a) Sentido Histórico. A noite de 13 de agosto de 1971 tornou-se muito grata ao povo brasileiro quando o Presidente General EMILIO GARRASTAZU MÉDICE anunciou haver Portugal atendido a sua solicitação de entregar os despojos de D Pedro I à Nação que ele tornou independente. Portugal concordou em gesto esplêndido ao pedido do Brasil. O Panteão de São Vicente, de Lisboa, guardião dos restos mortais de tantos monarcas portugueses, ficou incompleto e empobrecido com a ausência de D. Pedro, mas o monumento do Ipiranga, o novo repositório guardará aquele que, sendo bom português, se sabia brasileiro e brasileiro queria ser. O corpo no Brasil e o coração em Portugal (conservado na cidade do Porto) foi a ultima mensagem do Imperador e Rei de louvor à unidade indestrutível de seus dois povos queridos trazido ao Brasil a bordo do navio “Funchal” da Esquadra portuguesa, chegaram ao Rio de Janeiro os despojos de D Pedro I, a 22 de abril de 1972.
Chefiava a “Delegação de Honra” de Portugal o próprio Presidente da República da nação-irmã, almirante AMÉRICO DEUS RODRIGUES THOMAZ. Após repousarem por breves dias na Quinta da Boa Vista, iniciaram a peregrinação por todo o País, iniciando a jornada em primeiro lugar por Porto Alegre, a 25 de abril, para daí seguirem a percorrer as capitais dos Estados e Territórios do Brasil, a fim de que, a 7 de setembro, veio a descansar para sempre, no local em que em 1822 proclamou D. Pedro a Independência do Brasil. Nas homenagens que o povo brasileiro prestou a um de seus maiores há a marca da unidade espiritual que sempre existiu na nossa Pátria, no presente como no passado. Nela se situa como evocação histórica a dominante influência de D. Pedro I na manutenção da unidade política de nosso imenso País. Na recepção dos despojos pelos Governadores dos Estados e Territórios ficou assinalado, simbolicamente o sentido federativo da República.
b) Papel de José Bonifácio. Qualquer aspiração coletiva só tem resultado se encontra indivíduos capazes de torná-la uma realidade. Os protagonistas da admirável epopéia de que resultou a nossa Independência foram, sem dúvida, D. Pedro I e José Bonifácio de Andrada e Silva: D. Pedro I por estar eventualmente à frente da Regência do novo Reino e José Bonifácio com seu civismo alicerçado num saber enciclopédico que lhe dava extraordinária visão política. “O primeiro foi o braço e o segundo o cérebro que tudo planejou, tudo previu e tudo organizou” (nas palavras do Encarregado dos Negócios da França ao dirigir-se ao seu governo). Se quisermos expressar com maior precisão podemos dizer,como Otávio Tarquínio de Souza, que Pedro I, foi o “eventfulman” – na classificação de Sidney Hook em seu livro “Os Heróis Através da História” – isto é o homem “cujas ações marcaram o curso dos acontecimentos” e marcaram porque, Príncipe Regente do Brasil e herdeiro do Trono de Portugal optou pelo país de adoção, aceitando a chefia do movimento libertador. A mesma coisa se poderá dizer de José Bonifácio, considerada a personalidade e a ação. Todavia o Andrada ilustre tem mais do “event-making-man”, do homem gerador de acontecimentos, condicionados estes mais pela sua capacidade de inteligência e pela energia pessoal do que por acidente de posição. O seu grande saber, o seu gênio intrépido e o seu caráter firme, que quase chegava a raiar em defeito, contribuíram para orientar a volubilidade do Príncipe nas coisas de Estado. Chegou enfim o Brasil ao termo de um movimento libertador que, iniciado em São Paulo em 1640, foi continuado sem desfalecimento no Maranhão em 1684, no recife em 1710, em Pernambuco 1712, reaceso em Minas em 1789, em Pernambuco em 1817 e depois, reanimado na Bahia, no Pará em Pernambuco e no Rio de Janeiro em 1821. E, efetivamente em Lisboa referindo-se ao movimento de Independência do Brasil, que já nitidamente se esboçava, dizia em meados de 1822 Borges Carneiro, um dos mais argutos componentes da Constituinte Portuguesa: “No Brasil, um só homem, José Bonifácio de Andrada e Silva, com a energia de seu caráter, improvisa força de mar e terra, acha recursos em abundancia e nos põe pela porta a fora com a maior sem cerimônia possível. Nós aqui gastamos o tempo todo em falar e não fazemos se não registrar as desfeitas que vamos recebendo do Brasil”. Palavra final.
* Nota: esta é a versão original do artigo, publicado incorretamente na edição do dia 7 de setembro.