Para evitar que as plantas aquáticas encubram mais de 25% dos 1,5 mil hectares do lago da hidrelétrica Assis Chateaubriand, mais conhecida como Usina de Mimoso, a Elera Renováveis, empresa que controla a hidrelétrica, está retirando parte das plantas e represou uma parcela delas próximo à foz do Ribeirão Serrote.
Este córrego deságua no Rio Pardo já próximo do local onde está a barragem e por conta disso sua foz também foi transformada em lago. Esta contenção na margem esquerda foi criada para "limitar a dispersão das plantas flutuantes", explica a concessionária que assumiu o controle da hidrelétrica em 2016.
De acordo com a assessoria da empresa a "equipe técnica realizou a remoção mecanizada das macrófitas quando a cobertura vegetal atingiu próximo de 25% do reservatório", mas não informou qual o volume retirado até agora.
Ainda de acordo com a empresa, "o monitoramento é feito semanalmente por meio de imagens de satélite, permitindo acompanhar a evolução da vegetação aquática e orientar as ações de manejo".
Porém, a limpeza ficará mais perceptível somente depois que houver vazão extra de água pelos vertedouros e parte das plantas for levada pela correnteza.
Por enquanto, porém, "ainda não há data definida para o início do vertimento controlado. A empresa está em fase de mobilização dos equipamentos necessários para viabilizar a operação e conduzindo ações de comunicação com as comunidades do entorno, garantindo que todos recebam informações claras e antecipadas sobre o procedimento", informou a assessoria da Alera.
A empresa diz, ainda, que recebeu a notificação para o vertimento extra no último dia 2 de outubro e "que mantém diálogo contínuo com o órgão estadual desde fevereiro, com foco no monitoramento das macrófitas e na busca conjunta por uma solução eficaz e de baixo impacto ambiental".
Indagada sobre um possível elo entre a ativação da fábrica de celulose, em julho com ano passado, com repentina proliferação das plantas aquáticas no lago que existe há 54 anos, a Alera foi evasiva.
"A presença das macrófitas, principalmente as fixas, é natural em sistemas aquáticos e pode trazer benefícios ao ecossistema, como abrigo e alimentação para fauna aquática. O que se observa atualmente na UHE Assis Chateaubriand é o acúmulo significativo de espécies flutuantes, embora ainda dentro dos limites técnicos de controle inferiores a 25%", limitou-se a informar a empresa.
Indagado no mesmo sentido, o secretário estadual de Meio Ambienta, Jaime Verruck , afirmou no último dia 6 que a explicação é a escassez de chuvas e a baixa vazão do Rio Pardo. Além disso, argumentou que situação semelhante ocorre há alguns anos no lago de Jupiá, no Rio Paraná. Aquele lago também recebe os dejetos de uma fábrica de celulose, a Eldorado.
Ele garantiu que os cerca de 180 milhões de litros de esgoto que a Suzano despeja diariamente no Rio Pardo estão dentro dos padrões definidos na legislação e fez questão de enfatizar que a obrigação para fazer o controle das plantas aquáticas é da Elera.
A Elera, gigante do setor de energia, não explicita um possível confronto com a Suzano, gigante da produção de celulose, ou com quem quer que esteja provocando o repentino fenômeno. Mas, a controladora da hidrelétrica não esconde que o excesso de plantas aquáticas flutuantes se transformou em um problema.
"Embora a situação esteja sob controle, o acúmulo de macrófitas flutuantes tem gerado impactos operacionais. Algumas plantas ultrapassam as grades de proteção e alcançam o sistema de captação da usina, exigindo limpezas frequentes nos filtros para garantir o pleno funcionamento das turbinas", informou a assessoria da hidrelétrica.
A usina de Mimoso, que está sob a concessão da Elera até 2029, foi criada em 1971. Segundo fazendeiros e proprietários de casas de campo que ocupam suas margens faz décadas, esta é a primeira vez que o fenômeno ocorre no lago, historicamente utilizado para esportes aquáticos e pescarias, que atualmente estão praticamente suspensos.


