É com satisfação que sempre me refiro aos méritos dos professores que participaram na minha formação em todos os níveis de estudo, alguns de renome nacional e outros internacionais. Trabalhei no Inmetro com J.G. Ernest Engelhard, doutor em medições de precisão, criador da lâmpada de Criptônio (1951) cujo comprimento de onda levou a definição (1960-1983) ao Padrão Internacional do Metro.
Certa vez com muito respeito chamei-o por Doutor. Instantaneamente fui corrigido, tendo ele se cognominado de Professor. Ao perguntá-lo do porque dessa escolha, ele me afirmou que Professor era mais importante do que Doutor, uma vez que além de ser uma atividade imprescindível para transmissão do saber, tinha o dever e a responsabilidade de transmitir adequadamente seus conhecimentos ao “entrar” na cabeça dos alunos.
Dizia ele que professor na Alemanha era muito diferente do professores nos outros países. O titulo era reservado apenas aos docentes seniores nas universidades, que além do grau acadêmico de doutor, o candidato deveria se submeter à outra tese frente a especialistas para ser habilitado como professor. Isto significava muitos anos de experiência profissional ou acadêmica após o doutoramento. Nas universidades técnicas o professor ainda era mais respeitado e reconhecido internacionalmente na sua área de trabalho. Esse respeito e valorização tinham a ver com os princípios éticos na educação e na construção da cidadania.
Avesso que sou às comparações estatísticas, sabemos que existem diferenças gritantes em relação segmentos e atividades sócias econômicas entre - mundos. No Brasil, no entanto, não se trata apenas de tradição, costume, cultura, época, conjuntura econômica, ou capacidade intelectual o que coloca nossa educação aos baixos níveis ou que leva ao desinteresse da classe política e autoridades governamentais na solução dos problemas da área da Educação: o que falta para voltarmos a ter respeito com os professores (e com os políticos) é uma aula de ética cidadã para todos aqueles que têm a oportunidade de reverter às expectativas e de promover o avanço nos diálogos assertivos, o façam, no caso as duas partes deste embate que se arrasta com greves e descasos intermináveis.
De um lado a Educação, base da cidadania, importante no desenvolvimento do conhecimento, do comportamento e competências para se formar um cidadão, fugindo da ignorância, do amadorismo, que nesse momento assola o País. Ela também é responsável pela formação e informação do cidadão (desde criança) aquele capaz de estabelecer e atender a uma ordem social delineada pelas normas que ele mesmo ajudou a elaborar. Exatamente por isso ele é responsável por zelar pela sua adequada aplicação. Essa cidadania se baseia num conjunto de ditames legais sobre as atividades do ser humano e seu exercício e é a garantia necessária ao equilíbrio e a harmonia na aplicação dos direitos e deveres.
Do outro, uma atividade nobre, a esquecida Política, carente atualmente dos valores éticos fundamentais necessários para a representação popular. Uma ética que se baseia em regras, princípios e valores (moral) comportamentais do indivíduo, balizadas pelo seu caráter e pelos costumes que o moldaram e que permite a vida em sociedade mantendo as relações com o entorno, construindo os instrumentos de poder e a ocupação do espaço comum.
O reflexo desfocado dos objetivos verdadeiros dessas duas importantes classes sociais do País e que retrata a mediocridade de tantas outras, nos sugere que existe a falta de ética e de cidadania aos discursos: os educadores reclamam do aviltamento dos seus salários enquanto alardeiam que estamos em crise, por outro lado os representantes do povo, aumentam seus ganhos independente de crise, e a terceira parte, o patrão, descarta a crise, ao mesmo tempo em que se mostra sem recursos e alheio ao problema. Um curso de ética e cidadania evitaria que os interesses individuas prevalecessem e que permanecerem estáticos olhando a própria cauda.