“Viver é uma escada bem difícil. Agradeço muito a Deus por ele ter me deixado chegar até aqui”. Assim, aos 82 anos de idade, 13 filhos criados, 40 e tantos netos e 27 bisnetos, o pernambucano José Manoel Batista refere-se à própria trajetória, quase metade dela escrita na cidade onde escolheu fixar raízes há 40 anos, Campo Grande. Ele e a esposa Marlene Albuquerque Guterres Batista, de 72 anos, natural de Amambai, fazem parte de um contingente de moradores da Capital sul-mato-grossense que só fez avançar nas últimas duas décadas no quesito longevidade, segundo reportagem especial de hoje (26), no caderno de aniversário de Campo Grande do jornal Correio do Estado. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), na Capital sul-mato-grossense a esperança de vida ao nascer aumentou 7,6 anos entre 1991 e 2010. O índice atual, 75, 6 anos, supera inclusive o estabelecido para Mato Grosso do Sul e o patamar nacional.
Em relação à geração de seus pais, “Seo” José já sabe que pode se considerar um privilegiado. O pai, nascido no século retrasado (1887), partiu deste mundo aos 79 anos; a mãe, mais cedo ainda, com 72 anos. “A maior parte (dos idosos) não vivia tanto por falta de recursos, de conforto, de remédio, era tudo fraco. Hoje, qualquer coisa, se você passa mal logo consegue atendimento em um posto de saúde”, avalia. Natural de Garanhuns (PE), José Manoel Batista veio para o então Mato Grosso na década de 60, morando inicialmente na Colônia Agrícola que ficava na região de Fátima do Sul. Acabou conhecendo Campo Grande quando a mãe de sua primeira mulher adoeceu e precisou ser internada na cidade. “Ela veio pra cá e uma semana depois morreu, estava com câncer. Mas eu gostei daqui e fiquei”, recorda.
Foto: Bruno Henrique - Correio do Estado
Aos 82 anos, José Manuel (segurando cavaquinho) orgulha-se de ajudar a família, cuidando de netos
Daquela época, ele lembra que o asfalto da cidade ia até as Moreninhas, o restante era estrada de terra e o piso das ruas Calógeras e 14 de Julho ainda era feito de paralelepípedos. O primeiro bairro onde morou foi no Guanandy, até ficar viúvo e conhecer a segunda esposa. A união com Dona Marlene já dura 34 anos e eles vivem até hoje no Jardim Imá, em uma casa de tábuas construída pelas próprias mãos do casal. Não faltam galinha e pintinhos no quintal, dois cachorros para “vigiar” quem entra e sai da residência, dentro do imóvel um cantinho para as ferramentas, onde volta e meia o dono da casa faz alguns serviços de sapataria e também marcenaria e ainda o tradicional chimarrão, consumido religiosamente todos os dias, cedinho e no fim da tarde, na varanda ou em torno do fogão de lenha, nos dias mais frios. A explicação para tamanha disposição? Ele não sabe dizer, mas a esposa, Marlene, tem uma opinião bem singela: “nunca esquecer a criança que tem dentro de você”. A reportagem é de Daniella Arruda.