"Estou curioso para ver como esse personagem será recebido pelo público brasileiro".
O ator Ângelo Rodrigues está estreando nas novelas brasileiras como Martin, o namorado da vilã Odete Roitman (Debora Bloch) no remake de “Vale tudo” na TV Globo. O português participou em 2015 de um dos episódios da série “As Canalhas”, no GNT, em 2018 fez “Des(encontros)”, da Sony, mas foi em 2023 que ganhou projeção no Brasil ao estrelar a série brasileira “Olhar indiscreto”, que ficou entre mais vistas da Netflix pelo mundo na época.
Com 37 anos de idade e mais de 20 de carreira, Ângelo estreou profissionalmente na novela portuguesa Doce Fugitiva (TVI). Depois disso, não parou de colecionar dezenas de trabalhos na TV e no cinema em seu país.
Desde o último dia 9 de abril, o ator pode ser visto nos palcos de Lisboa na peça “Jantar de Idiotas”. O artista também aguarda a estreia para este ano de “Mar Branco”, a primeira série da Netflix portuguesa de grande sucesso que tem ainda Paolla Oliveira e Caio Blat no elenco, e do filme “Cherchez La Femme”, do qual é o protagonista.
Além de ator, Ângelo Rodrigues é documentarista e tem três projetos que vão entrar em festivais: “Iron train”, filmado na Mauritânia que revela a luta diária de dois vendedores de peixe que atravessam o Saara para garantir seu sustento; “Born blind – a escolha de Alá”, que mostra a rotina de uma vila na Mauritânia em que metade das crianças nasce cega e a razão permanece desconhecida; e “Heresia da separatividade” que acompanha a vida do ator português que se reclusa pela Ásia, onde ensina teatro pros monges budistas e trabalha com cuidadores num santuário de elefantes no Camboja e visita uma mulher-girafa na Tailândia.
O ator português é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ele fala sobre o remake de Vale Tudo, carreira e futuro.
O ator português Ãngelo Rodrigues é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação: Dênis Felipe - Por Flávia VianaCE - Você está prestes a estrear nas novelas brasileiras como Martin, o namorado europeu de Odete Roitman. Como está a expectativa para suas cenas irem ao ar? Como vai fazer para assisti-las já que está de volta a Portugal?
AR - A expectativa é grande, claro. Estou curioso para ver como esse personagem será recebido pelo público brasileiro, que é tão atento e apaixonado pelas novelas. Preciso saber quando vai ao ar exatamente, mas acho que já é nos próximos dias.
CE - Seu nome foi muito mencionado pela imprensa e você ganhou muitos seguidores logo que apareceu nas chamadas da novela na TV. E esse trabalho já impactou sua carreira em Portugal também?
AR - Sem dúvida. A novela ainda nem estreou oficialmente e já sinto o impacto. A imprensa portuguesa tem acompanhado com atenção o que tenho feito no Brasil, até porque esse intercâmbio artístico para os nossos países tem-se intensificado. Além disso, acabei de estrear o espetáculo “Jantar de Idiotas”, no Centro Cultural Malaposta, em Lisboa, e 2025 será um ano incrivelmente produtivo para mim. Estou em quatro frentes, teatro, televisão, cinema e streaming. Vai ser um ano curioso.
CE - Aliás, acha que existe diferenças entre o assédio do público e da imprensa aqui e em Portugal?
AR - Existem algumas. A imprensa portuguesa me acompanha desde os 18 anos, então já há uma familiaridade maior. No Brasil, tudo começou com “Olhar indiscreto”, na Netflix, em 2023. Desde então percebo 1 diferença, a imprensa brasileira é mais ousada, mais intensa. Quando gosta, gosta muito.
CE - Temos muitos artistas brasileiros indo trabalhar em produções portuguesas, assim como temos alguns artistas da “Terrinha” fazendo carreira aqui. O que você acha desse intercâmbio? Quais as semelhanças e diferenças principais?
AR - Acho esse intercâmbio riquíssimo. Estimula trocas culturais, amplifica a cultura de ambos os países. ..Já fiz mais de 10 novelas em Portugal, por isso é um gênero com o qual estou acostumado. O formato novela é território comum. Somos dois povos que vivem a dramaturgia de forma muito intensa.
CE - Vale Tudo chegou cheio de expectativas de todos os lados: da imprensa, do mercado, do público....E qual a sua expectativa com esse trabalho? Seja na vida pessoal e na profissional.
AR - A responsabilidade é grande. Trata-se de um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira. Fazer parte dessa história com um personagem envolvido com Odete Roitman é um privilégio. Pessoalmente, fico feliz de poder explorar uma nova cultura, um novo set, uma nova forma de contar histórias. Profissionalmente, acredito que este trabalho vai abrir portas e reforçar essa ponte artística entre Brasil e Portugal.
O ator português Ãngelo Rodrigues é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação: Dênis Felipe - Por Flávia VianaCE - Martin é um personagem que fez parte da primeira versão da novela. Você chegou a buscar imagens das cenas dele? Como a trama vai abordar a questão da diferença de idade entre Martin e Odete?
AR - Vi algumas cenas, mas o suficiente para não me deixar influenciar na composição. Eu queria trazer uma nuance diferente para a dinâmica com Odete. A diferença de idade continua sendo um ponto de tensão interessante na narrativa, mas o foco foi trazer verdade e química para a relação.
CE - Paralelo à carreira de ator, você tem projetos de documentários que você dirigiu a serem lançados. Como escolhe os temas que abordará? O que te estimulou a ir para trás das câmeras?
AR - Sempre fui fascinado por histórias que nos aproximam da essência humana. Então, como documentarista, tenho dois projetos muito especiais para estrear. Um deles é a “Heresia da Separatividade”, que filmei ao longo de cinco meses em três países (Nepal, Cambodja e Tailândia), explorando realidades de reclusão e temas universais como fraternidade e união.
O outro é “Iron Train”, passado na Mauritânia, sobre dois vendedores de peixe que percorrem o deserto do Saara num trem de ferro para sustentar as suas famílias. A câmera, para mim, é como uma forma de escuta e testemunho. E, ao revelar estas realidades escondidas, me sinto verdadeiramente preenchido e sinto que cresço como ser humano. Não só artisticamente.
CE - Como Ângelo Rodrigues se descobriu artista? E o que te move nessa sua trajetória de mais de duas décadas? E o que faria se não fosse artista?
AR - O gosto pelas artes começou na adolescência. A minha tia, Estrela Novaes, era uma renomada atriz em Portugal e, desde cedo, acompanhei a trajetória dela de perto. Aos 15 anos, comecei a dirigir os meus próprios espetáculos. Desde então nunca mais parei. A arte é o que me move, é o que me preenche, porque me permite mergulhar em mundos que à primeira vista parecem distantes, mas que, no fundo, revelam muito sobre todos nós. Por isso me apaixona tanto tratar de questões universais nos documentais.
CE - O que falta Ângelo Rodrigues fazer ainda que ele não teve oportunidade?
AR - Correr na maratona de Pyongyang na Coreia do Norte. É um desejo antigo - é mais simbólico do que esportivo- e representa a vontade de conhecer o mundo em todas as suas contradições.
CE - Ângelo Rodrigues já morou no Rio de Janeiro em 2014 quando veio estudar na UniRio. O que levou pra si do estilo de vida carioca/brasileiro?
AR - Morei seis meses no Rio de Janeiro, em 2014, e foi uma das experiências mais transformadoras da minha vida. Fiz intercâmbio na Unirio, fiz voluntariado no Complexo Penitenciário de Bangu, tive contato com o Teatro do Oprimido de Augusto Boal... levei comigo o calor humano, a criatividade e a capacidade de resistência do povo brasileiro. E, até hoje, sinto que carrego um pouco do Brasil comigo. Para sempre.