O preço da saca de soja com 60 kg caiu mais de 30% no intervalo de um ano e se aproxima dos valores praticados em 2020. Com a colheita recorde anunciada em Mato Grosso do Sul, a tendência é de que a desvalorização seja ainda maior.
Em maio de 2022, 60 kg da oleaginosa eram comercializados a R$ 175,44, enquanto ontem, no mercado físico estadual, conforme dados da Granos Corretora, a saca era negociada a R$ 117 – queda de 33%. Os preços se aproximam dos praticados em 2020, quando os valores variavam entre R$ 95 e R$ 105.
Na safra 2022/2023 foram colhidas 15 milhões de toneladas de soja no Estado, a maior marca já registrada. “O mercado já esperava esse volume elevado e se adiantou na precificação do grão”, afirma o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Staney Barbosa Melo.
O economista disse em entrevista ao Correio do Estado que a produção histórica do grão em MS impacta diretamente os valores médios praticados atualmente.
“Por conta dessa possibilidade em relação à alta oferta e das dificuldades logísticas relacionadas ao transporte dos grãos nos modais viários, os preços da soja despencaram. Então, temos aí a confluência desses dois fatores que explicam a queda no preço da soja, deficit logístico e alta produção, o que resulta em queda generalizada de preços em todo o País”, avalia Melo.
Ainda de acordo com ele, os novos dados da colheita certamente servirão de fator motivador na pressão para a queda nos preços do produto.
“Trata-se de um movimento natural do mercado quando a oferta é maior do que a demanda. Se o mercado precificar os novos dados, podemos esperar um pouco mais de queda nos preços do mercado físico da soja aqui no Estado”, conclui Staney Melo.
A coordenadora econômica da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), Renata Farias, diz que, além da oferta elevada de grãos, o cenário político-econômico de real valorizado e taxa de juros elevada também influencia.
“Há uma pressão do mercado para comercialização do grão, em vista de armazéns cheios e uma safra de milho em andamento”, pontua a especialista.
O que pode mudar o cenário é a instabilidade do clima, que ainda não aponta para o uma safra plena nos Estados Unidos.
SAFRA
Encerrando a safra de soja 2022/2023 acima de 15 milhões de toneladas, Mato Grosso do Sul obteve aumento de 72,65% na produção, na comparação com ciclo passado. Os dados foram divulgados na terça-feira pelo Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS).
Além da produção histórica, o relatório também destaca aumento na área plantada e na produtividade. Em termos de comparação, foi identificada elevação de 7% na área plantada, com 4 milhões de hectares.
Já a produtividade média apontada pelo levantamento é de 62,44 sacas de soja por hectare, representando ampliação porcentual de 61%. Tal resultado ultrapassou a previsão realizada no lançamento da safra, em setembro de 2022, fixada pelos especialistas inicialmente em 3,7 milhões de hectares de área plantada, o que resultaria em cerca de 12 milhões de toneladas e produção média de 53,44 sacas por hectare.
Em análise do cenário do cultivo do grão em Mato Grosso do Sul, a Famasul destaca o período chuvoso como decisivo e forte aliado para obtenção dos resultados. Técnicas de manutenção desenvolvidas pelos produtores também foram citadas como fatores que contribuíram para alavancar a produtividade.
Para o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, o resultado advém do empreendedorismo de “nossos produtores rurais, aliado a todo um pacote tecnológico que vem sendo desenvolvido pelas instituições de pesquisa para que o Estado supere barreiras da expansão em novas áreas”, explica.
O presidente da Aprosoja-MS, André Dobashi, ressaltou o trabalho realizado para obtenção dos dados. “Nossos técnicos do Siga MS conseguiram percorrer 77 municípios e auditar cerca de mil propriedades rurais”.
“Isso é um avanço muito grande, mostra a importância do projeto, do mapeamento de ocupação de uso do solo, do acompanhamento e do desenvolvimento das safras de milho e soja em Mato Grosso do Sul, evidenciando a pujança que MS tem no cultivo de grãos”, conclui Dobashi.