Enquanto a Copa do Mundo do Catar acontece com zebras, certezas e protestos, a cultura brasileira perde, em 15 dias, Gal Costa e Erasmo Carlos, e à beira dos quartéis e nas estradas há maus perdedores, a vida vai seguindo em Brasília para a troca de bastão entre o governo que sai e o que entra.
Tocada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), a transição conta com vários grupos de trabalho divididos em áreas que têm como objetivo mapear a situação e subsidiar a nova administração para que tome as primeiras medidas assim que for empossada em 1º de janeiro.
Como nem tudo são flores, o processo ocorre em meio a críticas e dificuldades de colaboração. Com apenas 14 pessoas remuneradas, a equipe de transição que prepara o 3º governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta com mais de 300 integrantes de forma voluntária, englobando parlamentares, ex-ministros, personalidades, acadêmicos e militantes de diversos partidos políticos.
Esse inchaço, característica clássica da origem sindical do PT, sofre apontamentos de inoperância. Seja pelo excesso de participantes, seja pela completa indisposição da gestão de Jair Bolsonaro (PL) em colaborar.
Desde que foi proclamada a vitória de Lula no fim de outubro, o atual presidente se enclausurou em silêncio no Palácio da Alvorada e se absteve de governar. Não se pronuncia, não anuncia ações, nem sequer vai ao Planalto e não reconheceu com todas as letras sua derrota.
Seu silêncio é providencial para atiçar as hordas golpistas que insistem em fechar estradas e clamar pelos militares na porta dos quartéis.
Ora, se o chefe do Executivo não admite a perda do poder, como esperar que colabore com a transição? O que está sendo feito é apenas o básico determinado pela Lei que regulamenta a ação de 2002 com a ajuda discreta, claro, de integrantes do atual governo que já vislumbram se achegar ao novo poder.
Há também muita propaganda e pouca prática efetiva. A situação administrativa da máquina federal é complicada. Mas Lula e seus aliados conhecem os meandros como ninguém, afinal, já governaram várias vezes. Basta querer fazer.