Silvia Tada | enviada especial a Maracaju
Hup Holland Hup! As palavras entusiasmadas de “Viva” marcaram a festa da vitória da Holanda sobre o Brasil, ontem, em uma residência do Bairro Alto Maracaju, em Maracaju, município a 160 quilômetros de Campo Grande. Das 30 famílias imigrantes e descendentes, que formam a maior colônia de holandeses em Mato Grosso do Sul, representantes de três delas – os Bouwman, os Knibbe e os Spekken – assistiram à partida juntos e vibraram com a classificação do time europeu para a semifinal.
De acordo com Gerrit Hendrik Bouwman, de 64 anos, conhecido como Henrique Holandês, nos quatro primeiro jogos da Laranja Mecânica, não houve mobilização para assistirem juntos à partida. No entanto, como o jogo de ontem era contra o Brasil, decidiram se unir. “Mas, na verdade, qualquer um que ganhar nos deixa feliz. Somos brasileiros, com sangue holandês”, comentou, antes do início da partida. A casa da família Spekken mostrava a paixão dividida: a bandeira do Brasil de um lado e da Holanda, do outro.
Os palpites eram diversos. Para o irmão de Gerrit, Willem Bouwman, de 66 anos o Guilherme Holandês, o jogo seria 2x1, “não sei para quem, mas acho que o Brasil tem mais jogo”. Quando os dois times entraram em campo, todos se acomodaram em frente à televisão e os momentos de tensão se alternaram.
Vestidos a caráter, com roupas laranjas e acessórios como chapéus, plumas e cornetas, o animado grupo viu com resignação Robinho marcar o primeiro e único gol do Brasil. Ainda assim, a esperança de virar o jogo persistia e cada aproximação dos holandeses do gol de Júlio César era acompanhada por palavras de incentivo.
2º tempo
Enquanto cinco holandeses de nascimento assistiam ao jogo na sala, filhos, genros, noras e netos torciam para o Brasil, na varanda da casa e no escritório da família, localizado do outro lado da rua. “Estou com a camisa da Holanda, mas torço para o Brasil. Coloquei verde nos pés, nos brincos”, afirmou Juliana Spekken, nora de Carla e Simon Spekken. O pequeno Lucas, de 1 ano e três meses, neto de holandesa e de francês, exibia uma camiseta laranja e uma bandana nas cores verde e amarelo.
A alegria tomou conta dos pais com o primeiro gol da Holanda. “Agora o jogo fica bom, mais equilibrado”, comentou Carla Spekken. Minutos depois, a vibração foi ainda maior com o gol de Sneijder. Tensos, acompanharam o fim da partida. “Faltam oito minutos....”, dizia Guilherme, em contagem regressiva para o apito final. “Será que o juiz vai dar acréscimo?”, completava. Com alívio e alegria, viram a seleção holandesa eliminar o Brasil.
Apesar da torcida contrária, os maracajuenses holandeses afirmaram que a convivência com os brasileiros é pacífica. “Não há provocações. Todas as copas, penduro a bandeira do Brasil, a da Holanda e da França, já que meu marido era francês. Todos os vizinhos estão acostumados. Cada um que vai sendo eliminado, retiro o pavilhão”, contou Adriana Knibbe, de 62 anos. Hoje, na casa da orgulhosa holandesa, tremula apenas a bandeira nas cores vermelha, branca e azul.