Cidades

Entrevista

"A agricultura familiar é de onde sai o alimento consumido nas mesas dos brasileiros"

O diretor-presidente da Agraer disse em entrevista ao Correio do Estado que os pequenos produtores são essenciais para a economia estadual e que estão atentos à meta de sustentabilidade de Mato Grosso do Sul

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Servidor público de carreira, o engenheiro agrimensor Washington Willeman de Souza foi nomeado em janeiro do ano passado como diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Em entrevista ao Correio do Estado, ele destaca a importância das políticas públicas voltadas aos agricultores familiares, sejam eles assentados, indígenas, sejam quilombolas.

Souza menciona ser fundamental a destinação de recursos de emendas parlamentares para os pequenos produtores e ainda destaca as ações da Agraer para o cumprimento da meta de MS se tornar um estado carbono neutro até 2030. Confira a entrevista a seguir.

Cerca de 70% da alimentação brasileira é oriunda da agricultura familiar. Qual a importância de fomentar esse segmento?

De fato, segundo as pesquisas, 70% dos alimentos que nós consumimos diariamente são oriundos da agricultura familiar. A importância é ter a segurança alimentar. E nos últimos anos, por orientação tanto do governo do Estado quanto do governo federal, foram implementadas uma série de políticas públicas para que nós fomentássemos a agricultura familiar, a fim de tirar o Brasil da fome, para ter alimento necessário e suficiente a toda a população brasileira. A agricultura familiar é de fundamental importância: é de onde sai o alimento consumido diariamente nas mesas dos brasileiros.

Tivemos no mês passado a quinta edição da Feira de Tecnologias e Conhecimentos para Agricultura Familiar (Tecnofam), com a participação diária de 1,5 mil pessoas. Quais tecnologias foram expostas no evento e que podem ser adotadas pelos produtores em MS? Qual a importância desse tipo de feira para os pequenos produtores?

A realização dessa tradicional feira é de fundamental importância para a qualificação dos nossos produtores. Foram expostas novas tecnologias, novas variedades, o que fomenta a produção de hortifrutas, frutas, verduras, a criação de pequenos animais como ovelhas, peixes, aves, etc.

E é de total importância para que possamos qualificar tanto os nossos técnicos, nos cursos de tecnologias desenvolvidas pelas mais diversas universidades e empresas de pesquisa do País, quanto alguns experimentos feitos pela Embrapa, pela Agraer e por outras instituições de assistência técnica, que ensinaram os produtores novas tecnologias e variedades que fomentam ou aumentam a produção. Isso gera renda e qualifica os nossos produtores, para que a gente tenha êxito na atividade que é desenvolvida por eles lá no campo.

O Estado tem 70 mil famílias inseridas na agricultura familiar. O que MS tem feito no sentido de melhorar e tecnificar a produção dessas famílias?

A Agraer é a empresa responsável por prestar assistência técnica aos nossos produtores de forma gratuita. Nesse sentido, o governo do Estado tem vários programas tanto para a agricultura familiar dos assentados, os agricultores tradicionais, quanto para as comunidades indígenas e quilombolas, que nós também prestamos assistência técnica.

O governo tem incentivado com o oferecimento de insumos, com correção do solo, com distribuição de sementes, óleo diesel, máquinas e implementos e com orientação técnica, para que todos os agricultores de MS sejam assistidos e tenham condição de produzir.

O País passou por uma crise recente na questão da produção alimentar por intempéries climáticas, e nós entramos prontamente com a assistência técnica, com a distribuição de sementes, adubos e insumos, 
para que essas pessoas recuperem a sua capacidade produtiva e que, nos próximos anos, a gente volte à normalidade.

Como a Agraer tem atuado para preparar o setor para esse momento mais sustentável que Mato Grosso do Sul vive?

Essa é uma missão que o mundo clama: que a produção agrícola seja sustentável para que o planeta seja sustentável. Nós vimos nos últimos dias as condições climáticas tornando tanto a produção agrícola em si quanto a sobrevivência dos seres vivos cada dia mais difícil.

Nesse sentido, as universidades começaram a estudar, a criar novas técnicas, e nós aqui do governo do Estado, por meio da nossa instituição, estamos qualificando nossos técnicos para enfrentarem esse novo momento, de conviver com essas mudanças climáticas. Estamos primeiramente qualificando nossos técnicos para que a gente possa levar essa orientação técnica aos produtores. Temos feito vários dias de campo para mostrar técnicas mais sustentáveis na hora de produzir.

O sistema de produção da agricultura familiar de MS já está preparado para esse novo momento?

Obviamente que ainda precisamos avançar, mas nós temos várias ações já sendo implementadas que vêm ao encontro desse momento. Como a implantação de agroflorestas, onde é produzido o alimento conjugado com a preservação da natureza, bem como o sistema agropastoril, quando o rebanho bovino é integrado com algumas culturas. Isso vem ao encontro do sequestro de carbono, que é uma meta de Mato Grosso do Sul ser um estado carbono neutro até 2030.

Temos outras atividades, por exemplo, aquaponia, hidroponia e criação de peixes em sistema de tanques elevados, em que a água é filtrada e reaproveitada na produção de alimentos, principalmente de frutas e verduras. Então, tem algumas ações já sendo implementadas nesse sentido aqui no Estado, e estamos difundindo elas.

São tecnologias novas e que o mundo clama por isso, para você produzir mais em um pedaço menor de terra, com uma produção sustentável, de escala, que tenha possibilidade de dar uma renda para aquela pessoa que utiliza desse sistema para gerar alimentos.

Há algum projeto da Agraer voltado especificamente para a meta de carbono neutro até 2030?

Essa missão foi passada pelo governador ao nosso secretário Jaime Verruck, da Semadesc, que é a Pasta a qual estamos vinculados. Então, está em processo de formatação, e a Agraer será o braço operante, será aquele [órgão] que vai implantar de fato esse projeto nas comunidades da agricultura familiar em MS.

Desenha-se, em um primeiro momento, que a gente atenderá aproximadamente 2 mil famílias com a implantação de uma agrofloresta. Isso está bem adiantado, e eu não tenho os dados aqui, porque é um projeto que está sendo gestado, pensado e escrito pela Secretaria Executiva da Agricultura Familiar.

Qual a importância de recursos como os do Plano Safra serem direcionados especificamente para os pequenos produtores?

Sem esse recurso, o pequeno produtor terá muita dificuldade em implementar uma atividade produtiva na sua pequena propriedade. O ano agrícola é diferente do ano civil – o agrícola começa em junho e termina em junho do outro ano.

Foi lançado aqui em Campo Grande, no ano passado, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, o maior Plano Safra da história do Brasil, em que foi destinado para MS, para a agricultura familiar, R$ 400 milhões. Grande parte desses recursos, dos projetos, é elaborada pelos técnicos da Agraer nas mais diversas áreas, como reforma de pastagem, construção de currais, aquisição de implementos, semente, enfim, são para investimentos e custeio.

Implementamos neste ano, no ano agrícola 2023/2024, um valor superior ao do ano passado, algo em torno de 30% [a mais]. Isso eu falo nos projetos elaborados pela agência. A Agraer é campeã no Estado na questão da elaboração dos projetos de financiamento para o Plano Safra. São recursos do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], com juros subsidiados, e se o produtor pagar em dia ainda tem um abatimento que pode chegar a 40% do valor adquirido no empréstimo. Então, a gente orienta aqueles produtores que estejam aptos e que tenham interesse que procurem os escritórios da Agraer, e nós vamos orientá-los sobre qual linha de crédito ele pode acessar. A cada ano, esse valor vem se ampliando, e os técnicos estão à disposição para elaborarem esses projetos.

Ter acesso a projetos como o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) Rural deve fortalecer o segmento em Mato Grosso do Sul?

Isso é de fundamental importância para os nossos pequenos produtores. Aqui eu faço um destaque aos nossos indígenas, que são muito carentes de moradia. Temos algumas comunidades muito pobres, onde eles ainda moravam em casas de pau a pique [taipa], barracos cobertos de lona. Há mais de seis anos não era construída uma única casa do programa Minha Casa, Minha Vida [Rural] em MS. Com a retomada [do MCMV Rural], com as gestões [do governador Eduardo] Riedel e [do presidente] Lula, também foi retomado o Programa Nacional de Habitação Rural.

Fomos procurados pela Agehab [Agência de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso do Sul], que é responsável por esse programa aqui em MS, e colaboramos na identificação desses produtores, aqueles que mais precisavam. Ajudamos [eles] a levantarem toda a documentação, tanto pessoal quanto da propriedade, da localização da propriedade, enfim, todos os trâmites necessários para que essa pessoa consiga ter acesso ao programa de habitação. Fomos para uma disputa a nível nacional e acabamos contemplados com cerca de mil casas aqui no Estado.

O programa vai levar dignidade, fazer com que a pessoa se fortaleça lá no [seu] pedaço de terra. Quantas pessoas deixaram sua propriedade por ter dificuldade em sobreviver no local? Então, é uma série de políticas públicas, de incentivo à produção, de qualificação, de novas linhas de crédito, e agora com habitação. Enfim, nós temos uma série de políticas públicas que são destinadas para os nossos agricultores familiares, indígenas e quilombolas.

Eu acho que a moradia é a coisa que dá maior dignidade ao ser humano. É você ter um lugar onde possa se abrigar da chuva, do sol, que você tenha um mínimo de conforto. Tendo conforto, você vai incentivar o homem a ficar lá no campo, a produzir. E hoje, sem tecnologia, internet, energia elétrica, se não tiver tudo isso lá no campo, é muito difícil [que eles] permaneçam lá. E é gratificante a gente poder, enquanto instituição, colaborar um pouquinho para levar dignidade a essas pessoas.

E quanto às verbas de emendas? Há alguma projeção de recursos para a agricultura familiar?

Estamos executando hoje em MS R$ 200 milhões em emendas parlamentares da nossa bancada, tanto dos senadores quanto dos deputados federais. Alguns convênios já vêm sendo executados há alguns anos, que é um sistema bastante burocrático. Neste ano já tivemos um incremento de R$ 50 milhões, entre 2023 e 2024, para aquisição de implementos como trator, carreta, grade, arado, etc. para as comunidades rurais do nosso estado, bem como insumos, adubo, calcário, entre outros.

Então, é constante a nossa peregrinação por Brasília, pelos ministérios e pelos gabinetes dos nossos deputados federais, dos nossos senadores, solicitando esses recursos, a fim de que possamos atender a contento aos nossos produtores. E eles não têm nos faltado com atendimento constante. Os deputados estaduais colaboram também. É fundamental a participação dos nossos parlamentares, e temos uma quantidade de recurso razoável que será destinado aos produtores nos próximos meses.

Perfil

Washington Willeman de Souza

Natural de Itaporã, tem 55 anos e se formou em Engenharia de Agrimensura pelo Centro de Ensino Superior Prof. Plinio Mendes dos Santos em 1994. Ingressou na Agraer em 24 de janeiro do mesmo ano como assessor técnico e foi aprovado em concurso público para o cargo efetivo de gestor de Desenvolvimento Rural – Engenheiro Agrimensor em 14 de setembro de 1998. Desempenhou funções de destaque na agência, entre elas a de gerente de Regularização Fundiária entre 2003 e 2006.Posteriormente, foi cedido para atuar como chefe da Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária da Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Mato Grosso do Sul, no período de 2008 a 2011. Ainda, de 2020 a 2023, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Instituições de Extensão Rural, Pesquisa, Assistência Técnica, Serviços Agropecuários e Afins de Mato Grosso do Sul (Sinterpa-MS).

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Cidades

Após morte de indígena, deputados devem enviar pedido de solução à Lula

Crime ocorreu na madrugada desta quarta-feira (18) quando atiradores atacaram propriedade localizada em Antônio João

18/09/2024 18h15

Após morte de indígena, deputados devem enviar pedido de solução à Lula

Após morte de indígena, deputados devem enviar pedido de solução à Lula Reprodução

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Após registro de morte de um indígena, em confronto com a polícia durante a madrugada de hoje (18), em território Nanderu Marangatu, deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) se reuniram na sessão plenária para planejar um pedido urgente de solução que deve ser entregue ao presidente Lula (PT) pelos ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional).

“Não estou acusando a polícia, mas o tiro não caiu do céu, partiu da arma de alguém e uma coisa tem que ser registrada: nesses conflitos somente indígenas morrem. Eles são vulneráveis, passam fome, tem crianças, idosos, mulheres. Há mais de 20 anos eu faço a defesa pacífica dos conflitos, dando logo a indenização aos fazendeiros, porque é irracional deixar as partes brigando, em um bang bang sem fim”, criticou Kemp.

O parlamentar fez um apelo para a Polícia Federal intervir, investigar e elucidar o caso. O deputado Zeca do PT (PT) relembrou que já falou ao presidente Lula sobre o assunto em seu primeiro mandato. 

“Levei para o presidente Lula, que se interessou, conversei com ministro na sequência, mas aí depois vieram [os presidentes] Dilma, Temer, Bolsonaro e agora de novo Lula e nada se resolveu. Absolutamente não dá mais para ter conflitos”.

Já a deputada Gleice Jane (PT) disse que na vinda de Lula a Corumbá (MS), o presidente discursou a membros de diversas comunidades e ao governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), dizendo que tem a intenção de resolver.

Gleice ainda ressaltou que policiais também são vítimas de um sistema que não protege o trabalhador, mas que por outro lado chamou a atenção a quantidade de policiais da tropa de choque em defesa de uma propriedade privada. “Não podemos ver privilégio a alguns em detrimento de outros”, considerou.

O caso ocorrido nesta madrugada fez com que o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul convocasse a sala de situação onde o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, culpou "índios paraguaios a serviço do tráfico de drogas" pelo acirramento dos confrontos no interior de MS. 

"Nós percebemos que nos últimos dias foi acirrando com a presença de 'índios paraguaios'. Nós estamos ali numa região onde a fronteira é um rio pequeno, facilmente transponível; e do lado de lá nós temos diversas plantações de maconha... então há um interesse de facções criminosas que exploram o tráfico de drogas", afirma o titular da Sejusp. 

Segundo Videira, que há um ano soltou a afirmação: "Policial meu não vai morrer na faca com fuzil na mão", a Fazenda Barra fica menos de 5 km da linha internacional de fronteira, com informações da inteligência apontando a região como "estrategicamente posicionada" para escoar a produção do tráfico de drogas. 

"A grande produção de toda essa região tem como destino grandes centros, por meio de aldeias. De aldeia em aldeia até chegar próximo de Campo Grande; Dourados; e aí ter acesso aos maiores centros consumidores", afirma o titular da pasta de Segurança Pública de MS.

Vale lembrar que esses povos originários residem na Terra Indígena batizada de Nanderu Marangatu, onde ainda existe uma propriedade que seria a última na posse de outros que não os povos originários, e que com homologação datando de 2005, essa propriedade estaria sobreposta em uma área voltada para ocupação tradicional dos indígenas de Nanderu Marangatu. 

Força Nacional

Apesar de acompanharem os membros da Coordenação Regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), agentes da Força Nacional não estavam presentes na Terra Indígena Nanderu Marangatu, da qual os povos originários foram alvos de ataques durante o fim da madrugada.

Segundo texto do Conselho Indigenista, a violência iniciada se estendeu ainda durante o período da manhã, quando a Polícia Militar teria arrastado o corpo de Neri para um pedaço de mata, o que causou comoção e revolta dos demais indígenas. 

Medidas

O governador Eduardo Riedel disse que "lamenta profundamente" o episódio, já Videira reforça que a ideia era tentar evitar confrontos, porém, que a situação fugiu ao controle. 

"Tudo o que a gente não queria era que isso acontecesse. Nós queremos de agora para frente é que se gerencie a crise para que nós não tenhamos mais nenhuma morte", cita o secretário. 

Apoiado na ordem judicial, Videira complementa que a decisão sob a qual a polícia age foi inclusive estendida, para que as forças policiais garantam o "ir e vir" dos funcionários e "proprietários" da fazenda, desde a rodovia até a sede, num percurso de mais de 10 quilômetros. 

"Temos aproximadamente 100 militares lá, de PMs; do Tático; batalhões da região; quatro equipes do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) e batalhão de Choque também... vamos manter porque estamos cumprindo a ordem judicial", completa o titular da Sejusp. 

Indígena morto

Em 2005 houve homologação da Terra Indígena em Antônio João como de ocupação tradicional dos indígenas de Nanderu Marangatu, na qual está sobreposta a chamada Fazenda Barra. 

Ao que tudo indica, essa seria a última propriedade sob ocupação de não indígenas, sendo que no último dia 12 houve ação de retomada, na qual foi registrada esse primeiro confronto. 

"Na madrugada [de hoje, (18)] começaram a atacar a comunidade; derrubar os barracos; queimar, e teve uma pessoa assassinada, parece que executada, que dizem que tinha atirador no meio e executou o indígena e a Tropa de Choque está lá cercando o corpo, a gente tentando que a PF vá lá retirar e fazer a perícia", afirma Anderson Santos, advogado pelo Conselho Indigenista Missionário. 

***Colaborou Léo Ribeiro e Naiara Camargo***

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Caso Marcel Colombo

Mãe de Matheus Xavier acompanha júri e acredita em nova condenação

Cristiane de Almeida Coutinho esteve na plateia acompanhando o julgamento e demonstrou empatia e solidariedade aos familiares de Marcel Colombo. O filho dela, Matheus Xavier, foi executado em 2019 no lugar do próprio pai.

18/09/2024 18h03

Cristiane de Almeida Coutinho, mãe de Matheus Coutinho Xavier, executado por engano no lugar do pai em 2019.

Cristiane de Almeida Coutinho, mãe de Matheus Coutinho Xavier, executado por engano no lugar do pai em 2019. Fotos: Gerson Oliveira

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Cristiane de Almeida Coutinho, mãe de Matheus Coutinho Xavier, executado por engano no lugar do pai em 2019, esteve presente na plateia no terceiro e último dia do 2º julgamento da Operação Omertà. A morte do estudante de Direito desencadeou diversas fases da operação, incluindo o assassinato de Marcel Colombo, julgado nesta quarta-feira (18).

Jamil Name Filho e Marcelo Rios estão sendo julgados pela morte de Colombo e já passaram pelo júri pela morte de Matheus Coutinho. Ambos foram condenados a 23 anos de prisão, enquanto Vladenilson Olmedo foi condenado a 21 anos de prisão em julho do ano passado pela execução do estudante.

Ainda tentando se reerguer após o julgamento da morte de seu próprio filho, Cristiane, compareceu ao julgamento que pode condenar definitivamente a organização criminosa que o assassinou.

Durante o intervalo no Tribunal do Júri, Cristiane disse que compareceu ao julgamento para prestar solidariedade à família de Marcel Colombo.

 "Eu não os conheço, nunca tive relação, mas decidi comparecer para prestar a minha solidariedade. Imagino o tanto que [família] que estão sofrendo neste momento", disse. 

Cristiane, que permaneceu na plateia após a entrevista ao Correio do Estado, demonstrou empatia durante o julgamento, lembrando que, em junho do ano passado, foi ela quem encerrou os dias de júri como assistente de acusação, junto ao Ministério Público Estadual (MPE), para garantir a condenação dos acusados de executar Matheus.

"Imagino de verdade como deve ser difícil para eles, inclusive para o próprio júri que deve extremamente doloroso, porque estava daquele lado e é algo difícil para todos", relatou. 

Ao ser questionada se acredita na condenação, Cristiane disse que não teve acesso aos laudos, mas acredita que os suspeitos pela morte de Marcel Colombo sejam condenados. 

"Acredito sim, na condenação, até porque tem muitas provas compostas", afirmou. 

3º dia de julgamento 

No último dia de julgamento, os advogados de defesa de Jamil Name Filho, Pedro Paulo Sperb e Nefi Cordeiro, alegaram que Marcel Colombo sempre resolvia seus problemas com muita violência.

Eles relataram e apresentaram provas de que o Playboy da Mansão foi executado por pessoas envolvidas com o narcotráfico.

"Ele andava [pelas ruas] com soco inglês e cobrava as pessoas com violência, mas a polícia não ouviu ninguém. [Eu mesmo] tive acesso a diversos boletins de ocorrência dessas vítimas que sofreram lesão corporal por Colombo, e o delegado não chamou ninguém para conversar ou apurar. Iniciaram as investigações com provas baseadas na internet", relatou.

De acordo com o advogado Pedro Paulo, Colombo não levava desaforo para casa e era extremamente violento. As investigações incluíram provas que poderiam levar a outros suspeitos. 

"Segundo a polícia, Marcel Colombo contraiu uma dívida milionária com traficantes e não teria condições de pagá-la, o que irritou os criminosos e culminou na morte do empresário. As provas apresentadas mostram que a vítima [Jamil Name] foi presa pela Polícia Federal porque o delegado do inquérito entrou em contato com eles e disse que não havia nenhuma prova relevante para seguir com a investigação."

Ao ser questionado, Jamilzinho negou que tenha matado Colombo.  

Cristiane de Almeida Coutinho, mãe de Matheus Coutinho Xavier, executado por engano no lugar do pai em 2019. Jamil Name Filho negou que tenha matado Marcel Colombo. Fotos: Marcelo Victor/ Correio do Estado 


Júri

Começou na segunda-feira (16) o julgamento de Jamil Name Filho e outros acusados de envolvimento no assassinato de Marcel Hernandes Colombo, morto em um bar situado na Avenida Fernando Correa da Costa, em 2018.

Ele e mais dois amigos estavam sentados à mesa na cachaçaria, quando por volta da 0h, um suspeito chegou ao local de moto, estacionou atrás do carro da vítima e, ainda usando capacete, se aproximou pelas costas e atirou.  

A vítima morreu no local e um jovem de 18 anos foi atingido no joelho.

A motivação do crime, conforme o processo, seria vingança por um desentendido anterior da vítima e Jamilzinho em uma boate, em Campo Grande, quando Marcel deu um soco no nariz de Name Filho. Ele já prestou depoimento, por meio de videoconferência, pois se encontra preso em Mossoró (RN) e confirmou o desentendimento, mas negou participação no crime.

José Moreira Freires, Marcelo Rios e o policial federal Everaldo Monteiro de Assis foram são acusados de serem os intermediários, encarregados de levantar informações sobre a vítima, e Juanil Miranda foi o executor.

O ex-guarda Rafael Antunes Vieira não teve participação no homicídio, mas foi o responsável por ocultar a arma usada no crime.

(*Colaborou Judson Marinho e Glaucea Vaccari)

 

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