativa é de que sejam geradas cerca de 1,1 mil oportunidades de trabalho em empresas do setor terciário, que abrange atividades de comércio e serviços”, afirma o presidente da ACICG, Renato Paniago.
A pesquisa também detalha o calendário provável das contratações. Para quase 50% das empresas, a primeira quinzena de dezembro será o período de maior entrada de novos colaboradores. Outros 22% apontam contratações ainda em novembro, enquanto 16% devem reforçar as equipes somente na segunda quinzena do último mês do ano.
As projeções também revelam o perfil majoritário do comércio campo-grandense: cerca de 83% das empresas pretendem abrir até duas vagas temporárias, reforçando o peso dos micro e pequenos negócios na economia local.
Outro dado que chama atenção e reforça a expectativa de estabilidade é o porcentual de empresários que pretendem efetivar os temporários após o período festivo. Segundo o levantamento, 88,6% das empresas têm a intenção de manter os trabalhadores após dezembro.
Para a ACICG, o número demonstra confiança na continuidade da demanda para o início de 2026. “A maioria dos empresários mantém as expectativas de contratação no mesmo patamar do ano passado, e mais de um terço pretende ampliar o número de colaboradores. Isso revela estabilidade, o que é muito saudável, diante do cenário econômico atual”, avalia Paniago.
Além das contratações, praticamente todas as empresas entrevistadas (98%) devem participar de ações promocionais no fim do ano, com destaque para a Black Friday e a Black Week, que se consolidaram como pontes estratégicas para estimular o consumidor e antecipar o aquecimento do comércio antes da chegada do Natal.
“As campanhas devem impulsionar o movimento no comércio já em novembro e preparar o terreno para o aumento das vendas em dezembro”, finaliza Paniago.
RITMO
Os resultados da pesquisa dialogam com movimentos recentes identificados pela Fecomércio-MS e pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Após quatro meses de queda, o comércio no Estado começou a sinalizar uma reação, o que pode indicar um último trimestre mais estável, comportamento associado tanto à sazonalidade de fim de ano quanto à recomposição gradual da confiança do empresário.
Em outubro, o índice de confiança do comerciante sul-mato-grossense voltou para a zona positiva, segundo a Fecomércio-MS, refletindo maior otimismo sobre o faturamento das empresas e a percepção de melhora gradual do ambiente de negócios. Esse comportamento, ainda que moderado, ajuda a explicar por que o setor tem evitado retrações mais significativas.
Se o cenário geral aponta otimismo moderado e manutenção das vagas, o dia a dia do varejo ainda divide opiniões. A empresária Leni Fernandes, do ramo de joias, semijoias, ótica e gastronomia, afirma que já contratou.
“Na parte do restaurante, contratamos duas pessoas temporárias. E, na parte das lojas de joias, vamos contratar cinco pessoas temporárias. Acreditamos muito que o movimento vai ser muito bom, vai ser melhor que o do ano passado. A expectativa nossa é de que tenha um aumento até 10% a mais do que o ano passado”, afirma.
A empresária Cláudia Barros, proprietária de loja de roupas, reforça que, apesar da expectativa para dezembro, o ritmo das vendas ainda não inspira movimentos mais ousados.
“Estamos com muito receio em contatar, porque as vendas estão em ritmo lento. Estava com expectativa de contratar três vendedoras para o fim do ano, mas, como o cenário é de cautela, vou contratar somente uma. A demanda de festas de fim de ano aumenta, mas temos que ter cautela porque o ano passado não foi como o esperado. Mesmo assim, temos que ser otimistas”.
O relato confirma a postura de “otimismo com freio de mão puxado” observada em grande parte dos lojistas, que equilibram a expectativa de aumento de fluxo com a necessidade de reduzir riscos em um ambiente econômico ainda instável.
Além do comércio de rua e dos shoppings, o varejo alimentar também reforça o movimento de contratações temporárias. A rede Assaí Atacadista, por exemplo, abriu cerca de 40 vagas temporárias para operar nas unidades de Mato Grosso do Sul entre 24 de novembro e 24 de dezembro.
As oportunidades incluem funções como operador de caixa, repositor de mercearia e repositor de perecíveis, todas com possibilidade de efetivação após o período contratual.
DIFICULDADE
O movimento identificado pela ACICG, contudo, não é unânime. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL-CG) pontua que há dificuldade para encontrar trabalhadores. O presidente da entidade, Adelaido Vila, afirma que o problema se agravou neste ano e tem afetado o funcionamento de lojas.
“A coisa está extremamente grave, a gente não acha trabalhadores mais. E não estamos falando nem de pessoas qualificadas, a gente não encontra pessoas que vão todo dia ao emprego. Desde o início do ano, estamos com mais de 2 mil vagas abertas. A gente não está conseguindo achar gente para trabalhar”.
Segundo ele, fatores como preferências da geração mais jovem, o nível de assistencialismo e a atratividade das vagas públicas têm contribuído para o cenário.
Reportagem já publicada pelo Correio do Estado apontou a dificuldade de alguns setores em contratar trabalhadores.
Dados da Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab) apontam que o Estado encerrou o ano passado com 24.280 vagas de trabalho não preenchidas. Conforme os especialistas ouvidos à época, as principais causas são a falta de qualificação e o desinteresse do trabalhador.
Outro ponto destacado é o alto número de pessoas que recebem benefícios sociais, tanto estaduais quanto federais.
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