Os 12,3 milhões de brasileiros que vivem em favelas serão responsáveis por um movimento esperado de US$ 19,5 bilhões em 2015, ano de contração econômica, aponta pesquisa do instituto Data Popular.
Levantamento feito entre 1° e 11 de setembro com 2.500 pessoas de 120 favelas em todo o país mostrou que o impacto do acesso à tecnologia na renda de um morador é o mesmo que o de um ano escolar.
O levantamento isolou variáveis como escolaridade, gênero, cor da pele, região do país e idade e fez uma média que mostrou que a internet permitiu ganhos 15,78% maiores, mesmo resultado aferido para um ano de escola.
A pesquisa tem uma margem de erro de 1,8% para cima e para baixo.
Nas favelas, 89% dos internautas acreditam que a rede pode ajudá-los a ganhar mais dinheiro. Mais da metade das pessoas (57%) já utilizaram a rede para aumentar a sua renda de alguma forma -seja para conseguir um emprego, vender algo ou outras atividades.
A internet é acessada, sobretudo, por 3G e wi-fi compartilhado.
Dois terços dos moradores de favelas são negros e 53% já passaram fome, ou seja, não tiveram dinheiro para comprar comida ao menos uma vez na vida, segundo o instituto. Além disso, são lugares onde as mulheres têm mais influência: 44% dos lares são chefiados por elas, ante 37% na média nacional.
Segundo Renato Meirelles, presidente do Data Popular, a conexão de moradores de favela à internet é maior (59%) do que no resto do país (54%).
O que explica, em parte, a estatística é o fato de que 89% das 3.500 favelas com mais de dez habitantes ficam em regiões metropolitanas, enquanto 15% da população nacional mora em zona rural.
REAÇÃO À CRISE
Esse mercado consumidor tem reagido ativamente à crise na economia brasileira, sobretudo devido ao empreendedorismo, diz Meirelles. "De um lado, são pessoas que sofrem preconceito, mas, de outro, acham que a vida melhorou devido ao próprio esforço", diz o pesquisador.
Aproximadamente 800 mil pessoas pretendem viajar para o exterior em 2015, a despeito das adversidades, apontou o levantamento.
Meirelles apresentou os dados nesta sexta-feira (18) na ONU, durante o lançamento da filial da Cufa (Central Única das Favelas) em Nova York. "Hoje mais um país está representado nas Nações Unidas", contou o pesquisador em referência ao nome de seu livro "Um País Chamado Favela", em coautoria com Celso Athayde, fundador da Cufa.
A pesquisa será concluída e tornada pública em outubro.
"Ou você radicaliza a democratização da internet ou o Brasil vai ficar para trás", afirma Meirelles.
FACEBOOK
Facebook e Cufa lançarão parceria em outubro para ampliar o projeto piloto da rede social em Heliópolis, que ensina comerciantes locais a usar a sua plataforma para aumentar a lucratividade.
No novo projeto, o curso será dado na sede da Cufa, em Madureira (Rio de Janeiro), para moradores de favelas do país todo replicarem os conceitos em suas comunidades.