Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial deste sábado: "Até quando?"

Editorial deste sábado: "Até quando?"

Redação

08/08/2015 - 00h00
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As sonoras e vigorosas vaias ao prefeito Gilmar Olarte na Feira Central, na última quinta-feira pedindo a sua saída do cargo são o termômetro da insatisfação da população, e mostra um problema cada vez mais difícil para ele resolver. 

Sem pagar fornecedores e empreiteiras desde o mês de maio, e atrasando salários de servidores pela primeira vez em duas décadas, a prefeitura de Campo Grande entra no mês de agosto em estado lastimável. Não só em suas contas, cujo reflexo da penúria pode ser notado na escassez de serviços públicos, infraestrutura deficiente e falta de investimentos, mas também em sua gestão, cada vez mais atrapalhada diante de um cenário que só se agrava.

As sonoras e vigorosas vaias ao prefeito Gilmar Olarte na abertura do Festival do Sobá na Feira Central, na noite da última quinta-feira pedindo a sua saída do cargo são o termômetro da insatisfação da população, e mostra um problema cada vez mais difícil para ele resolver.

Com receita cada vez menor, e despesas cada vez maiores, a prefeitura caminha para o colapso. Não é de hoje que o alerta vem sendo feito. Há pouco menos de 1 ano publicamos as primeiras reportagens demonstrando a necessidade de o prefeito cortar gastos com folha de pagamento, sobretudo com funcionários comissionados, para equilibrar as contas do município. O dinheiro gasto com todos estes funcionários contratados sem necessidade, que o prefeito prometeu cortar (até hoje não provou um corte consistente na folha) está fazendo falta agora. Muita falta.

Não há recursos suficientes para pagar todos os salários do mês passado dos servidores públicos até o quinto dia útil deste mês. Também não há nenhuma previsão de que a prefeitura terá fôlego para retomar o pagamento em dia da remuneração de seus servidores, nem tampouco do pagamento do 13º salário.

São os funcionários de carreira do município que estão pagando pela contratação de um exército de comissionados no último ano.

O cenário também não está nada fácil para os fornecedores. A Operação Tapa-Buraco perdeu força. As empreiteiras não recebem desde o mês de maio e a manutenção das vias só existe porque estas empresas têm de manter seus milionários contratos com o município. Outras obras de infraestrutura também 
estão emperradas.

No setor da saúde o caos nos postos de saúde que realizam atendimento de urgência e emergência é assunto frequente do noticiário, longe de uma solução, ainda mais neste período em que não se vê saída em praticamente nenhum setor da administração municipal.

Para piorar tudo, ainda há uma crise econômica e política em nível nacional, que só agrava o momento complicado pelo qual passa o município de Campo Grande.

O problema que começou com a irresponsabilidade do ex-prefeito cassado Alcides Bernal, agravou-se com a imprudência do atual mandatário Gilmar Olarte, que não fez os ajustes necessários quando era possível. Nos resta saber, agora, até quando a cidade continuará caminhando rumo ao colapso. A triste constatação, é de que ainda não chegamos ao fundo do poço.

 

Editorial

A farra das diárias e o municipalismo

O que se espera de um líder municipalista é coerência, e não a exploração de brechas que permitam benefícios pessoais camuflados sob a justificativa do interesse público

10/05/2025 07h15

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A reportagem em destaque nesta edição traz à tona uma reflexão necessária e incômoda: os prefeitos de Mato Grosso do Sul parecem não estar aprendendo nada. Em meio a discursos inflamados sobre ética, responsabilidade fiscal e compromisso com os municípios, o que se vê, na prática, são episódios que contradizem completamente essa retórica. A suspeita de uso indevido de diárias envolvendo o ex-prefeito de Nioaque, que também presidiu por anos a Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul), é mais um capítulo vergonhoso nesse cenário.

A Assomasul, como o nome já indica, representa os interesses dos municípios. Seu presidente deveria ser um defensor do municipalismo na essência: proximidade com o cidadão, zelo pelos recursos públicos, valorização da transparência e busca constante por eficiência na gestão. O que se apresenta, no entanto, é uma conduta que pode comprometer a imagem de toda a causa municipalista, tão alardeada nos últimos anos como a solução para muitos dos males da administração pública.

E o que dizer da questão das diárias? O Ministério Público apura a suspeita de que o ex-prefeito, enquanto presidente da Assomasul, tenha recebido diárias tanto da Prefeitura de Nioaque quanto da associação para cobrir os mesmos compromissos. Se confirmadas as irregularidades, não se trata apenas de um erro técnico, mas de uma prática que pode configurar má-fé com o uso do dinheiro público – justamente aquele recurso que, segundo o discurso dominante, está sempre em falta.

É lamentável, sobretudo, que essa conduta venha de alguém que, enquanto representante dos municípios, muitas vezes foi a Brasília (DF) em nome do “interesse coletivo”, pedindo mais repasses e reclamando da escassez de verbas. Afinal, se falta dinheiro, para onde está indo o que já se tem? O que se espera de um líder municipalista é coerência, e não a exploração de brechas que permitam benefícios pessoais camuflados sob a justificativa do interesse público.

Nos últimos anos, o que mais se ouviu foram queixas das prefeituras sobre a insuficiência de recursos. A narrativa da “crise permanente” se tornou corriqueira, quase automática. No entanto, situações como a revelada pela investigação do Ministério Público lançam dúvidas legítimas sobre a real aplicação dos recursos e sobre a lisura de muitos dos que ocupam cargos de responsabilidade.

É preciso que a população esteja atenta. A vigilância da sociedade é uma ferramenta poderosa de controle. Os eleitores devem estar conscientes de que o voto não encerra o dever cívico, mas o inaugura. Da mesma forma, os órgãos de fiscalização e controle precisam atuar com firmeza e independência, para coibir abusos e garantir que o dinheiro público não continue sendo tratado como propriedade privada de poucos.

Este ocorrido, como tantos outros, merece apuração rigorosa e, se for o caso, punição exemplar.

Acompanharemos os desdobramentos com atenção e compromisso. A luta pelo municipalismo sério e transparente não pode ser sequestrada por quem confunde representação pública com benefício pessoal.

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ARTIGOS

Entre a solidão e os likes

09/05/2025 07h45

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A série britânica “Adolescência”, de grande repercussão mundial, expõe de maneira crua e impactante os desafios enfrentados pelos jovens na era digital, especialmente no que diz respeito à influência das redes sociais e à vulnerabilidade emocional dos meninos e meninas. A trajetória de Jamie Miller, um inseguro garoto de 13 anos, acusado de assassinato, que se isola e se torna suscetível a discursos extremistas, revela o perigo do abandono silencioso e da solidão, compensados pelas ilusões virtuais da internet. Embora seus pais não sejam retratados como violentos ou negligentes, a falta de percepção sobre sua angústia abriu espaços para que se afastasse da realidade sem que ninguém diagnosticasse a gravidade da situação.

Diante dessa narrativa, é inevitável refletirmos sobre o papel da escola e da família na formação dos jovens e na prevenção de episódios trágicos. A primeira, enquanto espaço de desenvolvimento social e intelectual, precisa ir além da mera transmissão de conteúdos acadêmicos. É imprescindível que os educadores estejam atentos aos sinais de isolamento, sofrimento psicológico e mudanças comportamentais. Estratégias como rodas de conversa, ensino de pensamento crítico e projetos que abordem o uso responsável da internet podem ser ferramentas valiosas na construção de um ambiente mais seguro para os estudantes.

Além disso, o bullying, um fator central na trama de “Adolescência”, precisa ser enfrentado com seriedade dentro das instituições de ensino. A humilhação e a exclusão vivenciadas por Jamie na escola são experiências comuns a muitos jovens na vida real. Se não forem adequadamente remediadas, podem desencadear sentimentos de revolta e raiva e até mesmo ações extremas. Criar um espaço no qual o respeito mútuo e a empatia sejam valores praticados no cotidiano contribui muito para evitar que adolescentes sintam-se desamparados e busquem refúgio em ideologias e sentimentos nocivos, como a misoginia, o machismo, a discriminação e o rancor.

No entanto, a escola não pode agir sozinha. A família precisa ser um pilar na formação emocional dos adolescentes, mantendo um diálogo aberto e honesto sobre os desafios dessa fase da vida. A série evidencia como os pais de Jamie, apesar de bem-intencionados, não perceberam sua gradual desconexão. Esse afastamento pode ocorrer em qualquer núcleo familiar, independentemente de sua estrutura. Com a influência crescente da internet, é necessário estar muito atento ao que consome o tempo e a mente dos filhos, orientando-os sobre os perigos do mundo digital, sem recorrer a medidas meramente repressivas. Educar pelo exemplo também é fundamental.

A responsabilidade de ensinar e proteger os jovens é compartilhada entre escola e família. Quando ambos os ambientes falham em oferecer suporte emocional e orientação adequada, abre-se um vazio perigoso, que costuma ser preenchido por influências externas condutoras a caminhos destrutivos.

“Adolescência” narra um drama familiar e nos alerta para a necessidade urgente de fortalecermos os laços que ligam os jovens ao mundo físico de seus espaços de convivência. É somente por meio do acolhimento, do diálogo e da educação que poderemos evitar que histórias como a de Jamie se multipliquem. Nesse propósito, a escola é crucial. As instituições de ensino que levam essas questões a sério, com responsabilidade e compromisso, contribuem muito para prevenir o isolamento e reconectar meninos e meninas à realidade.

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