A prisão preventiva do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro (PL), decretada na manhã de sábado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e mantida ontem em audiência de custódia pela juíza Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, auxiliar do ministro no STF, deve, de imediato, fortalecer e unir a direita em Mato Grosso do Sul, que estava enfraquecida em decorrência das disputas internas.
Conforme análise solicitada pelo Correio do Estado ao professor do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Daniel Miranda, e ao cientista político Tércio Albuquerque, um claro exemplo disso é que, no mesmo dia em o mandado de prisão preventiva foi cumprido pela Polícia Federal em Brasília (DF), desencadeou-se uma forte reação entre as diversas lideranças da direita estadual, que se manifestaram de forma unânime contra a decisão.
De forma inédita, tanto as lideranças da direita raiz quanto as da direita institucionalizada publicaram nas suas redes sociais o mesmo discurso contrário à prisão de Bolsonaro, demonstrando uma união que não existia entre essas duas alas políticas no Estado, pois a relação delas estava sendo marcada, nos últimos meses, pela disputa do direito de utilizar o nome do ex-presidente na campanha eleitoral que se avizinha.
No entanto, em um segundo momento, quando tiver passado o furor contra a prisão de Bolsonaro, a direita estadual pode ficar enfraquecida em razão da maior privação de liberdade do ex-presidente afetar o papel dele como cabo eleitoral, pois ficará impedido de ficar à frente dessas tratativas.
Para Daniel Miranda, após a prisão preventiva do ex-presidente da República, já é possível enxergar dois cenários extremamente positivos para a direita estadual.
“Em ambos, a direita vai explorar ao máximo o que resta da popularidade de Jair Bolsonaro, mas, aí, há dois caminhos. O primeiro é manter o discurso de que o ex-presidente e os bolsonaristas são vítimas do ‘sistema’, discurso que só é coerente para a extrema direita, como os deputados federais Rodolfo Nogueira (PL) e Marcos Pollon (PL)”, explicou.
Ainda de acordo com professor do curso de Ciências Sociais da UFMS, já no caso da direita institucionalizada, que seria a formada pelo governador Eduardo Riedel (PP) e pelo ex-governador Reinaldo Azambuja (PL), teremos o segundo caminho, ou seja, manifestar-se contra a prisão de Bolsonaro, mas com aquele discurso de pacificação e fim da polarização do “nós contra eles”.
No entanto, ele vê que a prisão de Bolsonaro logo vai começar a cair no lugar-comum. “No geral, portanto, penso que o ex-presidente da República terá cada vez menos relevância no cenário estadual com os militantes da direita”, projetou.
Entretanto, para o professor, não que seja uma relevância desprezível, pelo contrário, mas ela é declinante. “Afinal, preso, fica impossível que os bolsonaristas possam ouvir da boca dele, seja via áudios, seja via vídeos, declarações fortes ou até mesmo orientações políticas sobre este ou aquele candidato”, argumentou.
Miranda ressaltou que, o fato de o ex-presidente demorar para definir um sucessor, ameaça a própria permanência do termo “bolsonarismo” para caracterizar a oposição ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Essa dificuldade para mobilizar a base já vinha aparecendo desde a decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro, em agosto, já que, além de restringir a capacidade de encontro com aliados, aquela decisão também reforçou a impossibilidade de que Bolsonaro usasse as redes sociais.
FAVORÁVEL
Já segundo Tércio Albuquerque, na verdade, a prisão de Bolsonaro vai refletir de forma favorável à direita em Mato Grosso do Sul e também no resto do Brasil, mas, somente até quando deixar de ser preventiva para se transformar no cumprimento da pena.
“A tendência natural é perder força esse discurso de injustiça e perseguição do STF contra o ex-presidente, porque a situação de presidiário dele vai passar a ser vista com mais naturalidade”, avaliou.
Ele pontuou ainda que a situação deve se agravar para Bolsonaro a partir do momento em que não vai ter, ao que transparece até o momento, a aprovação de um projeto de anistia ampla aos condenados pelo 8 de Janeiro.
“O que vai fazer o discurso pró-Bolsonaro ter um peso mais reduzido, obrigando os candidatos da extrema direita e da direita moderada a voltarem para a pauta de sempre, mais segurança, saúde e educação. Será uma campanha contra a corrupção e de ataque mais forte à esquerda, isso tudo mesmo que ele indique um candidato a presidente”, disse.
Tércio completou que, como estamos longe das convenções partidárias e do início propriamente da campanha eleitoral, o quadro político hoje apresentado pela direita no Estado pode sofrer mudanças.
“Até mesmo os discursos feitos por Reinaldo e Riedel, de apoio incondicional a Bolsonaro, perderão força e vão se encaminhar na direção que valorize mais os feitos individuais de ambos”, finalizou o cientista político.


