Política

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Sivuca – Maestro da Sanfona

Sivuca – Maestro da Sanfona

Redação

01/05/2010 - 20h57
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Dona Santina morava entre árvores, à margem direita do rio Paraíba, no início do pequeno distrito de Campo Grande, numa casa cheia de janelas. Tinha a cara e as mãos todas franzinas e os olhos sempre esbanjando bondade. Quando faminto ia visitá-la e ela me dava cocada e tapioca de coco. Penso com saudade daquelas cocadas, daquelas tapiocas, e da cara e das mãos de Dona Santina.

Numa tarde de sol morno ela me recebeu na varanda com a felicidade borbulhando nos olhos. Contou que recebera na parte da manhã a visita do prefeito Josué de Oliveira e, este, para um evento na feira de Itabaiana, lhe encomendara dezenas de cocadas, tapiocas e beijus. A empolgação dela chegou ao auge quando mencionou que o prefeito estava acompanhado do irmão Severino de Oliveira, o SIVUCA, sanfoneiro do qual toda a cidade se orgulhava.

– Ele até tocou uma moda na sua sanfona prateada, em minha homenagem – disse sorrindo, enquanto me entregava um exemplar do Diário de Pernambuco deixado pelo prefeito.

– Ele é branco – ela continuou falando – mas tão branco que mais parece bolha de sabão, é o que chamam de albino...

Correu para a cozinha largando em meu colo o jornal que, ansioso, abri e logo na segunda página estava a reportagem completa da fantástica carreira musical de SIVUCA – apresentado pelo articulista como um dos maiores artistas do século XX, responsável por revelar a amplitude e a diversidade da sanfona nordestina no cenário mundial da música, tido como multi-instrumentalista, maestro, arranjador, compositor, orquestrador e cantor.

Interrompi a leitura para saborear as guloseimas trazidas da cozinha. Dona Santina, bondosa e generosa, notando meu agudo interesse pela leitura, não se fez de rogada e ordenou:

– Gostou do jornal? É seu, leve-o para sua casa.

Naquela noite, sem deixar escapar uma só palavra do jornal, aprendi que SIVUCA nasceu no dia 26 de maio de 1930, em Itabaiana, Estado da Paraíba, e como sanfoneiro estava contribuindo para o enriquecimento da música brasileira, ao revelar a universalidade da música nordestina e a nordestinidade da música universal. Estava sendo reconhecido mundialmente por seu trabalho, incluindo, entre suas composições, dentre outros ritmos, choros, frevos, forrós, baião, blues, jazz e até música clássica. Havia ganho a sanfona do pai em 13 de junho de 1939, num dia de Santo Antônio, aos nove anos. A partir daí, a inseparável companheira o levaria para mundos desconhecidos. Aos 15 anos, ingressou na Rádio Clube de Pernambuco, em Recife. Em 1948, já era apontado como o maior sanfoneiro do nordeste.

Segundo o jornal, SIVUCA gravou o seu primeiro disco em 78 rotações, pela Continental, em 1951, com "Carioquinha do Flamengo" (Valdir Azevedo, Bonifácio de Oliveira e Zequinha de Abreu). Nesse mesmo ano, lança o primeiro sucesso nacional, em parceria com Humberto Teixeira, "Adeus, Maria Fulô". Transferiu-se, em 1955, para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte apresentou-se, com estrondoso sucesso, na Europa (Portugal, Espanha e França), sendo, em 1959, considerado o melhor instrumentista do momento pela imprensa parisiense. Residiu em Nova Iorque, onde fez arranjos para músicas notáveis de cantores americanos, excursionando pelo mundo, abrilhantando eventos e divulgando, no mais alto estilo, a já aplaudida música brasileira.

Compôs trilhas para os filmes "Os Trapalhões na Serra Pelada" e "Os Vagabundos Trapalhões". As composições sinfônicas de Sivuca são absolutamente singulares na música erudita brasileira, porque o artista inseriu a sanfona como instrumento principal de sua obra. Um dos LPs mais emblemáticos de sua carreira é o "Sivuca Sinfônico", em que ele toca ao lado da Orquestra Sinfônica de Recife sete arranjos orquestrais de sua autoria, um registro inédito, único e completo de sua obra erudita. Gravou também "Sivuca – O Poeta do Som", que contou com a participação de 160 músicos convidados. Foram gravadas 13 faixas, além de suas reproduzidas em parceria com a Orquestra Sinfônica da Paraíba.

A reportagem finaliza dizendo que uma das músicas gravadas por Sivuca e que traz por título "Feira de Mangaio", estilo forró, é a mais dançada, ovacionada e tocada nas rádios dos estados nordestinos.

Até hoje guardo aquela luminosa reportagem.

 

Notas: 1ª - Sivuca faleceu em 14 de dezembro de 2006, em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba; 2ª - Esta crônica faz parte do livro autoral "ITABAIANA – Deslumbramento de uma Época" – no prelo, p/ Life Editora.

 

Reginaldo Alves de Araújo

Novo Plano Diretor

Com Rota Bioceânica, Porto Murtinho deve se expandir para fora do dique

Município terá novo plano diretor para suportar os impactos trazidos pela implantação da rota que criará um corredor bioceânico conectando Brasil, Paraguai, Argentina e Chile

21/01/2025 10h22

Plano Diretor foi apresentado na Secretaria Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc)

Plano Diretor foi apresentado na Secretaria Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) Foto: Mairinco de Pauda/Semadesc

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Porto Murtinho, município que será o "Portal da Rota Bioceânica", terá que se adequar para suportar os impactos da maior Rota de Integração Logística da América Latina.

Para isso, a prefeitura do município está elaborando um novo plano diretor, que irá reorganizar a infraestrutura da cidade para os próximos 10 anos, com foco nas áreas sociais e econômicas.

Dentre as mudanças, estão a expansão da área industrial e a criação de novas áreas residenciais, bem como o fortalecimento da segurança e da saúde.

Em reunião realizada com o Governo do Estado, em Campo Grande, o prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra Ribeiro, mencionou que terão de ser realizadas obras "fora do dique", já que a cidade foi construída nos limites da estrutura, o que faz com que exista "pouca área para desenvolver". Para isso, a Prefeitura aposta em planejamento e zoneamento.

"Tudo está sendo zoneado. A área habitacional, industrial, zoneamento do Porto Seco, questão da saúde, segurança, tudo, então está tudo dentro desse plano", disse o prefeito.

Plano Diretor foi apresentado na Secretaria Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc)Arquivo/Governo do Estado

O dique, que tem 9,7 quilômetros de extensão e circunda todo o perímetro urbano de Porto Murtinho, foi construído às margens do Rio Paraguai em 1985 pelo Ministério dos Transportes, para evitar o alagamento da cidade, que está dentro de uma planície de inundação e de baixa declividade.

A estrutura hidráulica foi uma decisão tomada após a  população recusar a proposta de mudança do perímetro urbano para uma área mais distante do rio – cerca de sete quilômetros, local onde era construída a chamada Cidade de Lona, para abrigar a população quando as grandes cheias do Rio Paraguai inundaram toda a comunidade. A cidade ficou submersa nas enchentes de 1979 e 1982 e o dique suportou a de 1988, considerada recorde.

Na reunião, ficou acordado junto ao Governo que a expansão da cidade vai se dar ao longo do acesso da ponte, desde a BR-267. O projeto foi apresentado para o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, na última sexta-feira (17).

"Com o plano diretor vamos direcionar todo o desenvolvimento do portal da rota que é Porto Murtinho. Vim apresentar para o secretário e ele gostou do projeto. E a nossa meta é apresentar o detalhamento do plano no dia 18 de fevereiro durante o Fórum da Rota", destacou Cintra.

O plano está sendo executado por uma universidade de Curitiba, mas ainda precisa ser aprovado pela Câmara.

"O Plano está sendo feito para adequar e realmente pensando Porto Murtinho com a concentração da Rota Bioceânica.E nesta linha ele está pensando na expansão, para onde a cidade vai crescer e principalmente a disponibilização de áreas específicas tanto para a infraestrutura social como para a econômica", disse o titular da Semadesc, Jaime Verruck.

Foram discutidas ainda ações para o fortalecimento da infraestrutura e do desenvolvimento sustentável ao longo do corredor logístico, para garantir que o município esteja preparado para as oportunidades econômicas geradas pela ligação entre o Brasil e os portos do Oceano Pacífico.

O encontro também contou com a presença da secretária-adjunta de Meio Ambiente, Regina Heyn, da arquiteta Fernanda Gonzaga, e do assessor especial de Logística da Semadesc, Lúcio Lagemann.

Plano Diretor foi apresentado na Secretaria Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc)Foto: Mairinco de Pauda/Semadesc

Ponte sobre o Rio Paraguai

Com valor estimado de US$ 85 milhões a estrutura terá uma extensão de 1.294 metros, dividida em três pontos, dois constituirão os viadutos de acesso de ambos os lados, e um corresponderá à parte estaiada, com 632 metros de comprimento, com vão central de 350 metros.

A porta de entrada do Brasil será por Porto Murtinho, onde está sendo construída a ponte, na divisa com a cidade de Carmelo Peralta. Depois o corredor segue pelo norte do Paraguai, entra na Argentina e chega nos portos chilenos, encurtando o caminho ao Oceano Pacífico.

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SEM CHANCES

Divergência entre Rose e Adriane ajuda a "barrar" fusão do União Brasil com o PP

Grupo ligado à ex-deputada federal se posicionou contra a aproximação com os progressistas em razão da disputa pela prefeitura

21/01/2025 08h00

Ex-deputada federal, Rose Modesto é presidente do União Brasil em MS

Ex-deputada federal, Rose Modesto é presidente do União Brasil em MS Foto: Reprodução

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A ferrenha disputa pelo cargo de chefe do Executivo de Campo Grande no ano passado ainda está viva na memória da ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil), que perdeu a eleição por uma diferença de 12.587 votos para a prefeita Adriane Lopes (PP) – a segunda menor da história da eleição para o cargo na Capital.

O resultado do pleito também teria sido determinante para que as lideranças sul-mato-grossenses do partido se colocassem contra a fusão com os progressistas, de olho nas eleições de 2026.

Segundo apurou o Correio do Estado com interlocutores de Rose Modesto, a presidente estadual do União Brasil e demais lideranças regionais do partido em outros estados também se colocaram contra a aproximação com o PP.

Posicionamento que não levou em consideração o fato de o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, e o secretário-geral da sigla, ACM Neto, serem entusiastas da medida, pois, incluindo Republicanos e PSDB, a nova legenda se tornaria a maior força do Congresso Nacional, com 153 deputados federais e 17 senadores.

No entanto, a fusão não é rejeitada apenas por lideranças do União Brasil, integrantes das cúpulas do PP e do Republicanos nos estados também passaram a ver a possibilidade com mais ceticismo e a hipótese já era encarada há mais tempo com ressalvas. E, assim como em Mato Grosso do Sul, o olhar de dirigentes do União Brasil em outros estados criou uma barreira intransponível para o acordo avançar.

A reportagem apurou que Rose Modesto avalia que em MS não seria possível acomodar os diferentes interesses das duas legendas, e o argumento é de que ela, como opositora da gestão de Adriane Lopes, jamais poderia estar no mesmo grupo político que a atual prefeita da Capital, em razãodo antagonismo gerado durante a campanha eleitoral.

Além disso, desde novembro do ano passado, a ex-deputada federal tem usado suas redes sociais para criticar as medidas tomadas pela prefeita reeleita e apontar o que considera equívocos da atual gestora na administração de Campo Grande. Nesse clima de animosidade entre ambas, fica praticamente inviável que União Brasil e PP possam caminhar juntos em Mato Grosso do Sul.

NACIONALMENTE

Nacionalmente, Antônio Rueda se reuniu recentemente com o atual presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal Arthur Lira (PP-AL), o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (Piauí), e o líder do Republicanos, deputado federal Hugo Motta (Paraíba), provável novo presidente da Câmara, para tratar da megafusão. 

Uma nova rodada de conversas está prevista para ocorrer após a volta dos trabalhos do Legislativo, em fevereiro. Na visão de integrantes do União Brasil, contudo, há questões internas a serem resolvidas antes. Uma das principais discussões é se o partido terá uma candidatura de oposição em 2026 ou se vai se manter na base do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

O partido na Câmara dos Deputados indicou os ministros do Turismo, Celso Sabino, e das Comunicações, Juscelino Filho, enquanto o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), favorito para comandar o Senado, apadrinhou a escolha de Waldez Góes para o Ministério da Integração Nacional. 

Por outro lado, a cúpula nacional do partido é próxima do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que já marcou um pré-lançamento de sua candidatura a presidente da República para o mês de março. O racha entre governistas e oposição no União Brasil também tem deixado indefinido quem será o líder da sigla na Câmara dos Deputados neste ano. 

Os deputados federais tentaram fazer a escolha em dezembro, mas agora o tema só será retomado em fevereiro. Do lado do PSDB, a percepção é de que uma fusão que envolva o União Brasil dificilmente sairia do papel. O presidente nacional do partido é Marconi Perillo, ex-governador de Goiás e adversário histórico de Caiado no estado.

“Mais favorável [a uma aliança com] outros partidos. Com Caiado, impossível”, disse Perillo.

SAIBA

Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Resultado (IPR) apontou que a disputa entre Rose e Adriane foi a segunda com a menor diferença de votos da história de Campo Grande. Enquanto no segundo turno da eleição para prefeito de Campo Grande em 1996, entre André Puccinelli (MDB) e Zeca do PT, a diferença foi de 411 votos ou 0,16%, no segundo turno da eleição do ano passado, a discrepância entre Rose e Adriane foi de 12.587 votos ou 2,91%.

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