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OPINIÃO

Luiz Fernando Mirault Pinto: "Faltam ética e cidadania"

Físico e administrador

Redação

19/08/2015 - 00h00
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É com satisfação que sempre me refiro aos méritos dos professores que participaram na minha formação em todos os níveis de estudo, alguns de renome nacional e outros internacionais. Trabalhei no Inmetro com J.G. Ernest Engelhard, doutor em medições de precisão, criador da lâmpada de Criptônio (1951) cujo comprimento de onda levou a definição (1960-1983) ao Padrão Internacional do Metro.

Certa vez com muito respeito chamei-o por Doutor. Instantaneamente fui corrigido, tendo ele se cognominado de Professor. Ao perguntá-lo do porque dessa escolha, ele me afirmou que Professor era mais importante do que Doutor, uma vez que além de ser uma atividade imprescindível para transmissão do saber, tinha o dever e a responsabilidade de transmitir adequadamente seus conhecimentos ao “entrar” na cabeça dos alunos. 

Dizia ele que professor na Alemanha era muito diferente do professores nos outros países. O titulo era reservado apenas aos docentes seniores nas universidades, que além do grau acadêmico de doutor, o candidato deveria se submeter à outra tese frente a especialistas para ser habilitado como professor. Isto significava muitos anos de experiência profissional ou acadêmica após o doutoramento. Nas universidades técnicas o professor ainda era mais respeitado e reconhecido internacionalmente na sua área de trabalho. Esse respeito e valorização tinham a ver com os princípios éticos na educação e na construção da cidadania. 

Avesso que sou às comparações estatísticas, sabemos que existem diferenças gritantes em relação segmentos e atividades sócias econômicas entre - mundos. No Brasil, no entanto, não se trata apenas de tradição, costume, cultura, época, conjuntura econômica, ou capacidade intelectual o que coloca nossa educação aos baixos níveis ou que leva ao desinteresse da classe política e autoridades governamentais na solução dos problemas da área da Educação: o que falta para voltarmos a ter respeito com os professores (e com os políticos) é uma aula de ética cidadã para todos aqueles que têm a oportunidade de reverter às expectativas e de promover o avanço nos diálogos assertivos, o façam, no caso as duas partes deste embate que se arrasta com greves e descasos intermináveis.

De um lado a Educação, base da cidadania, importante no desenvolvimento do conhecimento, do comportamento e competências para se formar um cidadão, fugindo da ignorância, do amadorismo, que nesse momento assola o País. Ela também é responsável pela formação e informação do cidadão (desde criança) aquele capaz de estabelecer e atender a uma ordem social delineada pelas normas que ele mesmo ajudou a elaborar. Exatamente por isso ele é responsável por zelar pela sua adequada aplicação. Essa cidadania se baseia num conjunto de ditames legais sobre as atividades do ser humano e seu exercício e é a garantia necessária ao equilíbrio e a harmonia na aplicação dos direitos e deveres.

Do outro, uma atividade nobre, a esquecida Política, carente atualmente dos valores éticos fundamentais necessários para a representação popular. Uma ética que se baseia em regras, princípios e valores (moral) comportamentais do indivíduo, balizadas pelo seu caráter e pelos costumes que o moldaram e que permite a vida em sociedade mantendo as relações com o entorno, construindo os instrumentos de poder e a ocupação do espaço comum.

O reflexo desfocado dos objetivos verdadeiros dessas duas importantes classes sociais do País e que retrata a mediocridade de tantas outras, nos sugere que existe a falta de ética e de cidadania aos discursos: os educadores reclamam do aviltamento dos seus salários enquanto alardeiam que estamos em crise, por outro lado os representantes do povo, aumentam seus ganhos independente de crise, e a terceira parte, o patrão, descarta a crise, ao mesmo tempo em que se mostra sem recursos e alheio ao problema. Um curso de ética e cidadania evitaria que os interesses individuas prevalecessem e que permanecerem estáticos olhando a própria cauda. 

Editorial

O leito que falta: um problema de todos

O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos

17/05/2025 07h15

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É triste constatar que, em pleno 2025, Mato Grosso do Sul ainda não apresenta projetos consistentes para enfrentar a crescente escassez de leitos hospitalares na rede pública. Mais preocupante do que a ausência de iniciativas é a aparente indiferença de parte dos gestores públicos diante de um problema que, cedo ou tarde, afetará diretamente toda a população, inclusive quem hoje acredita estar protegido por planos de saúde privados.

A raiz da crise é complexa, mas há fatores evidentes e evitáveis. A baixa capacidade de investimento dos entes públicos tem um papel central, sem dúvida, mas não se pode ignorar o impacto desastroso da forma como são utilizadas as emendas parlamentares no orçamento da União. A lógica paroquial, que transforma recursos públicos em moedas de troca para atender interesses eleitorais locais, é corrosiva. Em vez de investimentos estruturantes na saúde, como a abertura de novos leitos hospitalares, o dinheiro é pulverizado em pequenas obras, compra de tratores ou projetos sem descrição clara. Atende-se a poucos, e mal.

Essa fragmentação do Orçamento revela uma distorção grave na nossa democracia representativa: a prioridade deixou de ser o bem público e passou a ser a manutenção de currais eleitorais. Enquanto isso, problemas estruturais se acumulam, sem resposta adequada. A saúde pública sente esse impacto de maneira particularmente dura. A cada novo surto, crise sanitária ou aumento de demanda, o sistema entra em colapso – não por falta de profissionais ou de capacidade técnica, mas por pura ausência de leitos disponíveis.

Campo Grande, a capital do Estado, é um retrato fiel dessa negligência. A reportagem que segue nesta edição revela o que aqueles que dependem do SUS já sabem de cor: há filas para internações, pacientes aguardando vagas em prontos-socorros superlotados e famílias angustiadas com a falta de uma estrutura minimamente adequada. E o pior: mesmo em um cenário tão crítico, as autoridades parecem pouco mobilizadas para reverter a situação.

A lógica do clientelismo que se impôs sobre a política brasileira cobra seu preço. Em vez de técnicos capacitados e compromissados com o planejamento de longo prazo, temos apadrinhados políticos ocupando cargos estratégicos. Em vez de projetos estruturantes, temos soluções paliativas – quando muito. Em vez de visão de Estado, temos cálculos eleitorais. O resultado é a perpetuação de problemas como a falta de leitos hospitalares, que compromete a vida e a dignidade de milhares de cidadãos.

É urgente que o debate sobre emendas parlamentares ganhe centralidade no debate público. O Brasil precisa rever profundamente a forma como distribui e fiscaliza o uso desses recursos. Não se trata de eliminar o instrumento, mas de transformá-lo em ferramenta de desenvolvimento real e equitativo. A saúde deve ser prioridade, e isso precisa estar refletido em cada decisão orçamentária.

É uma pena que, enquanto isso não acontece, o cidadão comum continue enfrentando corredores lotados, espera indefinida e sofrimento evitável. O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos.

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ARTIGOS

Hierarquia em postos de trabalho: lutas e dilemas

16/05/2025 07h45

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As responsabilidades dos postos de trabalho são diversas e complexas e respondem a uma hierarquia estrutural das empresas. Recentemente, fiz mais uma entrevista em uma organização para uma vaga disponível e, mais uma vez, ofereceram-me uma colocação que não tinha nada a ver com a minha formação e experiência profissional. Era um posto de assistente administrativo, para atender, no balcão, as pessoas que necessitam de encaminhamento e orientação. Sendo psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicoterapia de Orientação Analítica, encerrando mais uma em transtorno do espectro autista (TEA), e professora de Libras, me assustei com a completa invisibilidade do meu currículo para a empresa.

Para revidar esta proposta, perguntei à pessoa que estava me entrevistando se não havia uma vaga para a área de Psicologia. Percebi que o que eu estava perguntando era irreal para a empresa, porque este posto não é, em geral, ofertado para pessoas com deficiência (PCDs). Ainda que eu sonhe com esse posto, o mercado de trabalho não reserva esse espaço para mim. Existe somente uma compreensão: as organizações só empregam PCDs em razão da Lei de Cotas, artigo 93 da Lei nº 8.213/91, porém, não garantem a inclusão nem minimizam as discriminações.

Ter algum tipo de deficiência não pode anular a capacidade e as habilidades dos profissionais. Como podemos mostrar isso para a sociedade? Como podemos nos empoderar para enfrentarmos essas barreiras?

As dificuldades e os empecilhos da aceitação social da diversidade são marcas que vieram com a escravidão portuguesa, com as propagandas de governos sobre o branqueamento da população e com o apagamento de classes desfavorecidas. Os preconceitos se multiplicaram durante mais de dois séculos, e nos encontramos diante de uma batalha de titãs. Não podemos esmorecer. Temos de nos fortalecer por meio de cursos de formação, da divulgação de textos, de fazer com que as leis sejam cumpridas, criando associações, grupos de trabalho, grupos de estudos, entre outras atividades que possam nos legitimar como grupo social.

Podemos criar projetos e planos de carreira para desmantelar essa cultura empresarial de rejeitar a troca de saberes e conhecimentos na hierarquia dos postos de trabalho. Precisamos também garantir nosso lugar, para que possamos nos desenvolver e conseguir crescer junto com os demais funcionários. Não falo sozinha, pois, sempre que discuto com meus colegas nas redes sociais, vejo que eles e elas também se manifestam nesse sentido de não lhes darem oportunidade de avançar em suas carreiras profissionais.

Apesar de estarmos tão avançados nos meios de comunicação e nas tecnologias da informação, parece que os preconceitos não caminham paralelamente. Pelo contrário, parece que se acentuam. Ainda que aceitemos os tratamentos indevidos pelas empresas, precisamos combater as indiferenças, as humilhações e as dificuldades de relacionamento para alcançarmos vagas de trabalho condizentes com nossa formação e experiência profissional.

Menciono aqui as pessoas com autismo, que podem e devem trabalhar, pois sofrem de uma condição que não pode ser vista como uma deficiência. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento do indivíduo que interfere na capacidade de interação social, linguagem, comunicação e comportamento e que pode ser tratado por meio de terapias.

Atualmente, temos muitos diagnósticos de TEA tardios, pois o transtorno inclui uma variedade de características, mas, com acompanhamento especializado, são pessoas e profissionais capacitados para estudar e trabalhar.

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