O Embraer Phenon 100, adquirido em 2011 pela Itel Informática, atualmente em nome da Mil Tec, e conhecido carinhosamente pelos políticos e empresários investigados na Operação Lama Asfáltica pelo apelido “Cheio de Charme”, é um dos aviões que estão na lista dos jatinhos financiados a juros módicos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nesta década. O aparelho custou R$ 6,4 milhões, financiado a uma taxa anual fixa de 6,5% ao ano.
A outra aeronave que contou com o apoio do BNDES para ser comprada por uma empresa de Mato Grosso do Sul é também da Embraer e do mesmo modelo, Phenon 100, pertencente à Taurus Distribuidora de Petróleo. Adquirido em 2013, este jatinho custou um pouco menos, R$ 4 milhões, mas teve uma taxa de juros ainda mais generosa: 3,5% ao ano. A empresa pertence a Jorge Luiz Zenatti.
TURBULÊNCIA
O “Cheio de Charme” ganhou notoriedade em 2014, quando foi deflagrada a Operação Lama Asfáltica da Polícia Federal. O avião, na época em nome da Itel Informática, pertencente ao empresário João Baird, foi meio de transporte de empresários e políticos, entre eles, o ex-governador André Puccinelli, o ex-deputado federal Edson Girotto e o empreiteiro, dono da Proteco, João Amorim.
A Mil Tec, atual operadora do “Cheio de Charme”, herdou parte dos contratos que a Itel mantinha com o governo de Mato Grosso do Sul e a Prefeitura de Campo Grande. Além dela, outra empresa, a PSG Informática, também substituiu o império que já foi da extinta Itel. O que as duas novas empresas têm em comum é que, assim como a Itel, de João Baird, elas também continuaram sendo investigadas pela Polícia Federal.
O jatinho “Cheio de Charme” teve sua operação prejudicada por causa de outro tipo de operação, no caso a Lama Asfáltica. Em consulta ao sistema de aeronaves da Agência de Aviação Civil (Anac), o Phenon 100, que já carregou vários políticos de Mato Grosso do Sul, encontra-se com o certificado de aeronavegabilidade suspenso e “indisponível”, por motivos de alienação fiduciária. O verdadeiro proprietário do avião é o Banco do Brasil, instituição que ajudou na operação financiada pelo também público BNDES.
HUCK E DORIA
Com a justificativa de que pretende ser mais transparente, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou, na noite de segunda-feira (19), uma lista de 134 compradores de jatinhos da Embraer que contrataram financiamento no período de 2009 a 2014, durante o governo petista. Entre eles, está o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que, por meio da Doria Administração de Bens, financiou uma aeronave de R$ 44 milhões em 2010.
A lista inclui também R$ 17 milhões liberados para empresa do apresentador de TV Luciano Huck, a Brisair, em 2010, e mais R$ 39,7 milhões, em 2009, para a JBS, denunciada na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. O maior valor, de R$ 77 milhões, foi contratado em 2013 pela CB Air Taxi Aéreo, do empresário Michael Klein, das Casas Bahia. Em seguida, aparece a Brasil Warrant Administradora de Bens, que em 2013 financiou R$ 75,5 milhões. Essa empresa, uma das sócias da Alpargatas e atuante no segmento agropecuário, pertence à família Moreira Salles, sócia do banco Itaú Unibanco.
Com a divulgação da lista, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, cumpre promessa feita pelo presidente Jair Bolsonaro, na quinta-feira (15), em transmissão ao vivo nas redes sociais. O presidente disse que revelaria quem comprou jatinhos com recursos do banco estatal, ao “abrir a caixa-preta” da instituição. “O anúncio vai expor gente que está dizendo que estamos no último capítulo do fracasso”, disse o presidente, numa referência a Huck, que, um dia antes, durante um debate em Vila Velha (ES), usou essas palavras para criticar o governo federal.
Em nota divulgada em seu site, o BNDES destacou que a linha de crédito para a compra de jatinhos da Embraer foi criada em 2009, como parte do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Nessa linha, eram cobrados juros inferiores à taxa básica de juros, a Selic – de 2,5% ao ano a 8,7% ao ano.