No bairro mais populoso de Campo Grande, o Aero Rancho, a maioria dos moradores ainda convive com a falta de tratamento adequado de esgoto. Em muitas ruas, apenas algumas partes das vias contam com o sistema interligado na rede de tratamento.
É o caso da moradora Jaqueline Lima Nunes. Na rua em que mora, os vizinhos fizeram um abaixo-assinado para que a obra fosse feita em toda a via. No entanto, a ligação para o tratamento do esgoto residencial foi implementada até a “metade do caminho”.
“Ainda estamos com o sistema de fossa em casa. Tivemos, inclusive, de mandar esvaziar há alguns dias. O que nós queríamos mesmo é que houvesse a rede de esgoto aqui”, relata Jaqueline. Jane Mendes, que também mora no Aero Rancho, vive a mesma situação que a amiga Jaqueline.
“O que me parece é que os responsáveis pela rede de esgoto nos menosprezam pela nossa condição financeira. Penso que, se a rua é asfaltada, ela tem que contemplar todo mundo igual. A metade da rua está feita, e a outra metade na mesma quadra, não. Eu acho injusto isso, porque, na época da chuva, a gente não aguenta o fedor, na época do frio é a mesma coisa”, comenta Jane.
Ao Correio do Estado, as moradoras do Aero Rancho relataram que constantemente precisam limpar as fossas, o que não custa menos que R$ 200, podendo chegar até R$ 350.
Além disso, elas também têm problemas recorrentes de saúde, como infecção urinária, e acreditam que é em razão do retorno da água suja do vaso sanitário e do ralo, o que acontece sempre.
A responsável pela rede de esgoto em Campo Grande é a Águas Guariroba. Ao ser questionada sobre a cobertura de esgotamento sanitário na Capital, a empresa afirmou que 81,24% da região já tem tratamento de esgoto.
Segundo a concessionária, nos últimos dois anos, foram executados mais de 6 mil metros de redes de esgoto, beneficiando mais de 300 famílias no bairro.
Por meio de nota, a Águas Guariroba informa, ainda, que realiza obras de implantação de rede de esgoto seguindo o cronograma de ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Desenvolvimento e que o trabalho de cobertura acontece mediante a autorização da prefeitura.
Já a Prefeitura de Campo Grande disse apenas que a reportagem deveria tratar com a empresa as questões sobre a cobertura de esgoto do bairro. Sendo assim, moradoras como Jaqueline Lima Nunes e Jane Mendes continuam sem respostas de quando o tratamento de esgoto chegará até suas casas.
DOR DE CABEÇA
Mesmo em vias em que há o tratamento de esgoto, como a Avenida Rachel de Queiroz, a rede é uma dor de cabeça para os moradores.
Apesar de ser uma das principais vias do Bairro Aero Rancho, após as chuvas, é comum que os bueiros comecem a transbordar, exalando forte odor, o que atrapalha comerciantes e moradores.
A situação ocorreu nesta terça-feira, no cruzamento da Avenida Rachel de Queiroz com a Rua Iemanjá. E, de acordo com a comerciante e moradora Mari Bragança, o transtorno é recorrente.
“Quando chove, tudo sai pela tampa do bueiro. A rede entope e extravasa. Eu já liguei [para a Águas Guariroba], bem como outros vizinhos, e nada foi resolvido. Você fica ligando por diversas vezes, não resolvem nada e logo vão embora daqui. Esses dias estava lá em baixo, na mesma rua, outro bueiro também soltando esgoto na avenida aqui”, relata a comerciante.
A moradora vive em uma das ruas que não têm cobertura sanitária e fez a ligação com o esgoto que passa por sua loja por conta própria. “Na minha casa, tive de fazer o encanamento todinho para sair no ponto ali”, informa Mari Bragança.
O transtorno de extravasamento de esgoto na Avenida Rachel de Queiroz começou na noite da segunda-feira e se estendeu até a noite de terça-feira, quando a empresa resolveu o entupimento.
O também comerciante e morador Dirceu Lopes afirma que a equipe da concessionária esteve no local há poucos dias.
“Esses dias o caminhão veio para limpar e voltou, dizendo que estava tudo certo”, comenta Lopes. Durante as chuvas de ontem, o bueiro voltou a transbordar, mas parou com o fim das precipitações.
A Águas Guariroba informou através de nota, que as recorrências no local são devido às ligações irregulares na rede de esgoto.
"Isso acontece quando conectam uma rede de drenagem na rede de esgoto. Com a chuva, a água acaba sobrecarregando a rede de esgoto, que não foi desenvolvida para comportar esse montante de água, por isso acaba ocorrendo os extravassamentos, obstruções de esgoto, durante o período de chuva. É por consequência do mal uso", informou a empresa.