As forças de segurança da Bolívia estão mobilizadas, inclusive com comunicados emitidos para todas as unidades migratórias do país, incluindo o escritório instalado em Puerto Quijarro, na fronteira com o Brasil, para tentar identificar possível entrada ou saída migratória de Sérgio Luiz de Freitas Filho.
Ele é investigado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) como um dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e, em monitoramento feito pelas autoridades de SP, em 2013, o investigado foi para Corumbá para negociar carregamentos de cocaína. O MPSP suspeita que depois dessa viagem o criminoso pode ter se mantido escondido na Bolívia.
O chefe da facção está com o nome na lista vermelha da Interpol e desde 8 de julho. Houve comunicado para a Bolívia sobre a possibilidade de ele estar vivendo no país vizinho. O homem identificado como uma das lideranças do PCC que segue fora de presídio estaria vivendo em Santa Cruz de la Sierra com documento falso e usando o nome de Sérgio Noronha Filho.
A possibilidade da presença de Sérgio Luiz, conhecido também como “Mijão”, na Bolívia, ganhou repercussão entre as autoridades bolivianas nesta semana, depois da reportagem do Fantástico mostrando que ele viveu em mansões em Santa Cruz de la Sierra. Entre os luxos que o criminoso teve na sua rotina estava o de pagar o aluguel de quase R$ 30 mil por mês em uma das mansões que viveu.
Na segunda-feira, o presidente Luis Arce concedeu entrevista coletiva na Bolívia para posicionar que as forças de segurança do país estão mobilizadas para tentar identificar e prender Sérgio Luiz. Ele ressaltou que vai pedir ajuda ao Brasil para que haja uma investigação conjunta para combater a atuação do PCC em território boliviano.
A atuação da facção no país vizinho, inclusive com a possibilidade de servir de abrigo para foragidos da Justiça, foi apontada como algo negativo para a imagem da Bolívia.
A entrevista foi concedida em La Paz, na Casa Grande del Pueblo, e transmitida on-line.
“Não existe evidência de que haja cartéis em nosso país. Trata-se de emissários que vêm [para atuar] permanentemente, promovendo o negócio [criminoso]. Houve instrução para o Ministério de Governo que investigue e, além disso, faça intercâmbio de informação com a Polícia Federal do Brasil, graças à boa relação com o presidente Lula”, declarou Arce.
Por conta da grande repercussão na Bolívia diante da possibilidade de outra liderança do PCC estar atuando no país, o Ministério Público boliviano reconheceu que não existe processo criminal aberto contra Sérgio Luiz de Freitas Filho nem contra Sérgio Noronha Filho, que seria o nome falso usado pelo criminoso. Também não houve pedido de extradição emitida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O Ministério das Relações Exteriores boliviano foi notificado pelo Ministério Público local para tentar identificar em base de dados locais uma possível documentação que ateste a entrada ou a saída do investigado na Bolívia.
O setor da Interpol na Bolívia está com comunicado para possível prisão de Sérgio Luiz desde o dia 4 de julho deste ano. Depois que houve essa comunicação oficial, uma circular foi emitida para todos os departamentos policiais e setores migratórios sobre o nome do investigado e sua alcunha.
“Essa pessoa não registra entrada e nem saída de nosso país. Por isso, solicitamos à Interpol Brasil informações complementares e o mandado de prisão preventiva para fins de extradição, para que, se ele for encontrado na Bolívia, poderá ser levado a um juiz”, detalhou o promotor-geral do Estado (Fiscal General del Estado), Roger Mariaca Montenegro, durante coletiva concedida ontem.
COMO FUNCIONA
Apesar dos alertas e notificações da Interpol, a fronteira do Brasil com a Bolívia em Corumbá funciona com fluxo contínuo. Há fiscalização da Polícia Federal, que funciona em horário comercial, e em regime 24 horas fica em atuação a Polícia Militar, bem como auditores da Receita Federal.
Ainda assim, as fiscalizações são por amostragem. Estima-se que, por dia, em torno de 1 mil carros transitam na região, o que impede uma abordagem veículo a veículo.
Em 3 julho deste ano, Receita Federal, Exército Brasileiro, Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Militar desenvolveram uma ação conjunta para fechar diferentes acessos irregulares à Bolívia. Um deles estava a menos de 150 metros do Posto Esdras, onde ficam a Polícia Federal e a Receita Federal.
Em fevereiro já tinham sido fechadas nove trilhas clandestinas. Houve também a apreensão de câmeras de vigilância que tinham sido instaladas em árvores para driblar a fiscalização e favorecer contrabandistas e outros criminosos.
Já na Bolívia, só existe um posto de fiscalização na Rodovia Bioceânica, localizado na fronteira. Enquanto isso, ao longo da estrada até Santa Cruz de la Sierra, um percurso de cerca de 600 km, não há postos policiais que funcionem rotineiramente.
EXPULSOS DA BOLÍVIA
Entre janeiro do ano passado e setembro deste ano, investigações das polícias no Brasil e na Bolívia resultaram nas expulsões de Edson Ferreira de Medeiros, Eduardo de Oliveira Silva, Wemerson Pereira da Conceição, Elvis Riola de Andrade (Cantor do PCC), bem como Marcos Roberto de Almeida (Tuta), este último apontado como uma das principais lideranças da facção criminosa PCC e que estava na lista vermelha da Interpol desde 2020. O caso de Tuta ocorreu em maio deste ano.
*SAIBA
Sergio Luiz de Freitas Filho está com o nome na lista vermelha da Interpol e desde 8 de julho deste ano houve comunicado para a Bolívia sobre a possibilidade de ele estar vivendo no país vizinho.


