Sendo o 4º femicídio consumo em Campo Grande neste ano, a morte de Brenda Possidonio de Oliveira - pelas mãos de Lyennan Camargo de Mattos Oliveira -, aconteceu na frente do filho da jovem de 25 anos, que ao ser socorrido pelos moradores próximos após o crime, perguntava o tempo todo: "eu consegui salvar minha mãe?".
Esse crime aconteceu por volta de 23h da última quinta-feira (29) e, na manhã de hoje (30), durante coletiva na Del. Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), as delegadas Elaine Cristina Ishiki Benicasa e Analu Lacerda Ferraz esclareceram alguns pontos desse caso.
Analu frisa que no momento ainda está sendo feito o levantamento de informações, com testemunhas sendo ouvidas, como uma das vizinhas que estava em casa quando ouviu a criança gritando "socorro, socorro, vão matar minha mãe".
A delegada esclarece que essa testemunha se deparou com a jovem já ensanguentada na calçada, e a mulher chegou a tentar estancar o sangramento da vítima, além de acolher a criança.
"Ela não tem boletim de ocorrência contra ele e a vizinha disse que nem chegou a ouvir dicussão e que a Brenda tinha mudado para essa casa havia pouco mais de 4 meses. Via os dois juntos esporadicamente, mas não acompanhava o relacionamento dos dois".
Conforme abordado pelo Correio do Estado, Lyennan encontra-se sob escolta na Santa Casa, pois o suspeito chegou a tomar um vidro de Clonazepan na intenção de tirar a própria vida, sendo socorrido por familiares.
Relacionamento insuspeito
Apesar de acumular boletins de ocorrência por furto e roubo, além de um de violência doméstica contra a mãe a mãe do próprio filho em 2017, as delegadas destacam que Brenda ainda não teria registrado qualquer denúncia contra o autor do crime.
Analu também comenta o suspeito chegou a confessar o crime para a mãe da jovem, dizendo que amava Brenda mas que discutiram por ciúmes, o que levou ao crime. Em uma mensagem para um vizinho ele ainda disse que a jovem tentou matá-lo, com uma faca.
"Mas na verdade ela tinha uma de serra extremamente pequena, e ele com outra totalmente desproporcional... e a força física dele é infinitamente superior. Se a intenção dele fosse evitar um mal injusto e grave em legítima defesa, teria conseguido dominá-la e tomar a faca.
Ela faz questão de ressaltar ser muito cedo para dizer se o crime foi premeditado, e as investigações que vão encaminhar apurações do que aconteceu, se ele saiu de casa para matá-la ou qualquer outra situação.
Apesar das alegações de legítima defesa, as delegadas revelam que no local do crime há resquício de briga, com tufos de cabelo dela espalhados, e na mão de Brenda haviam cabelos do autor, além de lesões e marcas de defesa no corpo da jovem.
Além disso, marcas de murros estavam espalhadas nas portas e paredes, sendo que, inicialmente, Lyennan responderá por feminicídio praticado na presença de descendente.
Situação da criança
Essa criança ainda prestará depoimento especial na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), sendo que, por estar no local no momento do crime, será encarregada de ambientar o feminicídio da própria mãe.
"A vizinha disse em depoimento que, a criança foi colocada dentro da casa dela para não saber o que estava acontecendo, mas perguntava o tempo todo, 'eu consegui salvar minha mãe?', 'tia, quando pedi socorro a minha mãe se salvou?'", expõe Benicasa.
Também, a delegada esclarece que essa criança já está sem o pai, que faleceu vítima de Covid e, agora, por um ato brutal perdeu também a mãe, que achou que tivesse conseguido salvar quando saiu pedindo por socorro para todos os vizinhos.
"A criança saiu batendo nos portões de todos os vizinhos, pedindo 'socorro, salva a minha mãe', mas não conseguiu", frisa Benicasa.
A delegada ressalta a tristeza da criança, que perdeu o pai e agora a mãe, além de presenciar o crime e ver o autor do feminicídio "escapar" sem prestar socorro à vítima.
"Falando para o autor ali na calçada enquanto a mãe morria ensanguentada, você matou a minha mãe. Tenho certeza que nenhuma das mulheres que nos assistem, que tem filhos, querem passar por essa situação", diz Benicasa.
Elaine aponta para a queda no número de feminicídios, mas destaca a importância do aumento no número de registros de boletins de ocorrência, por indicar um número cada vez maior de mulheres denunciando suas situações de violência.
Mesmo assim ela aproveita da situação para salientar que essa trata-se de mais uma vítima que não possuía boletim de ocorrência ou medida protetiva.
"É sempre importante chamar as mulheres vítimas de qualquer tipo de violência ao registro da ocorrência Quase que em 100% dos feminicídios elas não possuem registro de ocorrência e em 100% dos feminicídios a gente consegue perceber que há um relacionamento abusivo por detrás deles", chama atenção a delegada.
Ela conclui dizendo que qualquer sinal de violência precisa ser noticiado à polícia ou qualquer órgão da rede de proteção, uma vez que dos quatro feminicídios praticados em 2023 na Capital, apenas um possuía medida protetiva e B.O.