Jamil Name e Jamil Name Filho, apontados desde o ano passado como chefes de uma milícia armada e que respondem por vários crimes, como corrupção, lavagem de dinheiro e assassinatos, foram alvos de mais uma fase da Operação Omertà. Desta vez, pai e filho são suspeitos de praticar extorsão armada, agiotagem e também lavagem dinheiro oriundo destes crimes, com a compra de carros de luxo – dois veículos da BMW – e de imóveis, sendo uma casa no Bairro Monte Líbano.
Os vários atos de extorsão praticados por Jamil Name Filho contra o empresário José Carlos de Oliveira, que alega ter perdido mais de R$ 6 milhões por meio da cobrança de juros extorsivos, são a base desta fase da Operação Omertà, que recebeu o nome de Snowball, uma alusão à bola de neve em que se transforma em uma dívida originária em relações extorsivas e com características de agiotagem, com o pagamento de juros que chegavam a 30% ao mês.
CARROS DE LUXO
O pedido de um empréstimo no valor de R$ 150 mil, que José Carlos de Oliveira fez a Jamil Name Filho no início desta década, transformou-se, segundo o inquérito do Garras, em uma sucessão de ameaças à vítima, na entrega de dezenas de folhas cheques em branco a Jamil Name Filho e no uso deles para o pagamento de dois veículos BMW: um esportivo modelo M6 Gran Coupé, que custou R$ 515 mil na concessionária Raviera Motors, e um sedan esportivo modelo M5, cuja nota fiscal apresenta um valor de R$ 480 mil.
Parte do pagamento destes carros foi feita com cheques de José Carlos de Oliveira e de sua empresa, a Macroinvest. Em depoimento prestado em novembro do ano passado ao Garras, representante da Raviera Motors confirmou que Jamil Name Filho negociou os dois carros e que usou os cheques, sob investigação, no pagamento dos automóveis.
O gerente da empresa na época também disse que todos os carros eram negociados por Jamil Name Filho, mas registrados no nome do pai dele. O funcionário da concessionária não soube explicar o motivo.
DRAMA
José Carlos de Oliveira conta que, além da compensação dos cheques que ele era obrigado a entregar para Jamil Name Filho mediante extorsão, perdeu para a família um terreno na Avenida Guaicurus, que segundo ele vale R$ 3 milhões, e sua casa, no Bairro Monte Líbano, que no mercado era avaliada em R$ 1,2 milhão. A casa foi entregue aos Name por R$ 850 mil.
Jamil Name Filho, porém, não pagou os empréstimos para quitar o saldo devedor de aproximadamente R$ 100 mil que restou da operação de hipoteca, depois de dois leilões, que ninguém quis arrematar, o Banco Santander a adjudicou.
“Nesses cinco anos eu não consegui trabalhar, a minha empresa, que prestava serviços, perdeu faturamento, que chegava a R$ 1 milhão por ano”, contou Oliveira.
Emocionado, José Carlos de Oliveira contou que o maior prejuízo causado por Jamil Name Filho e pelo restante do grupo investigado pelo Garras não tem como ser ressarcido. “Meu grande prejuízo foi a minha paz e a minha saúde. Ela foi totalmente detonada. Eu não tenho nem sequer a verdade nem a razão de viver [...]. só queria tentar deitar e dormir sem tomar psicotrópico”, conta o empresário, ressaltando que desde que perdeu tudo o que tinha mora de favor e sobrevive graças à ajuda de amigos.
“São eles que emprestam o cartão de crédito para eu fazer compras no supermercado e que ajudam a pagar o boleto da escola da minha filha”, exemplifica José Carlos de Oliveira.
OPERAÇÃO
Além de pai e filho, apontados como os chefões da milícia armada, também foram alvos desta operação: o motorista Juanil Miranda Lima, que está foragido há mais de 1 ano desde seu primeiro mandado de prisão; o guarda municipal Euzébio Araújo de Jesus, o “Nego Bel”, que também está preso, assim como os Name e Benevides Pereira, que voltou à prisão.
O vereador Ademir Santana (PSDB) também é um dos alvos da operação, mas contra ele só existiram mandados de busca e apreensão em três imóveis. Os policiais do Grupo Armado de Repressão a Assaltos e Sequestros (Garras), que comandam a investigação, chegaram a pedir a prisão do parlamentar municipal, mas a Justiça não autorizou.
ORIGEM
Foi na casa que já pertenceu a José Carlos de Oliveira, localizada na Rua José Luiz Pereira, no Bairro Monte Líbano, em Campo Grande, onde tudo começou. Nesta residência, em 14 de maio do ano passado, que os policiais do Garras apreenderam um arsenal que estava escondido dentro de um baú, cuja chave estava com o guarda municipal Marcelo Rios, preso desde então.
Dentro do baú havia nada menos que seis fuzis, entre os quais dois do modelo AK-47, dezenas de pistolas, milhares de munições e também espingardas de alto poder de destruição.
Passados quatro meses desta apreensão, no fim de setembro de 2019, os policiais do Garras e promotores do Grupo de Atuação Especial na Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) prenderam Jamil Name, Jamil Name Filho e mais de uma dezena de policiais, entre civis, federais e, sobretudo, guardas municipais. Todos eram considerados seguranças, gerentes ou pistoleiros do grupo supostamente comandado por Jamil Name Filho e o pai.
De lá para cá, foram desencadeadas mais quatro fases da Operação Omertà e nelas houve ações contra planos supostamente arquitetados pela quadrilha para matar o titular do Garras, delegado Fábio Peró, um promotor de Justiça e um defensor público. Até mesmo o conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, Jerson Domingos, chegou a ficar detido por aproximadamente 24 horas, em uma das fases da operação.
Jamil Name, Jamil Name Filho, dois policiais civis, mais o guarda municipal Marcelo Rios estão presos na penitenciária federal de Mossoró (RN).