Cidades

CAIOBÁ

"Eu consegui salvar minha mãe?" pergunta órfão de feminicídio após morte de Brenda

Criança de apenas sete anos, que já tinha perdido o pai para Covid, viu genitora ser morta pelo padrasto em Campo Grande

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Sendo o 4º femicídio consumo em Campo Grande neste ano, a morte de Brenda Possidonio de Oliveira - pelas mãos de Lyennan Camargo de Mattos Oliveira -, aconteceu na frente do filho da jovem de 25 anos, que ao ser socorrido pelos moradores próximos após o crime, perguntava o tempo todo: "eu consegui salvar minha mãe?". 

Esse crime aconteceu por volta de 23h da última quinta-feira (29) e, na manhã de hoje (30), durante coletiva na Del. Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), as delegadas Elaine Cristina Ishiki Benicasa e Analu Lacerda Ferraz esclareceram alguns pontos desse caso. 

Analu frisa que no momento ainda está sendo feito o levantamento de informações, com testemunhas sendo ouvidas, como uma das vizinhas que estava em casa quando ouviu a criança gritando "socorro, socorro, vão matar minha mãe". 

A delegada esclarece que essa testemunha se deparou com a jovem já ensanguentada na calçada, e a mulher chegou a tentar estancar o sangramento da vítima, além de acolher a criança. 

"Ela não tem boletim de ocorrência contra ele e a vizinha disse que nem chegou a ouvir dicussão e que a Brenda tinha mudado para essa casa havia pouco mais de 4 meses. Via os dois juntos esporadicamente, mas não acompanhava o relacionamento dos dois".

Conforme abordado pelo Correio do Estado, Lyennan encontra-se sob escolta na Santa Casa, pois o suspeito chegou a tomar um vidro de Clonazepan na intenção de tirar a própria vida, sendo socorrido por familiares. 

Relacionamento insuspeito

Apesar de acumular boletins de ocorrência por furto e roubo, além de um de violência doméstica contra a mãe a mãe do próprio filho em 2017, as delegadas destacam que Brenda ainda não teria registrado qualquer denúncia contra o autor do crime. 

Analu também comenta o suspeito chegou a confessar o crime para a mãe da jovem, dizendo que amava Brenda mas que discutiram por ciúmes, o que levou ao crime. Em uma mensagem para um vizinho ele ainda disse que a jovem tentou matá-lo, com uma faca. 

"Mas na verdade ela tinha uma de serra extremamente pequena, e ele com outra totalmente desproporcional... e a força física dele é infinitamente superior. Se a intenção dele fosse evitar um mal injusto e grave em legítima defesa, teria conseguido dominá-la e tomar a faca. 

Ela faz questão de ressaltar ser muito cedo para dizer se o crime foi premeditado, e as investigações que vão encaminhar apurações do que aconteceu, se ele saiu de casa para matá-la ou qualquer outra situação.  

Apesar das alegações de legítima defesa, as delegadas revelam que no local do crime há resquício de briga, com tufos de cabelo dela espalhados, e na mão de Brenda haviam cabelos do autor, além de lesões e marcas de defesa no corpo da jovem. 

Além disso, marcas de murros estavam espalhadas nas portas e paredes, sendo que, inicialmente, Lyennan responderá por feminicídio praticado na presença de descendente.

Situação da criança

Essa criança ainda prestará depoimento especial na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), sendo que, por estar no local no momento do crime, será encarregada de ambientar o feminicídio da própria mãe.

"A vizinha disse em depoimento que, a criança foi colocada dentro da casa dela para não saber o que estava acontecendo, mas perguntava o tempo todo, 'eu consegui salvar minha mãe?', 'tia, quando pedi socorro a minha mãe se salvou?'",  expõe Benicasa. 

Também, a delegada esclarece que essa criança já está sem o pai, que faleceu vítima de Covid e, agora, por um ato brutal perdeu também a mãe, que achou que tivesse conseguido salvar quando saiu pedindo por socorro para todos os vizinhos. 

"A criança saiu batendo nos portões de todos os vizinhos, pedindo 'socorro, salva a minha mãe', mas não conseguiu", frisa Benicasa. 

A delegada ressalta a tristeza da criança, que perdeu o pai e agora a mãe, além de presenciar o crime e ver o autor do feminicídio "escapar" sem prestar socorro à vítima.

"Falando para o autor ali na calçada enquanto a mãe morria ensanguentada, você matou a minha mãe. Tenho certeza que nenhuma das mulheres que nos assistem, que tem filhos, querem passar por essa situação", diz Benicasa. 

Elaine aponta para a queda no número de feminicídios, mas destaca a importância do aumento no número de registros de boletins de ocorrência, por indicar um número cada vez maior de mulheres denunciando suas situações de violência. 

Mesmo assim ela aproveita da situação para salientar que essa trata-se de mais uma vítima que não possuía boletim de ocorrência ou medida protetiva. 

"É sempre importante chamar as mulheres vítimas de qualquer tipo de violência ao registro da ocorrência Quase que em 100% dos feminicídios elas não possuem registro de ocorrência e em 100% dos feminicídios a gente consegue perceber que há um relacionamento abusivo por detrás deles", chama atenção a delegada. 

Ela conclui dizendo que qualquer sinal de violência precisa ser noticiado à polícia ou qualquer órgão da rede de proteção, uma vez que dos quatro feminicídios praticados em 2023 na Capital, apenas um possuía medida protetiva e B.O.

 

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SEGURANÇA

Violência contra jornalistas será monitorada em observatório

Além de monitorar e criar banco de dados de ocorrências desse tipo, o Observatório da Violência Contra Jornalistas servirá também de canal de diálogo entre profissionais da área e o Estado

08/02/2025 20h00

"A criação do observatório representa um olhar do Estado brasileiro sobre a garantia do direito humano que é o de acesso à informação", cita presidente da Fenaj Reprodução

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Mais recente jornalismo ganha uma ferramenta que, caso atinja seus objetivos, resultará em garantias para o bom exercício da profissão, em especial nas situações de violência contra aqueles que cumprem seu papel de informar.

Além de monitorar e criar um banco de dados de ocorrências desse tipo, o Observatório da Violência Contra Jornalistas servirá também de canal de diálogo entre profissionais da área e o Estado, visando, inclusive, a elaboração de políticas públicas específicas e apoio a investigações.

As diretrizes, composição, organização e funcionamento do observatório estão previstas na Portaria nº 116/2025, publicada esta semana pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, no Diário Oficial da União.

De acordo com a Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), órgão do MJ ao qual o observatório está vinculado, ele terá, entre seus objetivos, monitorar ocorrências, sugerir políticas públicas, apoiar investigações e criar um banco de dados com indicadores sobre os casos.

O observatório será composto por representantes de diversas secretarias da pasta, bem como por 15 membros da sociedade civil com atuação comprovada na defesa da liberdade de imprensa e no combate à violência contra comunicadores.

Fenaj

Entre as entidades que participaram dos debates visando sua criação está a Federação Nacional dos Jornalistas ( Fenaj). Segundo a presidente da entidade, Samira de Castro, a exemplo do Conselho Federal de Jornalistas, essa é também uma demanda antiga da categoria.

“Desde o primeiro momento, o observatório era demanda da sociedade civil ligada ao campo do jornalismo. A situação se agravou muito durante os quatro anos do governo Bolsonaro, culminando nos atos de 8 de janeiro. Foi quando levamos uma proposta inicial ao então ministro da Justiça Flávio Dino”, explica a presidente da Fenaj.

Segundo Samira de Castro, durante a gestão à frente do MJ, Flávio Dino deu início à estruturação do observatório. “No entanto, com a sua saída para o STF [Supremo Tribunal Federal], tivemos de partir as discussões praticamente do zero com a nova equipe ministerial”.

Entre as contribuições iniciais feitas pela sociedade civil, estão a elaboração do regimento interno do observatório e a composição de seu conselho.

Olhar do Estado

“A criação do observatório representa um olhar do Estado brasileiro sobre a garantia do direito humano que é o de acesso à informação. Nunca houve um mecanismo desse tipo, com olhar voltado especificamente não apenas para jornalistas, mas para comunicadores e pessoas que garantem direito de acesso à informação a suas comunidades”, explicou Samira à Agência Brasil.

A entrada do Estado nessa causa, segundo a jornalista, é um fato muito importante, inclusive para lidar com questões burocráticas da profissão, quando se torna necessário o enfrentamento à violência praticada contra jornalistas.

“Diversas entidades ligadas ao jornalismo, inclusive o Repórteres sem Fronteiras e a própria Fenaj, fazem acompanhamentos sobre a violência que é praticada contra jornalistas. Nossos relatórios, no entanto, não têm papel nem peso do Estado. Essa construção com a sociedade civil é um grande diferencial”.

Políticas públicas

Ela ressalta a possibilidade de, a partir das denúncias levadas ao observatório, se construir políticas públicas voltadas especificamente aos jornalistas, de forma a garantir que exerçam, da melhor forma, a profissão em suas especificidades.

Para Samira, é também importante para a proteção dos chamados comunicadores populares, que atuam em áreas não diretamente ligadas a direitos humanos, mas que também sofrem ameaças.

“É o caso, por exemplo, de repórteres que cobrem políticas locais no interior do país. Antes, essa proteção estava restrita àqueles que trabalhavam diretamente na área de direitos humanos”.

De acordo com a dirigente da Fenaj, os grupos formados no âmbito do observatório ficarão atentos também “à confusão causada por influenciadores e os pseudojornalistas”, referindo-se a pessoas que, sem estudo adequado e sem diploma em jornalismo, reivindicam, para si, a profissão.

“Isso se intensificou após o STF considerar desnecessária a formação acadêmica em jornalismo. A Fenaj sempre defendeu a profissionalização, claro que dando atenção também aos comunicadores populares, quando produzem material próximo ao jornalismo, ajudando sua comunidade a ter acesso a informações relevantes”, acrescentou.

Para a Fenaj, a retirada da obrigatoriedade de diploma acadêmico para o exercício da profissão tem influência direta na banalização de uma atividade profissional necessária e estratégica para a sociedade.

Ela lembra que o próprio presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, tem declarado que o Brasil nunca precisou tanto de uma imprensa qualificada, e que essa constatação veio após o próprio STF ter retirado o critério mínimo para o exercício da profissão.

“Precisamos retomar essa discussão urgentemente, em meio a tantos perfis de redes sociais que se autointitulam jornalistas, emitindo a todo momento todo tipo de opiniões desqualificadas”, argumentou.

A presidente da Fenaj explica que, para atuarem no gênero opinativo, os jornalistas precisam estar minimamente embasados, ouvindo especialistas, não podendo se guiar pelo senso comum nem pelos achismos.

“Outros atores não se atêm nem mesmo à realidade do fato para emitir opinião. Opinam sem embasamento sobre questões que são importantes para a sociedade. Vidas podem ser colocadas em risco também por conta disso. Sem falar nas práticas criminosas cometidas por eles, quando pregam intolerância religiosa, racismo, LGBTfobia”, disse.

Fato jurídico

Diante desse cenário, a Fenaj tem buscado se aproximar dos ministros do STF, a fim de viabilizar um reposicionamento sobre a questão do diploma.

“Na época em que a suprema corte tomou a decisão, não havia plataformas de redes sociais com tamanho alcance e influência. Esse é um fato novo que, por si, justifica a retomada e a revisão do julgamento”, argumentou.

“Vivemos atualmente um cenário extremamente contaminado onde praticam o que chamo de pseudojornalismo. O observatório terá critérios objetivos de atuação em relação a esse tipo de situação também, mas com base em referências da academia, que também vai compor grupos de trabalho do observatório”, acrescentou a dirigente referindo-se aos integrantes do observatório, que terá, em sua composição, conselheiros públicos, sociedade civil e por representantes de ministérios como Justiça, Direitos Humanos, Igualdade Racial e Mulheres.

 

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BRASIL

STF dá 10 dias para governo explicar aumento de malária no território Yanomami

Dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde aponta aumento de 27% nos casos registrados entre os anos de 2023 e 2024

08/02/2025 19h00

a Apib relatou que as ocorrências de desnutrição e infecção respiratórias agudas também estão em

a Apib relatou que as ocorrências de desnutrição e infecção respiratórias agudas também estão em "constante crescimento". Fernando Frazão/ Agência Brasil

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Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso deu 10 dias para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) explicar o aumento de casos notificados de malária na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

A decisão foi proferida na quinta-feira, 6, e o prazo termina no próximo dia 16. O Estadão procurou o Ministério da Saúde e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), mas não obteve retorno.

Barroso cobrou respostas do governo após a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apontar, em uma manifestação enviada ao STF no último dia 24, que os casos de malária aumentaram em 27% entre os anos de 2023 e 2024, de acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

Além disso, a Apib relatou que as ocorrências de desnutrição e infecção respiratórias agudas também estão em "constante crescimento".

"Embora o boletim indique que o aumento de casos notificados esteja relacionado ao aumento da cobertura de serviços de saúde, é estarrecedor que, após pelo menos dois anos de conhecimento público sobre a situação, sejam registrados, em um período de seis meses, 18.310 casos (dezoito mil trezentos e dez casos) em um conjunto populacional de 32.012 (trinta e dois mil e doze) indígenas, o que representa mais da metade da população possivelmente contaminada", disse a Apib na manifestação.

A entidade também acusa a pasta chefiada por Nísia Trindade de falta de transparência sobre a emergência. Segundo a Apib, os informes de saúde sobre o território Yanomami tinham periodicidade semanal até setembro de 2023 e, após isso, passaram a ser mensais e finalmente semestrais a partir de agosto do ano passado.

Em julho, o Estadão mostrou que o Ministério da Saúde parou de divulgar boletins com dados sobre número de mortes e incidência de doenças e desnutrição na Terra Indígena Yanomami. O governo também deixou de responder os pedidos sobre a situação na região apresentados via Lei de Acesso à Informação (LAI).

"É primeiro necessário observar a falha do Ministério da Saúde em prover transparência adequada às ações empregadas para combater a emergência de saúde na Terra Indígena Yanomami, uma vez que a ausência de periodicidade nas informações públicas, bem como o longo período no qual são elaboradas, denota uma ausência de compromisso com o repasse de informações adequadas para que se possa realizar um balanço das informações apresentadas", disse a Apib.

Um dos primeiros gestos do mandato de Lula foi decretar, em janeiro de 2023, estado de emergência na Terra Indígena Yanomami após altos índices de morte, justamente por malária e desnutrição.

O Executivo realizou operações para a retirada de garimpeiros e reabriu seis dos sete polos-base existentes no território. Mesmo assim, no início do ano passado, o Planalto reconheceu que as ações não deram conta de sanar a crise.

Em março do ano passado, o governo liberou R$ 1 bilhão em crédito extraordinário para as ações contra o garimpo ilegal e o provimento de atendimento médico.

Na manifestação enviada ao STF, a Apib afirma que, apesar do valor significativo enviado pelo Executivo, as verbas não foram suficiente para reverter os quadros de óbitos.

 

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